Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto
Resumo da semana:
As tensões entre EUA e China foram elevadas, diminuindo a possibilidade de acordo no curto-prazo. Com o impasse, o valor da soja brasileira no spot passou por reajustes positivos em todas as praças analisadas.
O clima nos EUA também tem sido outro fator chave para a precificação, e com riscos cada vez maiores para o milho, espera-se que as projeções atuais passem por novas correções – o que já se reflete em pressão positiva para as cotações em Chicago.
Além disso, o câmbio certamente chamou a atenção do mercado, buscando o maior patamar em mais de 8 meses, com fechamento na última semana em R$ 4,10
Portanto, a volatilidade foi ampliada, em meio a um cenário político e econômico mais incerto, combinado com a especulação climática em torno da safra dos EUA e pela degradação das negociações sino-americanas.
- Mercado futuro na tela
O contrato para maio/19 do milho foi liquidado na última quarta-feira (15/mai) por R$ 33,37/sc, com os contratos seguintes precificando ágio a cada mês.
Aliás, os futuros continuaram com correções positivas na última semana, indicando que apesar de safra cheia, a queda de preços pode ficar limitada.
A perspectiva de demanda aquecida, os riscos da safra norte-americana e a valorização cambial dão o tom da alta.
E assim, o vencimento para julho/19 (agora o mais curto), subiu 11,4% na última semana, fechando em R$ 34,70/sc. E o contrato para set/19 avançou 13,95% no mesmo período, elevando-se para R$ 35,95/sc.
Os contratos subiram forte na última semana e, graficamente, indicam que podem devolver parte dos ganhos. Além disso, o avanço da colheita pode colaborar para esfriar as cotações em bolsa (especialmente se os rendimentos vierem acima do esperado pelo mercado).
Por outro lado, os dados de exportações semanais e novos atrasos no cinturão agrícola norte-americano, podem continuar gerando pressão positiva aos preços futuros, mesmo com o período de colheita.
Para a soja, anúncios da China foram predominantes para as movimentações em Chicago. Os preços futuros na CBOT iniciaram a semana com quedas de 0,6% pela retaliação chinesa as taxações norte-americana, e encerraram a sexta-feira com novas desvalorizações pelo anúncio de que a China estaria recuando de novas negociações com os EUA no curto prazo.
- Enquanto isso, no físico…
A conjuntura trouxe fatores altistas para as cotações nos últimos dias, com destaque para o fortalecimento dos prêmios, avanço do dólar, e para o clima desfavorável neste início de temporada norte-americano.
Mas voltando para quando o mercado acreditava mais fortemente em um acordo sino-americano, reportou-se menor demanda da China, e as exportações com a soja brasileira caíram 10,6% em abril/19 ante o mês anterior.
Além da Peste Suína Africana na China reduzindo sua necessidade do insumo, operadores chineses desaceleram suas compras acreditando conseguir originar a soja norte-americana com preços menores.
Entretanto, as expectativas de um acordo no curto prazo foram frustradas, e a China reaqueceu as suas negociações com a soja brasileira, pressionando para cima os prêmios nos portos – alcançando os maiores patamares do ano.
Para embarques em julho por Paranaguá, os prêmios enceraram a última semana a US$ 1,05/bushel – alta de 45% na comparação semanal.
Neste cenário de pressão positiva, o indicador da soja em Paranaguá do CEPEA subiu 6,8% nos últimos 7 dias, com a parcial em R$ 78,96/sc, retornando aos níveis registrados há mais de 30 dias.
A variação também ficou positiva em outros estados, a média no MS subiu 1,2% para R$ 63,00/sc (Famasul). Em Rondonópolis/MT, alta semanal de 6,8% para R$ 67,12/sc e em Rio Verde/GO, valorização de 2% no mesmo período, para R$ 67,13/sc (CEPEA).
Com relação a comercialização do milho, os primeiros lotes da safrinha 2018/20 começam a chegar ao mercado, destinando-se principalmente aos confinamentos e as indústrias domésticas (de etanol e de alimentos). Ademais, a disponibilidade ainda baixa mantém os preços com sustentação mais forte.
E as indicações para entrega futura, que vinham se ajustando nas últimas semanas, também se mostram mais firmes, respondendo a perspectiva de maior competição pela matéria-prima.
Neste sentido, espera-se que o setor de proteínas vivas amplie sua produção (reflexo de maior necessidade chinesa neste ano), com a produção de carne suína subindo 3% e de frango ao redor de 2%.
As exportações também devem seguir aquecidas, com potencial de alcançar 32 milhões de toneladas (alta de 33% ante as 24,76 milhões de toneladas embarcadas em 2017/18).
- No mercado externo
O Ministério da Economia divulgou os dados de exportação até a terceira semana de maio, preservando a percepção de mercado externo aquecido.
Para a soja, o Brasil embarcou 6,14 milhões de toneladas, com um desempenho diário de 511,4 mil toneladas, um resultado 6,7% superior ao registrado no mês anterior. Mas na comparação com o mesmo período do ano passado, o ritmo mostra queda de 13,1%, já que em maio/18 o país enviou um média de 588 mil toneladas por dia.
Os preços médios também recuaram, caindo 2,1% na comparação com abril/19 e recuando 13,4% ante maio/18.
Além disso, os embarques com milho somaram 461 mil toneladas, com média diária de 38,5 mil toneladas, um desempenho 89,6% superior em relação ao mês anterior, e avanço de 1.320% na comparação com maio/18, quando a média diária ficou em 2,7 mil toneladas.
- O destaque da semana
As últimas semanas foram recheadas de novas informações, podemos destacar as novas projeções da CONAB e do USDA, a elevação das tensões entre EUA e China, os prêmios nos portos nos maiores patamares do ano, a alta volatilidade para os contratos futuros, além do dólar subindo consistentemente nos últimos dias.
A questão é que nem todos esses fatores impactam com mesma intensidade os diferentes setores da agricultura, e neste sentido, o dólar pode ter efeito mais abrangente.
Portanto, o destaque fica para a elevação de 3,8% para o câmbio, rompendo a barreira de R$ 4,00 e alcançando os maiores patamares desde setembro do ano passado, fechando na última sexta-feira (17/mai) a R$ 4,101.
E ainda, dadas as incertezas políticas e econômicas, o câmbio deverá continuar firme e volátil.
- E o que está no radar…
No radar continua o clima nos Estados Unidos, imprimindo um risco maior para a safra norte-americana.
E até o dia 20 de maio, 49% da área prevista com milho tinha sido semeada, atraso de 31 p.p. ante 80% na média dos últimos 5 anos.
Houve avanço dos trabalhos a campo na última semana, já que a diferença em relação à média dos últimos anos foi reduzida – diminuindo de 36% da semana retrasada, para a diferença atual em 31%.
Mas com o plantio encaminhando-se para o final de maio, a possibilidade de prejuízos pelo clima é maior, e assim, é muito possível que a previsão de colheita em 381,8 milhões de toneladas passe por ajustes negativos ao longo dos próximos meses.