A Marfrig Global Foods, segunda maior agroindústria de carne bovina do mundo, reportou ontem um lucro líquido de R$ 4,3 milhões no primeiro trimestre, o que representa uma expressiva melhora na comparação com o mesmo intervalo do ano passado, quando a companhia teve prejuízo de R$ 202,7 milhões.
O desempenho positivo da Marfrig foi ajudado por um ganho contábil extraordinário de pouco mais de R$ 70 milhões. Na prática, a empresa reportou um “ganho por compra vantajosa” ao adquirir a argentina Quickfood, que era da BRF, por um montante (US$ 54,9 milhões) inferior ao valor contábil dos ativos.
No primeiro trimestre, a alta do dólar impulsionou o faturamento da Marfrig. No período, a receita líquida atingiu R$ 10,1 bilhões, crescimento de 7,6% em relação aos R$ 9,4 bilhões dos três primeiros meses do ano passado.
Operacionalmente, os negócios nos Estados Unidos compensaram o pior desempenho no Brasil. De janeiro a março, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado atingiu R$ 571 milhões, um crescimento de 15,9%. A margem Ebitda ajustada cresceu 0,4 pontos percentuais, para 5,7%.
Nos EUA, onde a Marfrig controla a National Beef – quarto maior frigorífico do país -, o desempenho foi positivo, impulsionado pelo crescimento das exportações e pelos preços mais altos da carne no mercado americano, afirmou ao Valor o vice-presidente de finanças e de relações com investidores, Marco Spada.
Em contrapartida, no Brasil os resultados foram piores, disse o executivo. Devido ao clima mais chuvoso, a qualidade dos pastos melhorou e levou os pecuaristas a segurarem as vendas de gado, argumentou Spada.
Com a arroba do boi gordo mais cara, a rentabilidade das operações da empresa no Brasil foi prejudicada. De fato, o indicador Esalq/B3 para o boi gordo – referência para os preços do animal no país – registrou alta. O preço médio do boi gordo no primeiro trimestre foi de R$ 151,83 por arroba, valorização de 4,3% ante a média do mesmo intervalo do ano passado e de 2,1% em relação ao quarto trimestre de 2018.
Diante desse cenário, o lucro bruto da Marfrig na América do Norte somou US$ 171 milhões (o equivalente a R$ 643,8 milhões), um aumento 18,6% na comparação anual. Por outro lado, o lucro bruto na América do Sul diminuiu em quase 30%, para R$ 279 milhões.
Além do impacto negativo do clima chuvoso, os negócios da Marfrig no Brasil também forem responsáveis pela queima de caixa da empresa no primeiro trimestre. De acordo com Spada, a empresa teve fluxo de caixa negativo de R$ 1,4 bilhão no período. “Mas era esperado”, ponderou. O executivo explica que a decisão tomada pela Marfrig em março de aumentar as exportações elevou também a necessidade de capital de giro, o que afetou a geração de caixa. No entanto, isso deve se reverter ao longo deste ano.
A expectativa de Spada é que, graças à demanda da China – o país sofre com um surto de peste suína africana -, as exportações de carne passem a representar perto de 60% do faturamento da operação brasileira. No primeiro trimestre, as vendas ao exterior a partir do Brasil foram responsáveis por cerca de 40% da receita, conforme o executivo.
A aposta da Marfrig na melhora dos resultados no Brasil e do negócio é tamanha que a empresa divulgou metas (‘guidances’) ambiciosas para o ano. De acordo com Spada, a companhia deve gerar um fluxo de caixa livre entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão em 2019. A projetação é que a receita líquida fique entre R$ 47 bilhões e R$ 49 bilhões neste ano. A margem Ebitda deve encerrar o ano entre 8,7% e 9,5%, bem acima do resultado do primeiro trimestre. “Vamos virar muito”, afirmou o executivo.
Com o melhor desempenho esperado, a Marfrig deve encerrar o ano com um índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) inferior às 2,39 vezes do fim de 2018, disse Spada. No fim de março, esse índice subiu para 2,76 vezes devido à queima de caixa. (Valor)