Uma praga, detectada pela primeira vez na China há cerca de cinco meses, está se espalhando rapidamente e pode prejudicar a produção de cultivos essenciais para o abastecimento de alimentos do país, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês).
Os danos causados pela chamada lagarta do cartucho, que ataca o milho, a soja, o algodão, o arroz e dezenas de outras culturas, podem forçar a China a importar mais milho, arroz ou soja para compensar o déficit de produção. Antes da guerra comercial EUA-China, a China importava cerca de 60% de toda a soja exportada pelo Estados Unidos.
O problema surge num momento em que as autoridades chinesas vêm tentando impulsionar a produção de soja para reduzir a necessidade de importações, posto que a China é o maior importador mundial de soja.
A China produz cerca de 16 milhões de toneladas de soja por ano, mas importa mais de 80 milhões de toneladas por ano da commodity usada comumente para alimentação animal e óleos.
O inseto agora é encontrado em pelo menos seis províncias da China e o risco de se espalhar é visto como alto. Especialistas em proteção de cultivos e afiliados do governo relatam que a praga se espalhou mais rápido que o esperado.
Além disso, o relatório diz que a maioria dos agricultores da China carece de treinamento e recursos financeiros para lidar de maneira eficaz com a lagarta do cartucho, aumentando a probabilidade de que a praga se espalhe por toda a área de produção de grãos do país nos próximos 12 meses.
“Especialistas em proteção de cultivos privados e afiliados ao governo da China relatam que a lagarta do cartucho se espalhou muito mais rápido do que esperavam”, disse o USDA em um relatório divulgado nesta semana.
“Vai ser muito severo até que os programas de gerenciamento estejam prontos”, disse Allen Knutson, entomologista do Texas A&M AgriLife Extension Service em Dallas.
Paralelamente, a China já está lidando com uma crise na suinocultura, uma de suas principais fontes de proteína, colocando Pequim sob maior pressão para responder à lagarta do cartucho. A China registrou pelo menos 129 casos de peste suína africana desde agosto e o Rabobank estima que até 200 milhões de animais poderiam ser afetados, diminuindo a produção em 30%.
Como resultado da peste suína, a China pode precisar aumentar a produção de outras proteínas, incluindo o frango. Além disso, o país asiático pode ser forçado a aumentar as importações de carne suína, inclusive dos EUA, apesar das fortes tarifas retaliatórias impostas por Pequim.
Da mesma forma, qualquer grande perda de colheitas da lagarta do cartucho poderia forçar a China nos próximos anos a procurar importações maiores de milho, soja, arroz e outras commodities vitais. Atualmente, há tarifas de 25% em algumas principais culturas dos EUA que entram na China, incluindo a soja.
As atuais tarifas retaliatórias de Pequim sobre centenas de produtos agrícolas produzidos nos EUA já levaram os chineses a buscar outros fornecedores de produtos agrícolas, incluindo a América do Sul e países europeus. E o plano do presidente Donald Trump de aumentar as tarifas contra quase todas as importações da China poderia levar Pequim a responder com direitos adicionais sobre os produtos agrícolas dos EUA.
A China não é o único país a lidar com a lagarta do cartucho. Knutsen, o entomologista, observou que o inseto voraz já existe em outras partes do mundo, incluindo a América do Norte e a África.
Se a África é alguma indicação, a lagarta do cartucho pode se tornar cara para a China. O USDA disse que desde 2016 a praga “causou grandes prejuízos econômicos em toda a África”.
Nos EUA e México, entretanto, a praga tem sido controlada principalmente com pesticidas químicos, embora os insetos em algumas regiões tenham desenvolvido resistência a muitos inseticidas. Além disso, o inseto é controlado em milho e algodão nos EUA até certo ponto com culturas geneticamente modificadas.
“Oficialmente, as autoridades chinesas empregaram um plano de ação de emergência para monitorar e responder à praga”, disse o USDA em um relatório recente. Segundo ele, a lagarta “não tem predadores naturais na China e sua presença pode resultar em menor produção e qualidade de colheita de milho, arroz, trigo, sorgo, cana-de-açúcar, algodão, soja e amendoim, entre outras culturas”.
A lagarta foi detectada pela primeira vez em janeiro na China e confirmada no mesmo mês pelo Ministério da Agricultura, que afirmou ter sido encontrada na província de Yunnan. O USDA disse acreditar que a lagarta do cartucho entrou na China a partir do vizinho Myanmar. A praga foi encontrada na Índia no ano passado e acredita-se que se espalhou para Bangladesh e Mianmar.