Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto
Resumo da semana:
Na última semana, o mercado de grãos continuou pressionado, com a relação mais confortável entre a oferta e a demanda acomodando as cotações em patamares mais baixos.
Os preços em queda no ambiente externo e a maior oferta doméstica pressionaram as indicações da soja brasileira. Para o milho, observa-se menor liquidez no mercado físico e indicações igualmente menores para as negociações com entrega futura.
Ainda, as exportações com grãos norte-americanos mostraram-se menores, refletindo a menor demanda chinesa. E o clima nos Estados Unidos também continua desafiador neste começo de temporada, ampliando os riscos climáticos.
Já as negociações entre EUA e China, que aconteceram em Pequim na última semana, não mostraram força para alterar a atual dinâmica de preços em Chicago, especialmente pela falta de novas informações claras sobre o avanço das negociações.
E mais recentemente, a ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de ampliar as taxações sobre os produtos chineses abalou os mercados, com temores sobre a guerra sino-americana refletindo em queda para as commodities agrícolas em Chicago e fortalecimento do dólar em cenário de aversão ao risco.
No radar, as atenções continuarão voltadas às novas negociações marcadas para acontecer em Washington e, no ambiente doméstico, atenção à colheita do milho safrinha que deve ganhar fôlego ainda neste mês.
- Mercado futuro na tela
Abril foi marcado por desvalorização dos contratos futuros em Bolsa, com o contrato de maio/19 do trigo em Chicago caindo 8,16% no último mês.
O mesmo vencimento para a soja recuou 6,36% na mesma comparação. Já o milho mostrou queda menos intensa, de “apenas” 0,62% do contrato, motivada pelo clima ainda frio e úmido nos EUA, dificultando a semeadura do cereal por lá.
Na B3, o milho caiu 12,50% ao longo de abril, direcionado pela expressiva oferta da safrinha. Mas vale destacar que todos os vencimentos mostraram correção para cima após o feriado no início de maio.
O fato é que o mercado alcançou suportes mais fortes, sendo em R$ 31,40/sc para o contrato de maio; julho em R$ 30,60/sc; setembro em R$ 31,10/sc e novembro em R$ 33,55/sc. Caso não mostrem sustentação, especialmente com o início da colheita, novos patamares poderão ser alcançados.
- Enquanto isso, no físico…
Assim como na semana anterior, as negociações de balcão continuaram compassadas, atendendo principalmente as necessidades de curto prazo, já que a proximidade da colheita retira a necessidade de compras mais agressivas.
Com a demanda mais fria, as cotações ficam resistentes em passar por reajustes positivos, e na queda de braço de preços, a pressão negativa tem prevalecido.
Além dos ajustes observados em Bolsa, as indicações no balcão também contaram com alívio. Na esteira, as propostas para entrega em data futura também ficaram menores.
No Mato Grosso, por exemplo, as indicações para entrega de milho em julho e pagamento em agosto giram ao redor de R$ 20,00/sc (FOB), com queda ao redor de R$ 1,00/sc na comparação semanal. No balcão, houve reporte de negociação em torno de R$ 27,50 (FOB) na região de Campo Verde.
Em Goiás, o cereal seguiu ao redor de R$ 29,50/sc (balcão) na última semana. E as negociações antecipadas para entrega em julho e pagamento no mês seguinte, ficam em torno de R$ 23,00/sc.
- No mercado externo
O Ministério da Economia divulgou na última quinta-feira (02/mai) os dados fechados das exportações de abril.
E o país embarcou 10,05 milhões de toneladas de soja em grão, com ritmo diário de 478,7 mil toneladas. Em relação ao mês anterior, o volume subiu 10,64%, mas o desempenho caiu 2% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Mas há de se destacar que em abril de 2018, as importações chinesas da soja brasileira já estavam aquecidas pela disputa comercial sino-americana. Além disso, a quebra da temporada da Argentina naquele ano, colocou o Brasil em posição privilegiada no mercado internacional.
E ainda, as exportações brasileiras podem ser negativamente impactadas no curto prazo por um acordo entre EUA e China. Já no médio/longo prazo, a peste suína africana deve esfriar a demanda asiática pelo grão.
Os embarques com o milho somaram 426 mil toneladas em abril, com ampliação de 270% do volume embarcado ante o mesmo período do ano passado. Por outro lado, os envios caíram 56,8% em comparação com o mês anterior.
A partir da segunda metade de junho, os embarques com o cereal devem ganhar fôlego. As estimativas apontam para 31 milhões de toneladas exportadas nesta temporada.
- O destaque da semana
Na última semana, o mercado voltou as suas atenções para o cenário norte-americano, com atualizações sobre seus embarques semanais, sua relação com a China e o clima neste início de temporada.
É fato que o mercado tem mais dúvidas do que certezas, mantendo o horizonte futuro nebuloso, além de players acumulando posições vendidas em bolsa.
As exportações com a soja norte-americana ficaram 47% menores na comparação semanal, somando 313,4 mil toneladas. Para o milho, queda de 25% do volume ante a semana anterior, com 586,5 mil toneladas.
As negociações entre EUA e China avançaram às escuras, com anúncios vagos na última semana. E assim, após meses de manutenção deste cenário, investidores já não se animam com os novos encontros, pelo contrário, os preços recuam rapidamente a qualquer sinal de um acordo ainda distante.
Por fim, o clima nos EUA continua mais frio e úmido para esta época do ano, com os mapas apontando continuidade deste ambiente nas próximas semanas. O risco climático fica gradualmente maior, embora esteja cedo para confirmar comprometimento da safra norte-americana.
- E o que está no radar…
Na próxima quarta-feira (08/mai) haverá novo encontro entre os EUA e a China e, caso o resultado do encontro seja positivo, trazendo novas informações concretas sobre avanço das negociações, correções positivas poderão ser registradas aos preços em Chicago.
E também entra no radar avanço da colheita das primeiras áreas com milho nas próximas semanas e possível nova pressão negativa aos preços de balcão.