O desenvolvimento brasileiro tem muito a ver com o espetacular crescimento econômico chinês das últimas três décadas. Por isso é interessante conhecer melhor este gigante asiático e as razões que o levaram a transformar-se, de um parceiro comercial insignificante na década de 1970, para o principal interlocutor do Brasil moderno, dado o volume de comércio que se estabeleceu entre os dois países, num espaço tão curto de tempo.
A carência de algumas matérias primas, abundantes no Brasil, fez do país asiático o principal destino das exportações brasileiras. Em 2017, o comércio bilateral com a China respondeu por 22% do comercio exterior do Brasil: exportou US$ 47.5 bilhões e importou US$ 27.3 bilhões. Saldo a favor do Brasil de US$ 20.2 bilhões.
Em menos de 30 anos, a China migrou de uma economia agrária, para uma potência industrial. Sua economia não figurava sequer entre as 20 maiores do mundo. Hoje é a 2ª e está a caminho de ser a 1ª, antes de 2050. Essa transformação teve início na gestão de Deng Xiaoping (1978 a 1990), quando 80% da população vivia na extrema pobreza com menos de US$ 1,9/dia. De 1978 a 2017, a renda per capita anual saltou de US$ 24,4/ano para US$ 3.700/ano. Crescimento de 151 vezes. Desde 1980, o PIB chinês foi multiplicado mais de 15 vezes e esse crescimento, não apenas melhorou a vida dos chineses, como promoveu melhorias no restante do Planeta, Brasil no meio.
A economia chinesa já havia sido pujante no passado. Era uma das maiores – se não a maior – do Planeta nos séculos XVIII e XIX, a partir de quando declinou, possivelmente porque os gestores chineses da época ignoraram o rápido desenvolvimento de outros países pós 1ª Era Industrial, acreditando que a China imperial continuava a ser a potência que fora em séculos anteriores e não reagiram. Foi surpreendida, principalmente pelo poder das mudanças lideradas pela Inglaterra, com quem enfrentou e perdeu duas guerras (Guerras do Ópio), sendo forçada a abrir seu mercado para o mundo. Para ilustrar, em 1820, a China detinha 30% do PIB mundial e caiu para meros 5% em 1949, dando motivos para a revolução comunista liderada por Mao Tsé-Tung.
Foi, principalmente, a partir de meados da década de 1980, que a China iniciou sua volta ao glorioso passado, realizando profundas mudanças nas esferas econômica e social, que a transformaram novamente em potência global, após dois séculos de decadência. Segundo a Wikipédia, a economia chinesa foi a 2ª maior do Planeta em 2018, pelo PIB nominal (US$ 12,24 trilhões) e a 1ª, pela Paridade do Poder de Compra (US$ 23,2 trilhões), voltando a deter, novamente, cerca de 30% do PIB mundial.
Desde a década de 1980, a China tirou da miséria mais de 1 bilhão de chineses, deixando de ser um país miserável – com mais de 80% da população vivendo no campo – e se convertendo em um país industrial, com mais gente vivendo nas cidades do que no campo (58% vs. 42%, em 2017). Um salto que nenhuma sociedade conseguiu igualar na história da humanidade. Estudos indicam que nos próximos 15 a 20 anos, cerca de 250 milhões de chineses, de um total de 500 milhões que ainda habitam o campo, deverão deixá-lo para viver em regiões urbanas, realizando novas atividades na indústria ou na prestação de serviços.
Mas ainda tem pobres na China e a distribuição da riqueza é injusta. Estudos indicam que cerca de 800 milhões de chineses sobrevive com muita dificuldade, recebendo um salário que oscila entre R$ 400,00 a R$ 1.000,00/mês, o que não é suficiente para desfrutar de uma vida digna visto que, com o crescimento da riqueza nacional, os preços dos produtos também cresceram. Estima-se que 200 milhões de chineses pertencem às classes A e B e detém um terço do PIB, enquanto que outras 400 milhões podem ser enquadradas como classe média, grupo inexistente no passado imperial e na era comunista pre Deng Xiaoping.
Desde meados da década de 1980, o PIB chinês cresce próximo a 10% ao ano, tendo alcançado um pico de 12%, em 2007. Desde 2015, no entanto, o crescimento tem sido menor (cerca de 7% ao ano), o que não seria ruim para as perspectivas de um cidadão brasileiro, acostumado a índices menores do que 3%. O crescimento registrado pela China no exercício de 2018 foi de 6,6%, ainda muito acima da média mundial e sinalizando que, em mantendo tal índice, a China deverá ultrapassar todas as economias do Planeta até 2050, desbancando a hegemonia americana de décadas. Para sustentar tal crescimento, o Brasil configura-se como parceiro comercial indispensável no provimento das matérias primas necessárias. Atualmente, a China conta com reservas de US$ 3,0 trilhões, o que garante a manutenção e a estabilidade do seu crescimento.
Segundo avaliam especialistas, os negócios entre o Brasil e a China deverão se fortalecer ainda mais com a crescente presença do país asiático nos projetos de infraestrutura brasileiros e, também, pela continuidade da expansão do consumo dos 1,4 bilhões de chineses, os quais geram grande demanda por commodities (soja, minério de ferro e petróleo) e, também, por produtos mais elaborados, como carnes e açúcar. Cerca de 80% das vendas brasileiras à China continuam limitadas a produtos com baixo valor agregado, realidade que o Brasil quer mudar, inclusive questionando o país asiático junto à OMC sobre barreiras impostas à nossa carne de frango e ao açúcar.
O modelo chinês de desenvolvimento, que alia o sistema político comunista, com a “economia socialista de mercado” – como eles gostam de defini-la, é uma experiência única e são inegáveis os bons resultados econômicos que produziu. O Brasil, tudo indica, continuará a beneficiar-se do modelo econômico liberalizante de Xi Jinping, dada a necessidade que a China tem de comprar o que o Brasil tem para vender. (Canal Rural)