Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto
Resumo da semana:
Na última semana houve forte briga de preços entre as pontas consumidoras de milho. Nesta queda de braço, a ponta consumidora vem ganhando a disputa, já que a perspectiva de oferta confortável alivia o mercado.
E assim, registrou-se queda para o indicador do milho, recuo das indicações para entrega antecipada, e na esteira, acomodação dos preços futuros.
Já as cotações domésticas da soja variaram para ambos os lados, com as oscilações respondendo a volatilidade do câmbio e de Chicago.
Neste sentido, Chicago continua pressionado para baixo, dada a expectativa de maior tempo necessário para as negociações entre EUA e China, além da perspectiva de menor demanda por soja pelo gigante asiático, devido a efeitos negativos da peste suína africana.
O dólar continua fortalecido, atingindo o maior valor em mais de 4 semanas, em R$ 3,93. Com as movimentações futuras continuando atreladas ao cenário político brasileiro.
- Mercado futuro na tela
Pela terceira semana consecutiva, predominou preços futuros do milho em queda. Na comparação semanal, o contrato de setembro foi o que recuou mais expressivamente, caindo 3,62% ao longo dos últimos 7 dias e terminando a semana a R$ 32,50/sc.
O vencimento para julho caiu 3,00% e fechou em R$ 32,35/sc, o maio caiu 2,83% para R$ 34,30/sc e o novembro recuou 2,88% para R$ 34,01/sc.
A variação negativa reduziu os contratos de setembro e julho para os menores patamares já negociados, e uma safra ainda maior que os 94 milhões de toneladas projetados atualmente, combinado com exportações menores do que 29 milhões de toneladas, poderiam manter as cotações pressionadas para baixo.
Por outro lado, graficamente, os vencimentos mostram que podem exibir alguma correção para cima no curtíssimo prazo.
Além disso, dependendo do câmbio, do desempenho das exportações e da liquidez no mercado físico no 2º semestre, as cotações do cereal podem estar mais fortalecidas ante o projetado atualmente na B3 – se confirmado, o cenário aponta para oportunidades em bolsa.
- Enquanto isso, no físico…
As necessidades de milho de curto prazo têm sido atendidas de maneira comedida pela ponta consumidora, devido a perspectiva de oferta ampla a partir de meados de maio/junho.
E é fato que os preços no físico também foram pressionados pelo mercado mais frouxo, o CEPEA recuou 2,65% na comparação semanal, atingindo R$ 36,19/sc – o menor valor desde o início de novembro/18, quando o mercado se registrava em R$ 35,98/sc
A entrada de milho de outros estados, especialmente de GO e do MS, colaborou para a pressão negativa sobre o indicador paulista. Além disso, nos outros estados, as indicações recuaram, mas em intensidade menor.
Na esteira, as ofertas em negociações antecipadas também ficaram menores na comparação semanal. Para entrega em julho no oeste do Paraná, as referências ficaram em R$ 27,50/sc. Para retirada na região de Dourados nos mesmos meses, as indicações giram em torno de R$ 26,00/sc.
Em Primavera do Leste/MT, a venda para retirada em julho ou agosto, oscilam ao redor de R$ 22,00/sc. E em Rio Verde/GO em torno de R$ 23,00/sc para entrega nos mesmos meses.
Já o balcão para a soja variou em ambos os sentidos, respondendo a alta volatilidade de Chicago e do câmbio que se registrou na última semana.
As variações positivas ficaram para Paranaguá, subindo 0,50% na semana e com última parcial em R$ 77,00/sc. E em Rio Verde/GO, alta de 1,90% para R$ 67,80/sc no mesmo período.
- No mercado externo
E os embarques com a soja esfriaram pela terceira semana consecutiva, e se no início do mês o ritmo diário registrava-se em 604 mil toneladas, passados os 15 primeiros dias úteis, o desempenho caiu para 477,50 mil toneladas.
E assim, o país embarcou acumulado até metade do mês de 6,68 milhões de toneladas de soja, um desempenho 0,80% menor ante o mês anterior e 10% abaixo do mesmo período do ano passado.
Já o milho continua com o movimento observado desde o início do ano, ou seja, os embarques ficam gradualmente menores a cada mês, mas com ritmo ainda superior na comparação em 12 meses.
E assim, os envios somaram 335 mil toneladas nos 15 primeiros dias úteis, com embarque diário de 23,93 mil toneladas. Trata-se de desempenho 7,70% menor ante março/19, mas um ritmo 5% superior ante abril/18.
- O destaque da semana
O destaque da semana fica para a decisão da Organização Mundial do Comércio (OMC) anunciando que as cotações tarifárias impostas pela China sobre o cereais norte-americanos (arroz, milho e trigo) violam as regras do comércio.
A medida, pode permitir maior acesso dos produtos norte-americanos ao mercado Chinês, e conseguir escoar a produção é o principal fator com potencial a pressionar para cima as cotações nos EUA.
O anúncio não resultou em variações positivas em bolsa, mas pavimentam um caminho de alteração dos volumes exportados dos EUA para o país asiático.
- E o que está no radar…
No radar fica a variação cambial e o desempenho das exportações. O dólar exibe alta volatilidade neste ano, variando entre R$ 4,00 de máxima e R$ 3,63 de mínima, o que mantém as inclinações de venda ora aquecidas e ora mais frias.
Já as exportações, serão determinantes para a precificação dos grãos no médio-prazo. Neste sentido, a atenção se volta ao apetite chinês, já que o gigante asiático enfrenta grave crise com a expansão da peste suína africana, dizimando o maior plantel suíno do mundo.
Portanto, há forte preocupação de queda para as importações chinesas com soja, o que poderia pressionar para baixo os preços internacionais, e na esteira, os valores domésticos.