(Reuters) – A Petrobras anunciou nesta quarta-feira um aumento de 4,8 por cento no preço médio do diesel em suas refinarias, após ter cancelado uma alta de 5,7 por cento no combustível na semana passada, em polêmica que envolveu o presidente Jair Bolsonaro.
Segundo o site da empresa, o valor médio do diesel nas refinarias a partir de quinta-feira será de 2,2470 reais por litro, ante de 2,1432 reais/litro até o momento, valor que vigorava desde 22 de março.
O reajuste foi divulgado pela Petrobras quase que simultaneamente a uma entrevista coletiva de seu presidente, Roberto Castello Branco, na qual o executivo falou sobre o assunto.
“Nós continuamos a observar rigorosamente preços alinhados com o preço internacional”, afirmou o CEO, ressaltando que a periodicidade mínima de 15 dias para o ajuste do diesel está mantida.
“Nossa política é essa e vai continuar a ser”, disse, destacando a independência da companhia.
As declarações foram dadas após o mercado ficar preocupado sobre a autonomia da estatal, depois de a empresa cancelar uma elevação no diesel na semana passada, após ligação de Bolsonaro para o presidente da petroleira, alegando temores de uma possível greve de caminhoneiros.
“O presidente Bolsonaro não me pediu nada, apenas alertou sobre o risco de greve dos caminhoneiros, e achei a preocupação legítima e promovi uma conference call com diretores para suspender”, explicou o executivo.
Questionado se avisou Bolsonaro sobre o reajuste anunciado nesta quarta-feira, o Castello Branco disse que o presidente soube do aumento apenas no momento de seu anúncio.
“O presidente tem muitas coisas importantes a se preocupar e não vai se preocupar com percentual do preço do aumento do diesel. Já imaginou se eu ficasse ligando para o presidente o tempo todo! Seria um mau uso do tempo do presidente.”
Castello Branco disse ainda que, “pela primeira vez, foi reafirmada a independência da Petrobras para praticar preços”, e que a empresa “ganhou com operação de hedge no preço do diesel”, e não houve perda com a ausência de reajustes desde 22 de março.
Contudo, o recuo no reajuste na quinta-feira fez as ações da companhia tombarem 8,5 por cento na última sexta-feira, o que representou uma perda de 32 bilhões de reais em valor de mercado da empresa.
Apesar da alta do preço anunciada nesta quarta-feira, o executivo indicou não temer uma nova paralisação dos caminhoneiros.
“O risco de greve de caminhoneiros agora é baixo, depois de uma ação do governo na direção certa”, comentou Castello Branco, citando anúncios feitos na véspera por ministros sobre uma linha de crédito para manutenção dos veículos e recursos para melhorias em estradas.
ÚLTIMA PALAVRA
Em comunicado, a Petrobras justificou mais detalhadamente a alteração no valor do combustível.
“O reajuste levou em consideração os mecanismos de proteção, através dos derivativos financeiros, e as variações de demais parcelas que compõem o Preço Paridade Internacional (PPI) com destaque para redução recente do frete marítimo”, disse a empresa.
Castello Branco, contudo, revelou a jornalistas que a área de marketing e comercialização da Petrobras na atual gestão, que teve início neste ano, não tem mais autonomia para realizar ajustes no preços dos combustíveis como ocorria anteriormente.
Na regra atual, os diretores de Refino e Gás Natural e Financeiro e de Relacionamento com Investidores serão sempre os responsáveis por definir valores, sendo a palavra final sempre do presidente da companhia.
Na gestão anterior, de Pedro Parente, a empresa delegou à área técnica de marketing e comercialização da petroleira a realização de reajustes dentro de uma faixa determinada de queda de 7 por cento a alta de 7 por cento. Apenas alterações fora dessa faixa deveriam ser autorizadas por integrantes da diretoria.
“Na minha gestão, não existe essa regra; simplesmente existe um comitê com os dois principais atores; são a diretora de refino e o diretor financeiro, e eu eventualmente participo… a palavra final é minha em caso de haver divergência”, disse Castello Branco, na sede da companhia no Rio de Janeiro.
“Uma empresa não é uma democracia e não dá para reunir 50 funcionários para votar qual o reajuste de preço. Não existe isso… essas são pessoas especialistas no negócio e pagas para tomar responsabilidade.”
CARTÃO CAMINHONEIRO
Castello Branco disse que nem a Petrobras nem a BR Distribuidora, controlada pela estatal, vão subsidiar caminhoneiros, e que o cartão anunciado pela empresa de combustíveis da estatal visa fidelizar um grupo de consumidores.
Quando anunciou a medida, em 26 de março, a Petrobras informou que BR estava desenvolvendo o cartão para implantação em período estimado de 90 dias, que viabilizaria a compra de diesel por caminhoneiros a preço fixo em postos com bandeira BR.
O cartão também tem sido anunciado por outros integrantes do governo, incluindo Bolsonaro, como uma das medidas que deve atender demanda dos caminhoneiros, que ameaçaram recentemente uma nova greve devido ao aumento dos preços do diesel.