À frente das operações da fábrica de hambúrguer de Várzea Grande (MT) há pouco mais de uma semana, a Marfrig Global Foods acirrou a competição pelas contas das grandes redes de fast food. O Valor apurou que a companhia está em tratativas avançadas para se tornar, no médio prazo, o maior fornecedor do McDonald’s no Brasil.

Com cerca de 970 restaurantes no país, a rede que faz o Big Mac consome, mensalmente, 3 mil toneladas de hambúrguer, de acordo com duas fontes. Segundo estimativas de mercado, o produto fornecido para o McDonald’s sai por aproximadamente R$ 13 por quilo. O contrato anual, portanto, é de mais de R$ 450 milhões.

A reportagem apurou que a Marfrig se estrutura para fornecer 70% da demanda da rede de restaurantes – o que deve render mais de R$ 300 milhões anuais. Para tanto, a companhia conta com as boas relações de seu fundador, Marcos Molina, com o empresário Woods Staton, presidente da Arcos Dourados, a master franqueadora do McDonald’s na América Latina. A Marfrig já fornece o produto às lojas da rede na Argentina e no Uruguai. A empresa também é grande fornecedora nos EUA, onde possui uma megafábrica no Estado de Ohio.

Atrair a Marfrig também é do interesse do McDonald’s, para diversificar o rol de fornecedores e conferir maior poder de barganha nas negociações para a aquisição da principal matéria-prima da rede.

Procurada pelo Valor, a Marfrig não comentou. Também procurado, o McDonald’s respondeu, em nota, que “não confirma as informações”.

Com a Marfrig no páreo, a JBS deixará de reinar absoluta no mercado de hambúrguer – a empresa dos Batista fabrica o produto em Lins (SP) e Campo Grande (MS).

Desde 2017, a JBS é fornecedora exclusiva de hambúrguer ao McDonald’s no Brasil. Naquele ano, a companhia desbancou a BRF, que até então fornecia parte do hambúrguer da rede. A perda do icônico contrato de hambúrguer aconteceu em meio ao encolhimento da divisão de food service da dona das marcas Sadia e Perdigão.

Curiosamente, a Marfrig produzirá o hambúrguer do McDonald’s na fábrica que um dia a BRF utilizou com o mesmo intuito. Desde a perda do contrato da rede de fast food, a unidade de Várzea Grande, na região de Cuiabá, estava bastante ociosa. Nesse cenário e dada a necessidade de reduzir dívidas, a BRF aceitou a proposta feita pela Marfrig e vendeu, no início do ano, a fábrica de Várzea Grande, por R$ 100 milhões.

Para a Marfrig, a aposta em hambúrguer é uma maneira de aproveitar melhor os cortes do dianteiro bovino. Em geral, há sobra desses itens no Brasil, o que leva os frigoríficos a exportar a preços baixos para destinos como Egito. A intenção da Marfrig é atenuar esse problema, agregando valor à carne.

Na fábrica de Várzea Grande, que está em fase de habilitação para fornecer ao McDonald’s, o contrato deve significar uma redução substancial da ociosidade. A unidade pode produzir 5,8 mil toneladas por mês, mas só vinha produzindo hambúrguer com as marcas Sadia e Perdigão – cerca de 50% da capacidade total. Ao adquirir a planta, a Marfrig passou a produzir hambúrguer para as marcas da BRF. Com o acréscimo de contas como McDonad’s e outras redes, a capacidade pode ser ocupada. (AE)