Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto
Resumo da semana:
A última semana foi marcada pela lentidão, que reduziu o volume de novos negócios, com o mercado mais frio após a acomodação do câmbio, afastando vendedores do mercado.
No caso da soja, fatores como câmbio e prêmios menores pressionaram para baixo as referências domésticas, com indicações caindo ao redor de 1,00% em importantes praças brasileiras.
A comercialização com o milho também se manteve compassada. A indisponibilidade da matéria-prima no mercado spot e as expectativas positivas para a safrinha afastam participantes do mercado neste momento.
Na esteira, os preços futuros do milho na B3 mostraram ligeiras acomodações e podem se corrigir na próxima semana. Em Chicago, o cereal tentou recuperar patamares mais altos após forte queda pela divulgação do relatório de estoques do USDA.
Novos encontros entre EUA e China também pautaram o cenário agro. Anúncios do presidente dos EUA, Donald Trump, apontam para avanços das negociações, mas mercados continuam cautelosos sobre a relação sino-americana.
Por fim, o clima continua no radar, com outono se mostrando mais úmido do que a média histórica. E o excesso de umidade já levanta preocupações na metade norte do país.
- Mercado futuro na tela
Na última semana, os futuros do milho registraram recuos dos contratos mais curtos, mas reajuste positivo para os vencimentos mais longos.
O contrato para maio, caiu 1,70% ao longo da última semana (com fechamento em R$ 35,80/sc), o futuro de junho cedeu 1,18% (R$ 33,50). Já o setembro subiu 0,15% (R$ 34,25/sc), e o novembro avançou 0,66% para R$ 36,49/sc.
Se confirmada a combinação de produção ampla, com exportação menor ante as previsões atuais, e se o câmbio cair no 2º semestre, a curva futura pode registrar novos alívios.
Entretanto, dada a situação atual, os preços parecem próximos de suporte de preços mínimos e podem mostrar correções na próxima semana.
Para a soja, as cotações em Chicago têm sido reajustadas para cima ao longo dos últimos dias, com alta acumulada de 1,50%. Entretanto, os preços não conseguiram romper resistência gráfica e devolveram parte dos ganhos na última sexta-feira (05).
E assim, o vencimento mais curto, para maio, terminou a última semana ainda abaixo de US$ 9,00/bushel.
- Enquanto isso, no físico…
A baixa disponibilidade de milho e a expectativa de oferta ampla da safrinha mantêm as negociações lentas no balcão.
E assim, as negociações antecipadas giram em torno de R$ 23,50/sc (FOB) para entrega em julho em Primavera do Leste. Para entrega imediata na mesma praça, as negociações ficam ao redor de R$ 27,50/sc, ou seja, 15% acima do valor negociado pelo milho 2º safra.
O indicador do CEPEA contou com ajuste para baixo na comparação semanal, caindo 0,90% e com último fechamento em R$ 38,08/sc.
Já as referências em Paranaguá caíram com mais força, na medida em que as exportações também esfriam e a competição com a Argentina avança. E assim, os preços em Paranaguá recuaram 2,90% para R$ 36,65/sc.
Para a soja, a acomodação do câmbio da última semana combinado com prêmios menores resultaram em variação para baixo na maioria das praças. As referências em Paranaguá caíram 1,37% nos últimos 7 dias, com parcial em R$ 78,00/sc.
Em Rondonópolis/MT, queda de 0,75% nos últimos 7 dias e parcial em R$ 66,75/sc. Em Rio Verde/GO, recuo de 0,15% e referência em R$ 70,15/sc.
Já no Triângulo Mineiro e no Oeste do Paraná, as quedas foram mais expressivas, caindo 1,15% em ambas as praças, ficando em R$ 70,15/sc na região mineira e balizado em R$ 70,95/sc no PR.
Além disso, o mercado continua monitorando avanços das negociações entre EUA e China, com anúncios de que restam detalhes finais e mais delicados para acordo (como propriedade intelectual e transferência de tecnologia).
No radar também estão as condições climáticas nos EUA neste início de temporada, além das variações cambiais.
- No mercado externo
Enquanto a disputa comercial se prolonga entre os EUA e a China, o Brasil segue ampliando suas exportações com a soja.
Nos 5 primeiros dias úteis de abril, o país embarcou 3,02 milhões de toneladas, com um ritmo diário de 604,63 mil toneladas, um desempenho 26,45% superior ante o mês anterior, e 23,80% acima do registrado no mesmo período do ano passado.
Enquanto isso, os embarques com o milho seguem a sazonalidade, com volumes gradualmente menores ao longo dos primeiros meses do ano, e assim, o país enviou 146,25 mil toneladas de milho no início de abril (29 mil toneladas por dia), com ritmo diário 37,70% menor ante o mês anterior.
Entretanto, os dados surpreenderam positivamente quando comparados com o mesmo período do ano passado, com desempenho 434% superior a abril/18, quando a quantidade diária ficou em 5,47 mil toneladas.
Mantido o ritmo de embarques ao longo do mês, projeta-se exportações ao redor de 12,50 milhões de toneladas de soja e de 615 mil toneladas de milho.
- O destaque da semana:
Na última quinta-feira (04.abr), o presidente dos EUA, Donald Trump, encontrou com o principal negociador Chinês, Liu He, levando a anúncio de Trump de que o acordo pode ser alcançado nas próximas 4 semanas.
Entretanto, o longo período em que se arrastam as negociações e apenas especulações em torno do tema, mantém os mercados cautelosos.
No Brasil, as negociações esfriaram com a acomodação do dólar e dos prêmios nos portos, que resistem em ganhar tração. E apesar da relativa recuperação em Chicago, registrou-se alívio dos preços das commodities na última semana.
- E o que está no radar…
A atenção segue voltada ao clima. Neste sentido, vale destacar a perspectiva de outono mais úmido e com temperaturas relativamente mais altas.
E apesar de rápidas alterações dos mapas climáticos, a expectativa fica para chuvas acima da média para o período em toda a região Centro-Norte do país, especialmente em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.
E o período de instabilidade pode atrasar o ritmo dos trabalhos a campo, além disso, começam a gerar preocupações sobre produção de grãos avariados pelo excesso de umidade.