Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto

Resumo da semana:

A última semana foi marcada pela forte valorização cambial e pelo relatório do USDA.

O câmbio continuou refletindo temores pelo cenário político, buscando a resistência em R$ 4,00, mas retornando na sequência para patamares menores. Esse movimento altista do dólar incentivou novas negociações – com a soja subindo para R$ 79,00/sc em Paranaguá (+0,70% na semana).

Já o relatório do USDA, divulgado na última sexta-feira (29), foi baixista para as cotações, trazendo expansão de 4% da área estimada com o milho nos EUA e estoques recordes para a soja (em 73,90 milhões de toneladas). Além disso, os estoques com o milho vieram acima do que era esperado pelo mercado (registrando-se em 281,57 milhões de toneladas).

No Brasil, as variações para o milho foram limitadas pela baixa liquidez no mercado físico, entretanto, a pressão negativa continua pela estimativa de safrinha cheia.

E ainda, as condições continuam promissoras para o milho safrinha, com previsões climáticas apontando para chuvas dentro ou acima da média na maioria das regiões produtoras.

Entretanto, os estados da região Sul do país podem enfrentar período mais seco na metade de abril, mantendo as condições climáticas no radar das próximas semanas.

  1. Mercado futuro na tela

A divulgação do novo relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) na última sexta-feira (29) mexeu com o equilíbrio dos preços em bolsa, e as variações que até então eram basicamente técnicas, caíram após a divulgação do novo boletim.

O último relatório do USDA projetou expansão de 4% da área cultivada com milho nos EUA, o que deve representar 37,56 milhões de hectares, ao mesmo tempo, a área destinada para a soja deve cair ao redor de 5% e somar 34,24 milhões de hectares.

E a transferência de áreas de soja para o milho nos EUA amplia a oferta do cereal no principal produtor mundial, pressionando para baixo os preços internacionais. E assim, o vencimento maio do cereal em Chicago caiu 4,50% na última sexta-feira.

Na esteira, os preços na B3 que até a divulgação do boletim vinham andando praticamente de lado ao longo da semana, com variações comedidas e movimentos técnicos, caíram pela projeção de oferta ampliada.

Neste sentido, vale a pena destacar a queda semanal de 1,75% para o contrato de setembro, fechando a semana em R$ 34,20/sc, trazendo oportunidade de hedge para parte da necessidade deste insumo no segundo semestre.

  1. Enquanto isso, no físico…

Novas acomodações foram registradas para as referências do mercado físico do milho, embora a baixa liquidez no balcão tenha limitado o movimento baixista em algumas praças.

Na comparação semanal, as referências caíram em torno de 0,90% em Rio Verde/GO e em Dourados/MS, com as últimas parciais em R$ 32,75 e R$ 28,20/sc, respectivamente.

Já no Triângulo Mineiro a queda foi mais acentuada, perdendo 2,35% na comparação semanal, e balizado em torno de R$ 33,70/sc.

E nem mesmo o fortalecimento do câmbio pressionou para cima as referências no Mato Grosso ou nos portos. No MT, a referência caiu 1,30% em Sorriso (R$ 21,85/sc) e queda de 0,40% em Rondonópolis (R$ 28,50/sc).

Em Paranaguá a referência caiu 0,95% para R$ 37,74/sc – até a primeira metade de março, balizava-se em R$ 40,00/sc. A ponta consumidora afastada do mercado é o principal fator a aliviar as indicações.

Por fim, o indicador do CEPEA, praticamente andou de lado na comparação semanal, com sensível alta de 0,05% e fechamento na última sexta-feira (29) em R$ 38,43/sc.

  1. No mercado externo

Os embarques com a soja continuam em ritmo aquecido, e segundo os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o país embarcou 8,95 milhões de toneladas de soja em março.

O volume representa avanço de 54,75% em relação ao ritmo diário de embarques do mês anterior, e 12,30% superior ao mesmo período do ano passado.

Até o momento, o país já embarcou 24,56% de toda a previsão de embarques para o ano, atualmente projetados em 70 milhões de toneladas (Conab), gerando expectativa de estoques estreitos no período de entressafra.

E as exportações com o milho seguem a sazonalidade, os embarques de março recuam 46,40% em relação ao mês anterior, somando 891,95 mil toneladas. Entretanto, o desempenho fica 62,88% superior frente o mesmo período do ano passado.

  1. O destaque da semana:

O destaque da semana fica para o comportamento do câmbio, que em resposta ao ambiente político, avançou até a resistência gráfica de R$ 4,00 na última quarta-feira (27).

Na sequência, o cenário político esfriou e o câmbio buscou por patamares menores, fechando a semana ao redor de R$ 3,92

E a escalada do dólar pressiona para cima as referências no mercado brasileiro, especialmente a soja, pela maior participação no mercado externo. Entretanto, a variação positiva foi limitada por forte queda em Chicago, caindo próximo 2,5%.

  1. E o que está no radar…

As expectativas para a safrinha do milho seguem bastante positivas, com o mercado esperando produção entre 66,50 e 70 milhões de toneladas.

É fato que os trabalhos adiantados no início da temporada reduzem os riscos climáticos, além disso, as chuvas recentes ampliaram a umidade nos solos e colaboraram para as projeções positivas quanto a produção.

Vale destacar ainda, que a proporção da cultura em período reprodutivo deve avançar mais cedo neste ano. Segundo o Deral, 36% da safrinha está em floração/frutificação, nesta mesma época do ano passado, apenas 1% da cultura estava em estádio reprodutivo.

Portanto, a umidade das próximas semanas será fundamental para definição do potencial produtivo, e neste sentido, os mapas climáticos apontam para precipitação dentro ou acima da média na maioria das regiões produtoras.

A região Sul pode registrar período mais seco na metade abril. Portanto, apesar de risco climático suavizado, ele continua no radar.