Estoques americanos maiores que os previstos por analistas determinaram a queda das cotações de soja, milho e trigo na bolsa de Chicago na sexta-feira. Nos casos de soja e trigo, estimativas de áreas plantadas menores que as esperadas nos Estados Unidos na safra 2019/20 limitaram a erosão, que foi ampliada no mercado de milho por um otimismo maior para a semeadura naquele país no próximo ciclo. Mas o fato é que, ao menos nas próximas semanas, o certo (estoques) deverá se impor ao duvidoso (áreas) e o espaço para valorizações tende a ser exíguo.

Segundo levantamento divulgado pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) na sexta-feira, os estoques americanos de soja – carro-chefe do agronegócio brasileiro – somavam 74 milhões de toneladas em 1º de março, quase 1 milhão a mais que o estimado no mercado e volume 29% superior ao registrado no mesmo dia do ano passado. Em outro relatório, o USDA projetou a área plantada com o grão no país em 2019/20 em 34,2 milhões de hectares, 700 mil a menos que a média das estimativas de um grupo de analistas consultados pelo “The Wall Street Journal” e número 5% inferior ao observado na temporada 2018/19.

Na sexta-feira, as ondas trazidas pela área encontraram o rochedo formado pelos estoques e os preços recuaram 0,6% em Chicago. Com isso, apontam cálculos do Valor Data, o valor médio dos contratos de segunda posição de entrega do grão encerraram março com quedas de 1,7% na comparação com a média mensal de fevereiro e de 13,4% em relação a março de 2018. E, tendo em vista as mais recentes movimentações dos fundos especulativos que operam nesse mercado, a tendência de curto prazo ainda é negativa. Na semana encerrada em 26 de março, mostrou a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC), o saldo líquido de contratos vendidos de soja em Chicago até caiu, 20%, mas a aposta continua na queda.

No caso do milho, os estoques americanos apurados pelo USDA em 1º de março chegavam a 218,4 milhões de toneladas. Cerca de 3% menos que no início do mesmo mês no ano passado, é verdade, mas volume quase 7 milhões maior que o previsto por analistas. Para a área plantada nos EUA em 2019/20, a nova estimativa do USDA apontou para 37,6 milhões de hectares, 700 mil a mais que o esperado por analistas e número 4% superior ao do ciclo 2019/20. Na bolsa de Chicago, as cotações desabaram e os contratos de segunda posição encerraram o mês com retrações de 1,6% sobre a média de fevereiro e de 3% na comparação com março de 2018. Atentos a esses movimentos, os fundos reduziram 22,2% as apostas na queda do cereal na semana até 26 de março.

O avanço do milho em detrimento da soja nos EUA reflete, em larga medida, os problemas que os exportadores americanos de soja vêm enfrentando na China desde o início das cotoveladas comerciais entre Washington e Pequim, no ano passado. Mas embute, acima dos golpes trocados no octógono, uma relação entre oferta e demanda menos confortável no mercado do cereal que no da oleaginosa, em parte gerada pela retração das importações chinesas de soja como um todo, em meio à desaceleração econômica do país e sua crise com o surto de peste suína africana.

Dados do USDA mostram que os estoques globais de milho deverão representar, no fim desta safra internacional 2018/19, em agosto, 27,2% da demanda total calculada para a temporada – no fim do ciclo 2017/18, eram 31,4%. No mercado da soja, o percentual ficará em 30,8%, ante 29,2% no fim do ciclo 2018/19. De qualquer forma, realçam analistas, são patamares elevados, influenciados por boas ofertas de EUA e Brasil, que poderão colaborar para manter a inflação global dos alimentos em níveis comportados.

O saldo dos levantamentos e estimativas divulgados pelo USDA na sexta-feira também foi indigesto para as cotações do trigo. Ocorre que os estoques americanos do cereal em 1º de março estavam em 43,3 milhões de toneladas, 1,3 milhão a mais do que acreditavam os analistas, e o fato de a área plantada estimada para 2019/20 ter sido a menor desde 1919 não foi suficiente para estancar a sangria. As cotações caíram 1,5% em Chicago e a média mensal dos contratos de segunda posição de entrega fechou março com baixa de quase 9% em relação à média de fevereiro. (AE)