As empresas brasileiras de capital aberto dobraram o lucro em 2018, num ano em que os executivos apertaram os gastos e, com ajuda de uma ligeira melhora do cenário macroeconômico, conseguiram vencer eventos adversos como a greve dos caminhoneiros em maio e as eleições presidenciais mais acirradas dos últimos anos.

Levantamento feito pelo Valor Data, a partir das demonstrações de 237 empresas não financeiras, mostra que o lucro líquido consolidado dessa amostra dobrou para R$ 144 bilhões, na comparação com a mesma base de dados de 2017.

Os desempenhos da Petrobras, Eletrobras e Vale contribuiram significativamente para esse resultado, já que saíram de prejuízo em 2017 para lucros expressivos no ano passado.

A Petrobras fechou o ano passado com o primeiro resultado anual positivo desde 2013, de R$ 25,8 bilhões, puxado pela valorização de 31% nos preços internacionais do petróleo, que compensou a queda de 1% dos volumes de venda.

A Eletrobras reverteu prejuízo e teve lucro de R$ 13,3 bilhões com a influência da reversão de provisões para contingências, no valor de R$ 1,201 bilhão.

A Vale teve o melhor resultado dos últimos anos, lucro de R$ 25,7 bilhões, alta de 45%, impulsionada pela alta do minério de ferro no mercado internacional.

Para eliminar o efeito dessas gigantes e ter uma visão mais equilibrada dos resultados, o Valor Data fez uma amostra sem as três companhias. O lucro sobe 41%, para R$ 79 bilhões, em linha com que vem sendo observado desde 2016. Naquele ano, o lucro de 234 empresas subiu 50% sobre 2015, o pior ano da recessão econômica.

Uma outra maneira de olhar os resultados é contabilizar quem deu lucro e quem deu prejuízo. Do total das companhias analisadas, incluindo as gigantes, três em cada quatro registraram lucro no ano passado – 40% delas com ganho maior, 10% com prejuízo menor e 10% de volta ao azul.

David Beker, chefe de economia e estratégia do Bank of America Merrill Lynch (Bofa) no Brasil, afirma que a recuperação da economia, ainda que abaixo do esperado, foi um dos fatores que colaboraram para os resultados das empresas.

O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,1% em 2018, a segunda alta anual consecutiva depois de dois anos de contração.

A recuperação, contudo, segue em ritmo lento e o PIB segue abaixo do nível anterior à recessão. Em 2013, por exemplo, o país cresceu 3%. “Ainda que baixo, a economia tem mostrado sinal de crescimento, o que tem ajudado a performance das empresas”, diz Beker.

Os dados revelam ainda que melhorias operacionais colocadas em prática a partir do início da recessão econômica, em 2015, levaram a um aumento do faturamento, e que, em um cenário de crescimento econômico, o bom trabalho das diretorias executivas acaba se destacando.

O Magazine Luiza foi uma das empresas que apresentaram forte resultado no ano passado. O lucro líquido da companhia somou R$ 597,4 milhões, um crescimento de 54% ante 2017 e o melhor resultado da série histórica do Valor PRO, que começa em 2009, com forte crescimento das vendas e queda das despesas operacionais.

William Volpato, coordenador do Valor Data, chama atenção para as margens no ano passado, forma de cálculo que permite verificar como a receita líquida foi aproveitada pelas empresas. A margem líquida, que mede a fração de cada real obtido com vendas e que resultou em lucro líquido, cresceu em 3,1 ponto percentual, para 7,3%.

Junto com o crescimento da economia e das melhoras operacionais, o resultado líquido de diversas empresas contou com o benefício de um evento não recorrente: a exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS e do Cofins (veja mais no texto abaixo).

A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), por exemplo, obteve um lucro líquido de R$ 5,2 bilhões no ano passado, avanço de 47 vezes ante 2017. Além da expansão de 24% da receita, beneficiada por maiores preços em minério de ferro e siderurgia, a empresa teve ganhos extraordinários com créditos tributários. A CSN reconheceu o montante de R$ 2,2 bilhões na rubrica “tributos a recuperar”.

Para o ano de 2019, a expectativa é de que o desempenho operacional continue positivo. “Embora o mercado esteja revisando para baixo o crescimento econômico, a expectativa é de recuperação para este ano e as empresas conseguirão entregar, pois têm bom desempenho operacional”, comentou o analista do BofA. A projeção do banco é de que as empresas brasileiras terão um avanço de 31% do lucro líquido em 2019 ante o resultado de 2018.

O Banco Central revisou sua estimativa para o PIB brasileiro em 2019, dos 2,4% previstos em dezembro para 2,0% na atualização trimestral de março, divulgada na quinta-feira (28).