(Reuters) – A crescente preocupação com a articulação política em relação à reforma da Previdência catapultou o dólar ao maior patamar em quase seis meses nesta quarta-feira, com a cotação saltando mais de 2 por cento e ficando perto da marca de 4 reais.
O ambiente externo negativo também pesou, com depreciação de várias divisas de países emergentes, refletindo o temores sobre a economia mundial.
O dólar à vista terminou a sessão em alta de 2,27 por cento, a 3,9545 reais na venda. É o maior patamar desde 1º de outubro passado (4,0183 reais). Na máxima intradiária, a divisa norte-americana bateu 3,9730 reais na venda.
Na B3, a referência do dólar futuro tinha ganho de 2,01 por cento, a 3,9555.
O mau humor foi deflagrado após a Câmara dos Deputados votar na noite de terça-feira a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que obriga a execução de emendas coletivas no Orçamento da União, o que foi interpretado como derrota para o governo.
A PEC contraria o que o ministro da Economia, Paulo Guedes, vem defendendo como “plano B” à reforma Previdência, a desvinculação total do Orçamento. O texto foi aprovado em dois turnos por ampla maioria e agora seguirá para o Senado.
À tarde, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, chamou a atenção fala de Guedes de que não tem “apego ao cargo”, embora tenha ponderado que não tem “irresponsabilidade” de deixar o posto na primeira derrota.
“Com certeza foi isso que fez piorar (o dólar)”, disse o operador de uma corretora.
“O recado é claro. O governo não tem apoio. E menos ainda para uma pauta impopular como a reforma (da Previdência). O mercado está sendo chamado à realidade”, disse Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.
No fim da tarde, o presidente Jair Bolsonaro, em entrevista à TV Bandeirantes, disse que, de sua parte, “não tem briga” e que na volta de viagem a Israel se encontrará com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
As compras recentes de dólar têm sido lideradas sobretudo por estrangeiros, que já sustentam posições líquidas compradas de 37,1 bilhões de dólares. Apenas na véspera houve a compra líquida de quase 1 bilhão de dólares.
“Nem mesmo a entrada do exportador está conseguindo aliviar o câmbio. No máximo, não deixa subir mais”, disse Marcos Trabbold, da B&T Corretora.
Mauricio Oreng, estrategista sênior para Brasil do Rabobank, reconheceu que o risco de uma reforma mais diluída e mesmo de não aprovação está mais alto, mas ainda considera cedo para se apostar num cenário disruptivo.
“Mas até lá o caminho do dólar será de mais solavancos”, disse, embora ainda preveja taxa de 3,70 reais no fim do ano, aprovada uma reforma previdenciária com economia prevista de 700 bilhões de reais em uma década.