Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto
Os preços do milho se movimentaram rápido em março, chamando a atenção do mercado e trazendo oportunidades de proteção para quem precisa originar o insumo.
Mas voltando ao final do ano passado, o cereal ganhou viés baixista pela oferta da safrinha, e junto com as exportações que foram revisadas para baixo (ampliando a disponibilidade interna), as cotações caíram 9,60% entre setembro e outubro (segundo o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – CEPEA).
Já ao longo dos meses seguintes, os estoques foram gradualmente sendo enxugados, e ainda com a ajuda das exportações, que se aqueceram nos primeiros meses de 2019, a tendência foi altista.
Além disso, o risco climático pela estiagem em dezembro e janeiro, aliado à expectativa de valores mais altos (retirando a pressão vendedora) também foram especialmente importantes para fortalecer o mercado no período.
E a nova rodada de altas elevou o indicador do CEPEA em 12,24 p.p. entre outubro e fevereiro/19, recuperando os patamares perdidos ao final do ano anterior. No porto de Paranaguá, as pedidas pelo cereal acompanharam o indicador de Campinas, mas nota-se maior influência do dólar sobre suas cotações.
Veja pelo gráfico 1 a seguir o reflexo sobre as cotações do cenário descrito acima.
Gráfico 1.
Variação do indicador CEPEA e dos preços em Paranaguá (eixo da esquerda – R$/sc) e movimentação do dólar (eixo da direita) – Médias mensais.
Atualmente, o câmbio tem variado entre R$ 3,77 e R$ 3,83 (valores mais altos ante o início do ano). Mas os embarques de milho devem continuar relativamente menores nos próximos meses, até que a oferta aumente pela safrinha.
E no interior do país, o período de entressafra também sustentou as referências, diminuindo a diferença de preços (basis) dos outros estados ante a referência praticada em São Paulo.
Observe pelo gráfico 2 que, a partir de dezembro, o basis encurtou rapidamente na maioria das regiões analisadas. Isso indica que o balcão deve continuar fortalecido no médio-prazo.
Destaca-se ainda a menor variação para o basis no Mato Grosso do Sul neste mês, já que os estoques maiores limitaram reajustes nesse estado, em comparação com as outras praças.
Gráfico 2.
Movimentação mensal do basis em diferentes estados (%)
A questão é que o mercado físico continua firme pelo interior do país (como aponta a movimentação do basis), mas um alívio das cotações deve acontecer pela reposição dos estoques, já que o ritmo acelerado da semeadura do milho no início desta temporada ampliou a proporção cultivada dentro da janela ideal – mitigando possíveis riscos climáticos.
Aliás, as chuvas regulares aumentaram a umidade dos solos, alimentando perspectivas bastante positivas para a safrinha – com projeção de colheita total de 92,80 milhões de toneladas (CONAB – sexto levantamento da safra de grãos).
E a colheita também deve se antecipar, com os primeiros lotes podendo chegar ao mercado na primeira metade de maio, possivelmente.
Gráfico 3.
Milho safrinha – evolução do plantio (média nacional – %).
Portanto, os produtores, com a matéria-prima para comercializar logo no início da colheita, podem encontrar valores mais firmes. E aqueles que precisarem repor seus estoques a partir de junho/julho deverão encontrar cotações mais convidativas.
Além disso, os preços futuros em bolsa registraram forte queda nos últimos dias, e o contrato para setembro, por exemplo, resiste em manter níveis de preços abaixo de R$ 33,30/sc.
E considerando que as exportações ganham fôlego no 2º semestre, além de uma possível retenção vendedora, as referências podem se reajustar para cima em horizonte mais longo. Por isso, pode haver espaço para correção positiva dos contratos mais longos, o que abre oportunidade de hedge neste momento.
Observe pelo gráfico 4 como as médias mensais do primeiro trimestre acompanham a sazonalidade de preços (azul mais claro). Enquanto os preços futuros da B3 podem buscar por patamares mais altos se continuarem seguindo o movimento sazonal.
Gráfico 4.
Cotações do milho em 2019 (eixo da esquerda – R$/sc) vs. Variação sazonal (eixo da direita – %).