(Reuters) – Os Estados Unidos e o Brasil não chegarão a um acordo sobre novas exportações brasileiras de carne bovina in natura a tempo da visita oficial do presidente Jair Bolsonaro a Washington, na próxima semana, disseram duas fontes com conhecimento do assunto à Reuters nesta quinta-feira.
“Não haverá tempo hábil para resolver essas questões até a visita, é um processo muito demorado para se tentar chegar a um acordo”, disse uma das fontes.
Os EUA barraram as exportações de carne bovina in natura há cerca de dois anos, na esteira de um escândalo de segurança alimentar na maior economia da América do Sul. À época, as autoridades sanitárias norte-americanas alegaram que chegaram a barrar 11 por cento das remessas de carne in natura, um percentual muito mais alto do que acontecia com importações de outros países.
O tema agora entrou na agenda da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que planeja levar o assunto às conversas com as autoridades dos EUA durante a visita.
Embora não importe atualmente o produto in natura do Brasil, os EUA são o principal destino dos embarques brasileiros de carne bovina processada, comprando 31 mil toneladas em 2018.
Uma das fontes, no entanto, ressaltou que esse não é um tema que se resolva, nos EUA, por uma determinação federal.
“Pode até haver uma indicação do governo federal, mas o que pode acontecer é a autoridade sanitária dizer que não é possível agora”, disse. “É preciso chegar a um acordo sobre a qualidade e o nível da inspeção.”
Os EUA enviaram pedidos adicionais de informação na semana passada, mas o requerimento do processo não parece ser problema, disse a fonte.
“Deve haver algo interno no lado norte-americano segurando um acordo, e não está claro se há pressão nos EUA para adiar a reabertura”, disse a pessoa.
O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo, mas chegou a ficar 10 anos sem exportar carne in natura para os EUA.
O mercado foi reaberto no segundo semestre de 2016, mas fechado de novo em meados de 2017, depois do escândalo na fiscalização sanitária, quando se descobriu que empresas brasileiras pagavam propina a fiscais para escapar da fiscalização.
Os EUA intensificaram suas inspeções em resposta, descobrindo inconformidades que levaram o país a suspender as importações de carne bovina brasileira.
As autoridades brasileiras indicaram que a questão detectada pelos inspetores norte-americanos relacionava o problema às vacinas contra a febre aftosa, que causaram abcessos (caroços) na carne, mas que isso não afetou a qualidade do produto.
Os abscessos, que responderam por 28 por cento dos problemas apontados pelo governo dos EUA para suspender a carne in natura do Brasil, podem ser gerados, por exemplo, por uma vacinação mal executada, realizada com uma agulha rombuda (sem ponta), segundo especialistas.
Após o problema, em uma tentativa de reduzir as reações causadas pelas vacinas, o ministério anunciou a redução da dose da vacina de 5 ml para 2 ml, em etapa de vacinação a partir de maio próximo.