A indústria brasileira exportadora de carne bovina, a despeito do valor recorde obtido com os embarques em 2018 (US$ 6,57 bilhões), sente hoje uma ponta de “inveja” do Uruguai, o seu concorrente no setor na América do Sul.
A explicação é simples: depois de muita negociação, os exportadores uruguaios tiveram, no final de 2018, êxito no acordo com o Japão para reexportar carne in natura para os exigentes consumidores japoneses, um sonho antigo da indústria brasileira de carne bovina – e ainda não alcançado. Também não é para menos: fechado à carne bovina brasileira, o Japão desembolsa, em média, US$ 6.000 pela tonelada do produto importado de outros países, enquanto o preço médio obtido pelas exportações feitas pelo Brasil não passa de US$ 4.000/tonelada.
Mas, visto por outro ângulo, o sentimento de inveja pode ser substituído por um outro, de “esperança!”. Isso porque, como o próprio presidente uruguaio do Instituto Nacional da Carne (INAC), Federico Stanham, reconheceu nesta semana ao El País Digital, a “abertura do mercado japonês à carne passa mensagem a outros mercados (potenciais importadores da carne uruguaia) com as mesmas exigências de sanidade.
“É como dizer: olhe, o Uruguai está pronto para receber esse tipo de demanda”, afirmou Stanham.
Os exportadores uruguaios de carne bovina não comercialização com o Japão desde 2000, quando surgiu foco de aftosa no pais. E, assim como o Brasil, o Uruguai mantém hoje status de livre de febre aftosa com vacinação.
Portanto, tomando emprestado a frase de Stanham ao El País Digital, a indústria brasileira tem todo o direito de reivindicar ao Japão ao mesmo tratamento dado atualmente ao Uruguai.
Sobre essa hipótese, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Antônio Jorge Camardelli, disse à revista DBO que, como o Uruguai possui status sanitário idêntico ao do Brasil, “legitimamente o governo brasileiro (apoiado pela indústria de carne bovina) tem o direito de solicitar oficialmente a entrada da carne in natura brasileira no mercado do Japão, por conta da equivalência de decisão técnica”.
A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) reconhece todo o território nacional como livre do vírus da aftosa desde 2018. Hoje, Santa Catarina é o único Estado brasileiro a manter, desde 2007, o status de livre de aftosa sem vacinação.
O Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (PNEFA prevê a suspensão gradativa da vacinação contra febre aftosa no Brasil, começando pelo Paraná. A expectativa é de que, até 2023, o Brasil seja reconhecido pela OIE como país livre de febre aftosa sem vacinação. (Portal DBO)