Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto

Resumo da semana:

O mercado de grãos no ambiente doméstico continuou com o cenário que já era observado nas últimas semanas.

Ou seja, as cotações do milho continuaram sustentadas, com oferta restrita e posição cautelosa em novas negociações. Já os preços futuros caminharam em ambas as direções, mas mantendo os níveis de preços mais altos.

E o período mais úmido gera perspectivas otimistas para a safrinha, mas possível excesso hídrico também já preocupa. Aliás, a água disponível no solo se ampliou também nas regiões onde a situação era mais crítica, por exemplo, no oeste do PR e no MS.

O mercado de soja continua voltado para a retórica comercial entre EUA e China. Incertezas sobre as relações acomodaram os preços futuros em Chicago. E uma correção das cotações por lá podem impactar positivamente as cotações domésticas.

Neste sentido, as variações têm sido regionalizadas por aqui, com predomínio de alta nas praças com maior demanda da indústria. E alterações podem acontecer no curto prazo, especialmente por mudanças nos prêmios negociados nos portos e valorização do câmbio.

1. Mercado futuro na tela

Na última semana, as variações para os contratos futuros de milho foram mistas.

O contrato para março/19 foi o que subiu com mais força, respondendo ao mercado físico. Alta de 1,15% e retornando aos maiores patamares desde o início de agosto/18. O contrato balizado ao redor de R$ 42,50/sc deve manter os níveis de preços até sua liquidação na metade deste mês.

Já o vencimento para maio caiu 0,10% e setembro/19 subiu 0,03%. O fato é que os dois contratos subiram até resistência gráfica, devolveram os ganhos, e podem registrar nova correção para cima no curto prazo.

Em Chicago, a queda de 6,75% para o trigo (na média dos contratos de 2019) derrubou as cotações dos insumos substitutos.
O movimento negativo se deu por uma combinação de fatores: preços globais mais competitivos (pressionando as commodities norte-americanas), pessimismo com relação a um acordo entre EUA e China, e perspectiva de expansão da área semeada com milho nos EUA (passando de 89,10 para 92 milhões de acres em 2019/20).

2. Enquanto isso, no físico…

As negociações para exportação de milho por Paranaguá foram menores nesta semana, com manutenção da referência dos prêmios (Paranaguá em US$ 0,30/bushel) e do valor da saca – em torno de R$ 40,50.

As negociações do cereal para fábricas no Paraná também esfriaram, em Campos Gerais ficaram balizados ao redor de R$38,00/sc. Volume menor também observado em Goiás, com referência em R$ 33,00/sc em Rio Verde.

No MT a ponta consumidora já se mostra mais aquecida, pressionando para cima as cotações de milho por lá. O boletim do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), indica elevação de 6,80% na semana, e parcial para o estado em R$ 22,34/sc (acima da paridade em R$ 20,66/sc).

No MS houve reporte de venda do insumo para outros estados, com referência na região de Dourados entre R$ 31,00 e R$ 32,00/sc.
O fato é que a expectativa de reajuste para cima das referências, retira a inclinação de venda daqueles que ainda têm a matéria-prima para negociar. Já a ponta consumidora compra da “mão para a boca” evitando formação de estoques caros.

3. No mercado externo

Um ponto importante quando olhamos para as exportações de grãos, fica para a transferência do protagonismo dos embarques com milho em janeiro, para a soja em fevereiro.

Esse movimento é comum nesta época do ano, pela própria oferta de soja se ampliando pela colheita, enquanto a disponibilidade de milho é cada vez mais limitada neste período.

O fato é que o ritmo de embarque diário com soja subiu 211% em fevereiro frente ao mês anterior. Somando em fevereiro, 6,09 milhões de toneladas. Por outro lado, o ritmo diário de embarque com o milho caiu 54,40% no mesmo período, totalizando 1,75 milhão de toneladas.
Mas um segundo ponto importante, é que apesar do aumento de exportações para uma matéria-prima e redução para a outra, ambos os produtos registram exportações maiores ante o mesmo período do ano passado. O país embarcou 91,40% mais soja e avançou em 25,70% para o milho em comparação com fevereiro de 2018.

E olhando para os próximos meses de 2019, a relação comercial entre EUA e China deverão ditar o desempenho dos embarques com a soja (por enquanto, entraves para um possível acordo ainda se mostram presentes, o que deve beneficiar as exportações com o grão brasileiro).

E para o milho, os preços dos fretes e a competição pelo insumo entre mercado interno e externo, deverão influenciar o ritmo dos embarques com a chegada da oferta da safrinha.

4. O destaque da semana:

O destaque fica para a fala do representante de Comércio dos EUA, comentando que os pontos mais críticos a serem negociados entre EUA e China, não deverão ser resolvidos com ampliação das compras chinesas.

O anúncio alimenta perspectiva de um possível acordo ainda distante no curto prazo. Além disso, a falta de sinais claros sobre avanço das negociações, além de apenas declarações otimistas, geram cautela dos mercados. E os preços futuros da soja (combinado com outros fatores) caíram na última semana.

O contrato mais curto, para março/19, opera abaixo de US$ 9,00/bushel. Enquanto isso, a soja brasileira tenta manter sustentação em meio a Chicago e cambio para baixo, além do avanço da colheita.

O indicador da soja do CEPEA subiu marginalmente desde o início de fevereiro, alta de 0,06% e última parcial em R$ 77,36/sc.

5. E o que está no radar…

No radar fica a perspectiva de chuvas para início de março, com chuvas acima da média em GO, MG e no MT. Já os três estados do Sul do país devem receber volumes menores que a média histórica.

A volta do tempo úmido em fevereiro, alimenta perspectivas positivas para o desenvolvimento do milho safrinha, mas possível excesso hídrico começa a entrar no radar.

Para a soja, a perspectiva fica para os preços buscarem recuperação, e se Chicago reverter as perdas recentes, as referências domésticas também podem se fortalecer. Além disso, o mercado deve continuar monitorando a demanda chinesa pela matéria-prima brasileira.