Mal vista pelos pecuaristas brasileiros até bem pouco tempo, a JBS vem ampliando as iniciativas para melhorar as relações com os fornecedores da matéria-prima que responde por cerca de 80% dos custos de suas operações de carne bovina.

Aos poucos, as iniciativas vêm quebrando a desconfiança de produtores que, no fim das contas, precisam manter laços com a JBS independentemente do bom relacionamento. Afinal, trata-se da maior indústria de carne bovina do Brasil, com 36 frigoríficos espalhados por dez Estados e cerca de 30% dos abates fiscalizados pelos auditores do Serviço de Inspeção Federal (SIF).

“Tudo tem seu tempo e sua hora. As coisas mudam”, disse o presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil, o pecuarista Nabih Amin El Aouar, reconhecendo a evolução no relacionamento.

Em entrevista ao Valor, o presidente da Friboi, Renato Costa, também comemorou o momento. “A relação saiu de conflituosa para construtiva”, afirmou o executivo. Conforme ele, a melhora no relacionamento parte de uma premissa básica. “Frigorífico não tem boi, e pecuarista não tem frigorífico”.

Entre as iniciativas para aprimorar as relações, estão desde a utilização das estatísticas do gado fornecido pelos milhares de produtores — os produtores podem melhorar a produtividade a partir da comparação de dados — até campanhas sobre as formas de vacinação contra o vírus da febre aftosa. Os pecuaristas sempre se queixaram de que a reação à vacina prejudica o ganho de peso dos animais.

A mais recente medida da JBS para se aproximar dos pecuaristas ocorreu na semana passada, e deve ser anunciada nesta quinta-feira. Aproveitando o vácuo deixado pela Marfrig Global Foods, segunda maior indústria de carne bovina do país, a JBS assinou uma parceria com a Associação dos Criadores de Nelore do Brasil, fundada há 65 anos.

Por meio da parceira, a JBS oferecerá aos pecuaristas associados à entidade bônus de até 8% sobre o preço do boi gordo, a depender do rendimento de carne do animal e da qualidade da carcaça. Nos últimos 15 anos, parceria nos mesmos moldes existia com a Marfrig, mas a empresa decidiu romper o acordo unilateralmente no fim de janeiro.

“Há males que vêm para o bem. Em quatro ou cinco dias, a situação se inverteu”, afirmou El Aouar, presidente da associação e pecuarista na cidade de Carlos Chagas (MG). “Durou 15 anos a parceria com a Marfrig e, nesse tempo, cumpriram o que foi combinado”, ponderou.

Na prática, a parceria com a JBS será maior do que existia com a concorrente. Se antes os associados da entidade contavam com sete unidades em quatro Estados — São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás —, com a JBS a parceria abarca os 36 abatedouros da companhia.

A mudança deve ampliar o número de bovinos abatidos por meio da parceria com a Associação de Criadores de Nelores no Brasil. Em 2018, a Marfrig abateu cerca de 380 mil cabeças. “Com certeza, crescerá bastante”, disse El Aouar, sem projetar um número. A ampliação ajudará a associação, que recebe um percentual sobre a receita dos pecuaristas.

De acordo com Costa, o gado da raça nelore — predominante no Brasil — que integrar a parceria poderá ser parte da matéria-prima da carne comercializada com a marca Friboi Maturatta. O executivo não comenta, mas a parceria também poderá ajudar a JBS em uma linha de carne de bovinos “grass fed” — alimentados exclusivamente com pasto que está sendo desenvolvida pela empresa para os mercados da China e da União Europeia.

 

Fonte: Valor Econômico