Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto

 

Em janeiro, a relação de troca de boi gordo por sacas de milho piorou em praticamente todas as praças brasileiras.

O movimento é sazonal, já que o início do ano costuma pressionar para baixo o valor do animal terminado, enquanto o principal insumo do setor, o milho, mantém preços firmes no período de entressafra.

Além disso, a valorização do cereal a partir de outubro do ano passado foi o principal fator para estreitar o poder de compra do pecuarista. Entre outubro/18 e janeiro deste ano, o grão subiu 6,80% em São Paulo, passando da média naquele mês, em R$ 36,45/sc, para R$ 38,91/sc em jan/19 (CEPEA).

É verdade que o boi gordo também se valorizou no período, ganhando fôlego na esteira do aquecimento da demanda interna no final de 2018, com importante ajuda das exportações. Entretanto, a intensidade da alta foi menor, já que avançou 2,45% entre outubro e janeiro – a média de preços em jan/19 ficou em R$ 152,23/@.

E embora a relação de troca registre recuo gradual nos últimos 4 meses, o poder de compra ainda se sustenta acima de 3,90 sacas de milho por arroba, consequência do mercado pecuário firme neste início de safra de capim – para título de comparação, a média ao longo de 2018 ficou em 3,80 sacas por arroba.

 

O milho subiu mais forte em SP após a mínima de outubro, comprometendo de forma mais rápida o poder de compra do produtor naquela praça.

Já pelo interior do país as tendências foram mistas nos últimos meses e, de modo geral, o milho também sofreu pressão positiva, mas com maior intensidade apenas a partir de novembro ou dezembro.

Ou seja, a relação de troca não se deteriorou de modo tão rápido no restante do país. Aliás, foi reajustada para cima até o pico em novembro/18.

Outro destaque fica para Minas Gerais, onde o poder de compra alcançou a máxima em dezembro/18. O motivo foi a acomodação mais expressiva do milho, que caiu em torno de 5% entre outubro e novembro.

A tabela 1 reúne as relações de troca dos últimos 5 meses em algumas importantes regiões produtoras. Ao final, há um mini gráfico com o objetivo de ilustrar o movimento ao longo do período analisado – cada barra corresponde a um mês, com a primeira referenciando set/18 e a última jan/19.

Para os próximos meses a relação de troca deve manter a tendência atual, seguindo a sazonalidade para este período do ano e comprimindo o poder de compra.

A expectativa para a arroba é de leves ajustes conforme a oferta de animais terminados se amplie ao longo da safra de capim, embora as cotações devem se manter mais altas na comparação com os mesmos períodos de 2018, especialmente dado o período de forte veranico vivido entre dezembro e janeiro, que amplia o prazo necessário para engorda a pasto.

Já o milho deve seguir com cotações valorizadas, ao menos nas próximas semanas, resultado de uma relação ajustada entre a oferta e a demanda nesta temporada. As variações para o cereal dependerão ainda do rendimento da 2º safra (safrinha), que segue em aberto.

Neste sentido, o clima será substancial, e espera-se que o fenômeno climático El Niño continue mantendo as temperaturas elevadas e comprometimento da distribuição de chuvas. A partir de março ele pode perder força e, se confirmada tal expectativa, geraria melhores condições para o desenvolvimento do milho com alívio das suas cotações.