Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto
O mercado já esperava recuo do consumo doméstico em janeiro, um movimento comum e sazonal para o período, quando as contas se acumulam e o poder de compra se contrai.
E o reflexo de demanda mais fria aparece sobre a cotação das proteínas no atacado. Observe pelo gráfico 1 que todas as carnes perderam valor após o período de festas.
Neste sentido, a carcaça casada bovina já recuou 5,92% desde o início do ano, e o patamar de preços acima de R$ 10,00/kg – que vinha se mantendo desde a metade de novembro – agora foi perdido.
O escoamento mais fraco da carne bovina no atacado acende um alerta para seu impacto sobre o valor da arroba, uma vez que o consumo menor também reduz a necessidade de originação pelos frigoríficos e a pressão positiva que a arroba registrou no final de 2018, agora, perde força.
Aliás, a diferença de preços entre o valor de venda da carne no atacado e o valor do bovino terminado (spread) também passa por importantes ajustes neste mês – gráfico 2.
Observe a relação estreita entre o valor da arroba bovina e da carcaça casada no atacado, com ambos os indicadores subindo a partir do início de novembro – em resposta ao fortalecimento do consumo combinado com exportações aceleradas naquele período.
Na sequência, o preço do boi casado escorrega no início deste ano, enquanto a arroba registra suporte mais forte.
E essa dinâmica entre as cotações pressionou negativamente o spread da indústria, que após ganhar proporções cada vez maiores a partir de outubro, agora retorna a patamares negativos que não eram registrados desde agosto/18.
Entretanto, vale destacar que na média para janeiro, o spread continua trabalhando em patamares positivos – ficando com parcial para o mês em +1,80%.
Portanto, aqui ficam as primeiras conclusões desta análise: a queda rápida do preço da proteína bovina no atacado confirma o menor consumo doméstico, que deve continuar no centro da mesa para a precificação da arroba no médio prazo.
Além disso, as acomodações dos preços no atacado alteraram para baixo o spread da operação, caindo 9,00% desde o início do ano.
O recuo desestimula as negociações por parte da indústria, que tem comprado matéria-prima da “mão para a boca” – em linha com o escoamento mais lento do atacado e com cautela para não pressionar para cima o valor da arroba.
O menor ímpeto de compra dos frigoríficos reflete nas programações menores de abate, que nos últimos 30 dias recuaram 16,70%. Com isso, São Paulo registrou a maior variação negativa, caindo de 9,70 para 6,80 dias.
Já na comparação semanal, a variação entre as programações é menor, com os frigoríficos praticamente mantendo as escalas atualmente mais curtas.
Portanto, é nesta relação entre demanda mais fraca e menor disponibilidade de animais prontos que o mercado pecuário tem equilíbrio, refletindo em referência de preços sustentadas e praticamente andando de lado.
Nas próximas semanas, o consumo pode exibir alguma reação no início de fevereiro, mas de modo geral, deve continuar fragilizado.
E a oferta de animais prontos deve seguir compassada, sentindo também o efeito negativo do clima quente e seco sobre as pastagens, especialmente em dezembro. Já a partir da 2º metade de fevereiro, com consumo lento e oferta relativamente maior, o efeito da safra pode se exibir mais forte sobre as cotações.