Por Gustavo Machado – Eng. Agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto
Resumo da semana:
O ano começa a passos lentos, e players do mercado pecuário aguardam por confirmação da demanda interna e por maior volume de negócios no mercado físico antes de se posicionarem.
Vale destacar que as programações de abates variam entre as regiões, mas de modo geral, atendem até metade de janeiro.
No MT as programações mais estreitas podem aquecer as cotações, enquanto que algumas praças de GO e do PA mostram maior disponibilidade de animais terminados.
As exportações seguem aceleradas, oferecendo suporte de preços para a carne bovina no atacado. Mas que também segue firme neste período de maior demanda doméstica.
E assim, uma tendência mais clara para o valor da arroba deve se registrar nos próximos dias, na esteira de um mercado mais aquecido.
- Na tela da B3
Na 1º segunda-feira útil do ano (07/jan), os contratos futuros do boi gordo na B3 (antiga BM&F) se mostraram praticamente sem liquidez.
Nem mesmo o último fechamento do indicador CEPEA subindo 2,72% foi suficiente para dar fôlego para os contratos.
Na verdade, devido as variações bruscas para a referência da Esalq (possivelmente pelo impacto do número restrito de amostras), o indicador tem menor peso para posicionamento em bolsa neste momento.
A questão é o ano praticamente começa agora, e assim, players do mercado financeiro, produtores e indústrias devem testar o mercado nos próximos dias – buscando pelo equilíbrio de preços.
E ainda, com os contratos em bolsa nos maiores patamares recentes, é arriscado se posicionar na expectativa de novas altas (mesmo com o indicador sendo revisado para cima). Especialmente com a possibilidade de o consumo doméstica derrapar na 2º metade do mês.
Em resumo, temos liquidez muito restrita neste momento (o que dificulta formação da curva futura), a possibilidade de ajustes negativos está no radar, e por fim, se mantém oportunidades de hedge para este período de safra de capim.
- Enquanto isso, no atacado…
O período de aquecimento da demanda interna nesta época do ano, pressionou para cima o valor da carcaça casada bovina no atacado. Com a média paulista subindo 4,60% desde o início de dezembro.
Atualmente, o boi casado tem parcial em torno de R$ 10,50/kg.
Já a carcaça especial suína avançou 1,73% no mesmo período, enquanto o frango resfriado recuou 1,50%.
Com a proteína bovina fortalecida no atacado, o spread (diferença de preços entre o equivalente físico no atacado e o valor da arroba) também seguiu ampliando a sua média a cada mês –tendência registrada desde agosto/18.
E considerando os primeiros dias de 2019, o spread em janeiro tem parcial em 5,35% – ganhando 1,80 p.p. ante a média de dezembro – que ficou em 3,55%.
A expectativa é que o valor da carne bovina no atacado tenha correções para baixo, especialmente com a oferta ficando gradualmente maior ao longo do período de safra de capim enquanto a demanda se ajusta neste período do ano.
Mas mesmo que o spread registre algum alívio, ainda se mostra distante de voltar a patamares negativos no curto prazo.
- No mercado externo
O país contou com um desempenho surpreendente positivo para as exportações de carne bovina em 2018.
E assim, o Brasil deve totalizar envio total de 1,74 milhão de toneladas, avanço de 10,75% em relação ao volume embarcado em 2017. O faturamento deve subir em torno de 8,0% para US$ 6,54 bilhões.
Se confirmado, será um volume recorde, com a Ásia e o mercado Árabe puxando as importações. E neste ano, o retorno da Rússia oferecer novo fôlego aos embarques.
Aliás, as exportações aquecidas foram importantes para enxugar os estoques de carne no atacado, sendo um fator importante para o viés altista.
Para 2019 as perspectivas são positivas, e mais informações podem ser encontradas neste Link.
4. O destaque da semana:
As exportações aquecidas e a carne bovina no atacado com preços firmes, são fatores que sugerem importante suporte às cotações da arroba.
Mas o destaque da semana fica para a baixa liquidez. Ou seja, o avanço das negociações no balcão com reflexos sobre os contratos futuros, podem alterar o atual equilíbrio de preços – com ajustes também para a curva futura na B3.
Ou seja, este início lento de 2019 ainda não mostrou claramente qual será a tendência de preços. E por enquanto, dependerá especialmente do desempenho do consumo doméstico e da inclinação vendedora.
Uma queda de braço pode começar nas próximas semanas.
5. E o que está no radar…
No radar fica a possibilidade de consumo interno esfriar na segunda metade de janeiro. Além disso, o fenômeno climático El Niño também tem elevado as temperaturas enquanto diminui o volume de chuvas.
E a estiagem pode impactar negativamente o suporte das pastagens, ampliando a pressão vendedora.
No médio prazo, se o cenário acima se confirmar, o equilíbrio de preços pode sofrer acomodações.
Um abraço e até a próxima semana!