Por Lygia Pimentel é médica veterinária, pecuarista e sócia-diretora da Agrifatto.
Não é novidade que a crise detonou o poder de consumo do brasileiro. Há mais de um ano os noticiários trazem dados sobre como a inflação tem impactado os bolsos. A última novidade mostra como a desigualdade baixou, mas a pobreza aumentou em todas as classes (leia aqui).
Dito isso, voltemos àquela máxima sobre a elasticidade-renda. Se aplicada ao consumo de carne bovina, ela nos indica o quanto o seu consumo aumenta ou diminui de acordo com a renda do cidadão. No Brasil, para a carne bovina, a elasticidade-renda fica em 0,5, ou seja, para cada 10% de alta para a renda, o consumo de carne bovina cresce 5%. O contrário também é verdadeiro.
Gráfico 1.
Evolução do rendimento médio mensal no Brasil.
Fonte: IBGE/Agrifatto.
Como mostra o gráfico 1, desde 2014 a renda do cidadão tem regredido, o que obviamente mostra também seus efeitos sobre o consumo per capita de carne bovina, respeitando a relação elasticidade-renda da demanda. E complementarmente, como efeito colateral, a solução que o cidadão encontrou foi substituir a carne bovina pesadamente por um concorrente que não está entre os preferidos na mesa do brasileiro, mas com certeza está entre os mais baratos: a carne de frango.
Observe o gráfico 2.
Gráfico 2.
Evolução do consumo per capita de carne bovina e carne de frango (kg/hab/ano).
Fonte: Agrifatto.
Não à toa, pela primeira vez em 15 anos, o consumo per capita de carne bovina no Brasil atingiu um nível inferior a 30 kg/hab/ano. E a resposta a isso parte dos frigoríficos e a queda de seu interesse pela compra de animais terminados. O indicador que nos mostra isso é o volume total de animais abatidos nos últimos 3 anos. Observe o gráfico 3.
Gráfico 3.
Evolução anual do volume de animais abatidos no Brasil.
Fonte: Agrifatto.
Por esse motivo, 2016 foi um dos piores anos em termos de rentabilidade para o pecuarista. Considerando a produtividade por área, quem produziu menos de 6@/ha/ano ficou no vermelho. E o pior: pela natureza produtiva da pecuária brasileira (a pasto), talvez o produtor nem tenha percebido isso.
Esse diagnóstico não se aplica àqueles que fizeram o hedge, ou seja, travaram preços antecipadamente. Houve boas chances de remuneração ao longo deste ano e ela definitivamente mostrou sua importância como nunca em 2016.
Por esse motivo, a principal lição aqui é ficar de olho nos números da propriedade e conhecer seus custos de produção. Isso ajuda no planejamento e na gestão dos riscos da atividade.
Até a semana que vem!