As negociações entre os Estados Unidos e a China sobre o comércio bilateral começaram oficialmente ontem à noite com um telefonema entre o secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, e o vice-primeiro-ministro chinês, Liu Heying.
Segundo o Ministério do Comércio da China, a conversa girou em torno da implementação das medidas acertadas entre o presidente do país, Xi Jinping, e seu par dos Estados Unidos, Donald Trump, durante a reunião ocorrida paralelamente ao encontro do G-20 (grupo que reúne economias mais industrializadas e países emergentes), no início deste mês.
Nenhum outro detalhe foi divulgado, mas a conversa entre representantes dos dois países ajudou a diminuir a preocupação do mercado com a possibilidade de nenhum acordo ser formalizado em função da constante tensão entre China e Estados Unidos.
No início deste mês, Trump e Xi chegaram a um acordo para evitar o agravamento da guerra comercial, firmando o compromisso de evitar novos aumentos em tarifas de importação durante um período de até 90 dias. Durante este período, os dois países vão negociar um acordo bilateral para o comércio.
O mercado ficou em dúvida sobre as chances de sucesso desta nova rodada de negociações porque, ao menos inicialmente, a comunicação do acordo por Estados Unidos e China mostrou dissonância.
A Casa Branca afirmou em nota que Trump concordou em manter em 10% a sobretaxa aplicada a US$ 200 bilhões em produtos importados da China, em vez de elevar a alíquota para 25% a partir de janeiro do ano que vem. A condição para isso seriam concessões da China em relação à política de transferência de tecnologia, proteção da propriedade intelectual e a redução de barreiras não tarifárias a produtos norte-americanos.
O compromisso em relação às tarifas também foi relatado em comunicado do Ministério de Relações Exteriores da China, mas sem o cronograma de 90 dias – apresentado somente pelos Estados Unidos – e sem enumerar quais seriam os pontos críticos da negociação.
Os dois lados também indicaram que a China se comprometeu a ampliar as importações de produtos feitos nos Estados Unidos. A Casa Branca falou que os chineses fariam compras “muito substanciais” de produtos agrícolas norte-americanos e de outros itens, mas os chineses disseram que ampliariam as importações “em linha com as necessidades de seu mercado doméstico e de sua população.”
O receio de que as chances de um acordo comercial eram baixas aumentou logo em seguida porque, dias depois de anunciado o consenso entre Trump e Xi, o presidente norte-americano voltou a ameaçar a taxação de produtos chineses, chamando a si mesmo de “homem da tarifa”.
A situação piorou depois que o Canadá prendeu a executiva-chefe de finanças da Huawei, Meng Wanzhou, a pedido dos Estados Unidos, que a acusam de violar sanções impostas ao Irã. O incidente gerou temores de que a tensão diplomática enfraqueceria o compromisso chinês com as negociações.
Esse conjunto de fatores pesou sobre o mercado financeiro global na semana passada. Os índices acionários dos Estados Unidos terminaram a primeira semana de dezembro com mais de 4% de queda, com declínios perto desse nível observados também nos mercados europeus. (CMA)