Por Lygia Pimentel. Médica veterinária, pecuarista e sócia-diretora da Agrifatto.

Na semana passada, iniciamos uma série de análises conjunturais que têm como objetivo traçar a dinâmica do mercado pecuário para os próximos trimestres.

Começamos com a análise do ciclo pecuário e suas ramificações, com o incentivo ao abate de fêmeas, as margens da atividade de cria e seus efeitos sobre o futuro da atividade pecuária no Brasil.

Não podemos nos esquecer, porém, que eventos macroeconômicos possuem grande poder de influência sobre os preços, já que a economia tenta esclarecer os eventos que implicam o equilíbrio que levam os preços para patamares determinados.

Hoje trataremos das exportações de carne bovina.

Pela primeira vez o Brasil conseguiu embarcar uma carga de carne bovina in natura para os Estados Unidos. Após muitos anos de negociação, os planos se concretizaram e entramos no mercado norte-americano.

É claro, além de um trabalho muito bem feito por parte dos intermediadores da negociação, temos que ter em mente: as negociações acontecem porque alguém necessita de determinado produto, e não somente porque temos algo a oferecer.

Em outras palavras, houve uma forte seca que acometeu os EUA entre 2010 e 2012, além dessa estiagem ter caído exatamente na fase de baixa do ciclo pecuário norte-americano, quando a rentabilidade do produtor está comprometida. Com isso, o preço dos grãos inviabilizou grande parte das operações de engorda de bovinos por lá, o que fez com que os pecuaristas fossem emparedados e começassem a liquidar seu plantel.

Com o tempo, sentiram a falta dos bezerros das fêmeas que foram abatidas, a seca passou e o preço da carne subiu até novas máximas históricas dentro de um cenário de rebanho contraído.

Gráfico 1.
Evolução da produção de carne nos Estados Unidos (mil TEC).

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Fonte: USDA/FAO/Agrifatto.

O gráfico 1 deixa clara a tendência que levou a produção de carne bovina norte-americana ao menor nível observado nos últimos 22 anos (!!).

Portanto, a verdade é que, invariavelmente, os americanos necessitam buscar outras fontes de carne bovina para manter o país abastecido. Dito isso, não é coincidência que tenhamos conseguido colocar nosso produto no mercado do Tio Sam exatamente agora.

É um bom prenúncio para as exportações brasileiras, que devem continuar se desenvolvendo nos próximos anos, mas não elimina o fato de que uma condição específica do mercado norte-americano facilitou a entrada do nosso produto lá.
Dentro desse contexto, ainda cabe uma análise da renda do norte-americano e seu consumo per capita de carne bovina, além de suas exportações.

Este foi um exemplo de como situações internas dos países importadores interferem no volume exportado brasileiro.
Assim, o objetivo desta análise é clarear a vista e trazer as expectativas de volume embarcado próximas da realidade mais do que da idealização.

O futuro da pecuária brasileira é muito promissor, especialmente no que tange a produtividade por área e a aplicação de tecnologia, mas isso ainda leva algum tempo para acontecer e as exportações caminham nesse mesmo ritmo em termos evolutivos.

Dentro deste contexto, devemos encerrar 2016 com um volume embarcado 6% acima do total registrado em 2015 que, por sua vez, foi 12% menor do que o registrado em 2014. Em outras palavras, não recuperamos o que perdemos em 2015. Dentro desse contexto, esperamos faturar 3,5% menos em 2016 do que faturamos em 2015, consequência da valorização cambial após a queda do governo Dilma II.

Gráfico 2.
Evolução mensal das exportações totais de carne brasileira (TEC).

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Fonte: Secex/Agrifatto

Em 2017, o volume embarcado deve se aquecer em decorrência da maior oferta de animais terminados disponíveis aos frigoríficos e sua consequente desvalorização, o que aumentaria a competitividade de preços da carne bovina no exterior. Mas isso, por enquanto, vem apenas para compensar o aumento da oferta de animais combinado com o assassinato do consumo per capita de carne bovina no Brasil, consequência da crise econômica que assola o país.

Assim sendo, bons ventos devem soprar às exportações em 2017, e esperamos que os frigoríficos saibam surfar essa onda de modo a aproveitar a via de escoamento para aliviar o mercado interno.

Novamente, 2017 acende uma luz vermelha sobre as margens dos pecuaristas. Bem vermelha.

Abraços e até a semana que vem.