Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto
Completando uma série de três análises sobre o mercado internacional, o foco agora será para a variação do câmbio em 2018.
A 1ª análise abordou a participação da China (de coadjuvante para principal destino), e o 2º texto voltou-se aos principais compradores da carne brasileira (Exportações: volumes e destinos).
E atualmente, o principal fator a conduzir o dólar é a expansão da economia norte-americana, com a pressão inflacionária sendo calibrada pela elevação das taxas de juros. Soma-se ainda fatores internacionais de risco, como o Brexit, desaceleração da China, tensões sobre o petróleo e intensas disputas comerciais.
A alta consistente da moeda norte-americana se confirma com o dólar avançando dentro de uma cesta de moedas, ficando mais forte mesmo entre seus pares – o euro, por exemplo, já recuou 6,50% nos nove primeiros meses do ano.
E para 2019, a tendência de dólar fortalecido deve continuar, com expectativa de duas ou três rodadas de alta dos juros dos EUA no próximo ano.
Mas a desvalorização acontece especialmente sobre os países em desenvolvimento. E, dentre os países analisados, apenas a Argentina e a Turquia registraram desvalorização mais forte que o real, consequência do grave déficit em conta corrente.
A figura 1 reúne a relação das moedas de países-chaves com o dólar. Para facilitar o entendimento dos gráficos, destaca-se que as curvas em trajetória de queda mostram que a moeda daquele país perdeu força ante o dólar.
No caso da moeda brasileira, além dos riscos no mercado internacional, adiciona-se as eleições presidenciais como um fator de instabilidade, colaborando para novas rodadas de desvalorização.
Observe pela área destacada em azul no gráfico 2, como o real recua mais expressivamente a partir de agosto, se descolando da tendência global.
Na sequência, passado o período eleitoral e com a vitória do atual presidente eleito Jair Bolsonaro, há um movimento de descompressão da moeda, quando o real recupera patamares anteriores.
Destaca-se ainda que a combinação entre as taxas em alta nos EUA com a manutenção da SELIC em patamares baixos no Brasil também colabora para que a pressão sobre o real ganhe força.
Além disso, a aversão ao risco que as eleições trouxeram também podem ser confirmadas pela correlação de 75% entre o câmbio e o nível de incerteza na economia (levantado pela FGV).
Na medida em que o nível de incerteza avança, o dólar é pressionado para cima – gráfico 3.
Ou seja, o Dólar deverá continuar firme ao longo de 2019 – na esteira da aceleração econômica dos EUA e dos riscos internacionais.
Portanto, se a pressão do dólar sobre o real será mais ou menos agressiva, dependerá do ambiente doméstico. Especialmente na força que o próximo governo terá para fazer os ajustes econômicos necessários.
O Real já começa a se aquecer: alta de 2,35% apenas na 3º semana de novembro.
Ou seja, é possível que o câmbio possa fechar próximo aos patamares atuais, mas a partir dos primeiros meses de 2019, a volatilidade deve se ampliar pelo cenário político e pela capacidade do governo em implantar reformas junto ao Congresso.
E ainda, vale a pena destacar que o governo deve propor uma reforma da previdência mais ampla que a proposta neste ano. Se confirmada, além de precisar de mais tempo para ser formulada, uma reforma mais extensa pode incluir maior complexidade e, consequentemente, mais tempo para ser votada e aprovada pelo congresso.
Se o cenário descrito acima se confirmar, muito possivelmente, a pressão do dólar sobre o real pode ganhar ainda mais força.
Mas qual o impacto deste cenário para o agro?
Entre outros aspectos, o câmbio firme aumenta os compromissos da dívida brasileira, reduzindo o orçamento do governo. Além disso, mantém pressionados para cima os custos de produção. Mas também tem como efeito a ampliação momentânea da competição do Brasil no mercado internacional, através do aumento do poder de compra do importador, além de expandir a margem do produto exportado.
Nesse contexto, a tendência é que as exportações mantenham o desempenho positivo em 2019, colaborando para escoar a produção brasileira.
Aliás, as cotações de milho estão lateralizadas na B3, mas preservam os patamares alcançados após valorizações nas últimas semanas.
Os contratos do boi gordo balizam as cotações para 2019 ao redor de R$ 150,00/@, mas poderão se valorizar ao longo da próxima temporada em resposta ao cenário de mercado.