• A guerra comercial entre Estados Unidos e China abriu caminho para o aumento das exportações brasileiras de soja e algodão ao país asiático. No entanto, os norte-americanos sinalizam interesse em um acordo. Caso isso ocorra, a pressão sobre a rentabilidade do produtor deve aumentar.

    A expectativa em torno de um acordo se deve ao encontro dos presidentes dos dois países previstos para o dia 30 em Buenos Aires, na Argentina, durante a cúpula de líderes do G20.

    Para o analista de mercado da INTL FCStone, Vitor Andrioli, há muita incerteza a respeito de um eventual acordo, uma vez que o governo norte-americano tem feito declarações contraditórias sobre o tema. Além disso, as sinalizações positivas de Donald Trump podem ser lidas com ceticismo no contexto das eleições em curso nos Estados Unidos. “O contexto eleitoral traz dúvidas. É provável que um acordo aconteça, mas não se sabe se até o fim do mês.”

    Andrioli avalia que o impacto no agronegócio brasileiro dependerá dos termos em que o acordo for firmado.

    “Se houver apenas a redução das tarifas impostas pela China para a importação de grãos norte-americanos, os produtos brasileiros não terão a competitividade prejudicada”, diz o analista.

    Contudo, se forem determinadas cotas de importação de produtos dos EUA pela China, a decisão poderá ser danosa ao Brasil. “Desta forma seria criada uma barreira para os produtos brasileiros.”

    Segundo pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a soja em grão teve a China como destino de quase 80% das vendas brasileiras da oleaginosa de janeiro a setembro. No período, o país asiático importou 34% do total embarcado pelo agronegócio brasileiro.

    A imposição de tarifa de 25% pelos chineses para a importação de soja norte-americana impulsionou os embarques da soja brasileira, que devem fechar 2018 com recorde de 80 milhões de toneladas, estima a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).

    “Se os dois países voltarem às boas, os embarques no ano que vem podem ter perda”, afirma o diretor da associação, Sérgio Mendes. No ano passado, o Brasil exportou 67 milhões de toneladas de soja. Ele pondera que, com um acordo, o cenário de comércio de grãos voltará ao que era antes da guerra comercial, com Brasil e Estados Unidos competindo pela demanda dos demais mercados pela oleaginosa. “Esse apetite da China [pela soja brasileira] é uma oportunidade que o produtor e as tradings aproveitam, mas que tem fôlego curto”, diz.

    Para ele, a pedra no sapato dos produtores e exportadores é a tabela de fretes, que amplia a desvantagem do Brasil em relação aos Estados Unidos nesta disputa. “Já tínhamos uma desvantagem de US$ 40 a tonelada. A tabela vai custar um adicional de US$ 5 bilhões, sem contar o frete de retorno. É impossível absorver isso.”

    Margens ajustadasDe acordo com o sócio -diretor da MBAgro, José Carlos Hausknecht, caso ocorra um acordo, os volumes de soja negociados pelo Brasil não devem sofrer grandes alterações em razão da forte demanda pela soja. Os preços, contudo, devem recuar, reduzindo as margens dos sojicultores, já pressionadas pelos custos de transporte elevados pela tabela de frete e também pelo aumento dos gastos com insumos em razão do câmbio.

    Desde que a guerra comercial começou, os preços da soja em Chicago registraram queda, ao passo que os prêmios nos portos brasileiros aumentaram, compensando a oscilação negativa em Chicago. “Haverá uma reversão nesse sentido e os preços no Brasil devem ficar menores do que os patamares atuais”, diz.

    Segundo Hausknecht, o produtor plantou a safra 2018/2019 com custo elevado e câmbio próximo dos R$ 4,00 e vai vender com preço menor e dólar mais valorizado.

    O plantio da atual safra da oleaginosa alcançou 60% dos 35,8 milhões de hectares que devem ser cultivados nesta temporada, conforme a consultoria AgRural. (DCI)

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