O dólar tem se sustentado ao redor de R$ 3,70 depois de o mercado precificar a possível vitória de Jair Bolsonaro na corrida presidencial logo após o primeiro turno das eleições, visto a vantagem alcançada pelo candidato na primeira parte da votação e nas pesquisas de intenção de votos no segundo turno.
Caso a vitória seja consolidada no domingo, o mercado aposta em queda imediata da moeda estrangeira. “Pode testar a faixa entre R$ 3,50 e R$ 3,55, mas não de forma sustentável. Porém, pode beliscar sim”, diz o operador da corretora H.Commcor, Cleber Alessie.
Porém, o diretor da corretora Correparti, Ricardo Gomes, não acredita que o dólar tenha espaço para cair a R$ 3,50. “Apesar de esperada, essa queda terá um limite”, diz. Gomes e Alessie reforçam que a queda também pode vir de um fluxo financeiro que está represado à espera do desfecho eleitoral.
Para o diretor da Correparti, o otimismo deve manter-se no “primeiro momento” pós-eleição, indo a R$ 3,60, R$ 3,62. “Depois, o Brasil real estará logo ali para ser encarado de frente. Os desafios são enormes”, pondera.
Ele se refere às reformas estruturais tão aguardadas pelo mercado, como a reforma da Previdência e tributária. Porém, o operador da corretora destaca que a prioridade deve ser a questão fiscal. “É o mais relevante, independentemente se o governo Bolsonaro vai priorizar ou não privatizações, por exemplo”, diz.
Gomes, por sua vez, aposta em um dólar no nível entre R$ 3,70 e R$ 3,75 no fim do ano, já com a equipe econômica definida para o mandato de Bolsonaro. “Mas pode até subir mais. O ambiente político e a oposição não devem dar trégua em um eventual governo PSL, resultando em incertezas e dólar mais alto”, diz.
Contudo, Alessie aposta em mau humor no mercado após a “euforia” com a possível eleição de Bolsonaro, além do cenário externo. “Conforme for definindo o plano econômico e os nomes do governo Bolsonaro, é que o mercado vai reagir. Mas a guerra comercial entre Estados Unidos e China continuam no radar e se não chegarem a um acordo até o fim do ano, o mercado pode azedar mais”, diz.
Desde março deste ano, os Estados Unidos têm imposto supertarifação sobre produtos importados da China. O governo chinês tem respondido à altura, cobrando também tarifas de produtos norte-americanos.
Somado a isso, o diretor da corretora Mirae, Pablo Spyer, chama a atenção para o impacto que o cenário de juros básicos dos Estados Unidos terá sobre a economia de países emergentes. “Mais do que agenda de reformas que precisamos, e lembrando que não há reforma muito favorável, a alta de juros lá vai pegar em cheio os mercados e aqui não será diferente. O dólar vai ficar pressionado”, diz.
Analistas da Capital Economics destacam que a recuperação do País deverá voltar nos próximos trimestres, porém, mais lenta e irregular do que o esperado. Para a equipe, o otimismo quanto ao potencial de reformas favoráveis ao mercado sob o governo PSL parece ter ido longe demais. Um congresso fragmentado torna improvável a grande reforma fiscal. Os preços dos ativos tendem a diminuir à medida que as realidades políticas se tornam aparentes. (CMA)