Entidades do agronegócio e da indústria devem entrar em rota de colisão com o candidato Jair Bolsonaro (PSL), se eleito, por causa de medidas na área de relações externas que podem prejudicar esses dois setores, além da imagem ambientalista do Brasil.

Um das principais queixas de áreas do agronegócio é contra a ameaça de Bolsonaro de deixar o Acordo de Paris, de combate às emissões de carbono, a exemplo do que fez em junho o presidente dos EUA, Donald Trump.

“Obviamente, a gente vê com preocupação uma medida dessa natureza porque o Brasil tem sido protagonista no sentido de reduzir emissões de carbono”, afirmou ao DCI o empresário Eduardo Leão, diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). “Temos uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e o segundo programa de etanol, depois dos Estados Unidos. O mundo inteiro olha nosso programa com muita atenção.”

A Única é uma das 180 organizações que participam da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, que emitiu nota, no dia 18, contra a eventual saída do Acordo de Paris e a unificação do ministérios da Agricultura e Meio Ambiente.

“A permanência do Brasil no Acordo de Paris e a legislação e agendas de conservação ambiental e agricultura sustentável são importantes para o setor, pois garantem a correta valoração da sua produção atual e futura e a inserção brasileira nos mercados internacionais mais exigentes, como a Europa e o Japão”, diz a nota.

Outra crítica, esta vinda de parlamentares, em relação à política externa é a possível transferência dos poderes de negociação comercial do Ministério das Relações Exteriores para a equipe econômica. Nessa linha, Bolsonaro já anunciou que pretende reunir as pastas da Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio Exterior no (Mdic), numa só: o Ministério da Economia.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) protestou contra a proposta. “Os ministérios da Fazenda e do Planejamento desempenham papéis específicos. Quem vai defender as políticas industriais?”, questiona, em nota, o presidente da CNI, Robson Andrade. A entidade desaprova a possível redução unilateral de tarifas de importação, outra proposta de Bolsonaro. Em nota, ontem (22), a entidade defende que a abertura comercial é importante para integração do Brasil ao mercado internacional, e que isso deve ser realizado por meio de acordos comerciais.

“A abertura comercial abrupta é irresponsável e uma temeridade, pois irá agravar o já dramático quadro do desemprego no Brasil”, reclamou também a Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), em nota, no dia 17.

Acordos bilateraisAo estilo Trump, Bolsonaro pretende priorizar a celebração de acordos comerciais bilaterais, entre países vizinhos e abandonar o Mercosul. A preferência, segundo interlocutores próximos do presidenciável, segue a linha defendida pelos principais nomes cotados para o Ministério das Relações Exteriores – os embaixadores Ernesto Fraga Araújo e Luiz Fernando Serra e, como alternativa política, a senadora Ana Amélia (PP-RS).

Também é a opção preferida pelo deputado federal eleito Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP), que deve ser um dos assessores de Bolsonaro em assuntos de política externa. “Precisamos fazer uma avaliação para saber se os acordos supranacionais como esse estão dando certo ou errado. E se estão dando errado e vamos fazer acordos que nos atendam. É o que eu acho que seria razoável”, disse ao DCI.

Para o parlamentar, o Mercosul não cumpre o objetivo para o qual foi concebido. “Nasceu pra fomentar o comércio, mas isso não se materializou, até porque os países acabaram adotando políticas protecionistas”, disse. Segundo ele, o “Mercosul ainda é um órgão burocrático, cerceador de opções e autocrático”. (DCI)