Entidades do agronegócio e da indústria devem entrar em rota de colisão com o candidato Jair Bolsonaro (PSL), se eleito, por causa de medidas na área de relações externas que podem prejudicar esses dois setores, além da imagem ambientalista do Brasil.
“Obviamente, a gente vê com preocupação uma medida dessa natureza porque o Brasil tem sido protagonista no sentido de reduzir emissões de carbono”, afirmou ao DCI o empresário Eduardo Leão, diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). “Temos uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e o segundo programa de etanol, depois dos Estados Unidos. O mundo inteiro olha nosso programa com muita atenção.”
A Única é uma das 180 organizações que participam da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, que emitiu nota, no dia 18, contra a eventual saída do Acordo de Paris e a unificação do ministérios da Agricultura e Meio Ambiente.
“A permanência do Brasil no Acordo de Paris e a legislação e agendas de conservação ambiental e agricultura sustentável são importantes para o setor, pois garantem a correta valoração da sua produção atual e futura e a inserção brasileira nos mercados internacionais mais exigentes, como a Europa e o Japão”, diz a nota.
Outra crítica, esta vinda de parlamentares, em relação à política externa é a possível transferência dos poderes de negociação comercial do Ministério das Relações Exteriores para a equipe econômica. Nessa linha, Bolsonaro já anunciou que pretende reunir as pastas da Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio Exterior no (Mdic), numa só: o Ministério da Economia.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) protestou contra a proposta. “Os ministérios da Fazenda e do Planejamento desempenham papéis específicos. Quem vai defender as políticas industriais?”, questiona, em nota, o presidente da CNI, Robson Andrade. A entidade desaprova a possível redução unilateral de tarifas de importação, outra proposta de Bolsonaro. Em nota, ontem (22), a entidade defende que a abertura comercial é importante para integração do Brasil ao mercado internacional, e que isso deve ser realizado por meio de acordos comerciais.
“A abertura comercial abrupta é irresponsável e uma temeridade, pois irá agravar o já dramático quadro do desemprego no Brasil”, reclamou também a Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), em nota, no dia 17.
Acordos bilateraisAo estilo Trump, Bolsonaro pretende priorizar a celebração de acordos comerciais bilaterais, entre países vizinhos e abandonar o Mercosul. A preferência, segundo interlocutores próximos do presidenciável, segue a linha defendida pelos principais nomes cotados para o Ministério das Relações Exteriores – os embaixadores Ernesto Fraga Araújo e Luiz Fernando Serra e, como alternativa política, a senadora Ana Amélia (PP-RS).
Também é a opção preferida pelo deputado federal eleito Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP), que deve ser um dos assessores de Bolsonaro em assuntos de política externa. “Precisamos fazer uma avaliação para saber se os acordos supranacionais como esse estão dando certo ou errado. E se estão dando errado e vamos fazer acordos que nos atendam. É o que eu acho que seria razoável”, disse ao DCI.
Para o parlamentar, o Mercosul não cumpre o objetivo para o qual foi concebido. “Nasceu pra fomentar o comércio, mas isso não se materializou, até porque os países acabaram adotando políticas protecionistas”, disse. Segundo ele, o “Mercosul ainda é um órgão burocrático, cerceador de opções e autocrático”. (DCI)