Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto
O cereal começou 2018 valendo R$ 32,70/sc (base Sâo Paulo), mas a sua cotação subiu quase 20% logo no começo do ano, e não deve retornar a estes patamares tão cedo.
Desde então, a queda de braço entre compradores e vendedores, câmbio, especulações climáticas e retenção da matéria-prima tem feito a cotação variar para ambos os lados.
Mas existe um fator que alterou a dinâmica do mercado, e que ainda continua em jogo sem prazo para alterações: o tabelamento dos fretes.
Este é o primeiro ponto que indica cotações acima do registrado no início deste ano, quando não havia uma tabela de preços mínimos para o transporte do produto.
E ainda, a análise gráfica indica que o próximo suporte gráfico mais forte se localiza ao redor de R$ 35,00/sc (ainda sob referência paulista). Ou seja, o avanço da liquidez e a ampliação da oferta no início de 2019 deverão pressionar para baixo as cotações, mas com possível resistência a novas quedas neste patamar.
O gráfico 1 reúne o histórico dos preços do milho nos últimos anos corrigidos pelo IPG-DI.
Observe as cotações mais altas entre o final de 2010 e de 2012, patamar acompanhado de outro momento de preços altos também em 2016.
Foram períodos em que a oferta e a demanda se ajustaram, refletidos em estoques de passagem também menores. Veja pelo gráfico 2 como nestes mesmos anos os estoques recuaram (demonstrado em vermelho).
Por isso, os estoques de passagem deverão ser outro importante fator a direcionar as cotações nos próximos meses. E segundo as expectativas da CONAB, os estoques devem se estreitar nos próximos anos, colaborado para suporte mais firme.
Ou seja, três fatores deverão ser fundamentais para os preços nos próximos meses: as previsões de produção da próxima safra, o desempenho das exportações e o ritmo de comercialização do físico, já que definem a disponibilidade do produto nos próximos meses.
Neste sentido, as projeções seguem positivas para a próxima safra de milho. As cotações mais altas deverão ser convidativas ao cultivo do cereal, além da expectativa do fenômeno climático El Niño, que pode contribuir com a frequência e o volume das chuvas. Além disso, a semeadura da soja está adiantada, ampliando as chances de safrinha plantada dentro da janela ideal.
Já as projeções para os embarques que estavam em torno de 30 milhões de toneladas no início do ano, agora se mostram próximos a 20 milhões de toneladas.
As exportações recuaram primeiro pela queda de 17% da produção brasileira, mas também pelo tabelamento dos fretes (que encarece o transporte da matéria-prima até os portos exportadores) e por preços internacionais mais competitivos, especialmente o milho norte-americano e argentino.
Por outro lado, a valorização cambial ampliou o preço médio por tonelada. Se entre janeiro e agosto de 2017 a tonelada valia em média US$ 167,35, no mesmo período deste ano a média fica em US$ 171,30/tonelada.
E assim, o volume embarcado até agosto/18 se mostra 15% menor, com o faturamento caindo 10%, cravando 9,20 milhões de toneladas e US$ 1,54 bilhões (segundo dados do Ministério da Indústria e Comércio Exterior).
Em resumo, o milho perdeu a forte tendência de alta e agora deve equilíbrio em patamares mais baixos.
As exportações menores e o ritmo mais lento de comercialização do físico colaboram para perspectiva de volume maior de matéria-prima disponível no mercado doméstico (limitando o aquecimento da sua cotação).
Por outro lado, os estoques de passagem mais estreitos e a valorização dos fretes também limitam suas quedas, por isso, a perspectiva é que o milho oscile ao redor de R$ 37,00/sc nos próximos meses.
A recomendação é aproveitar este momento para originar parte da matéria-prima e aproveitar os preços menores na composição da média.
Por fim, quando o mercado futuro mostrar equilíbrio mais claro, pode-se comprar contratos em bolsa de modo a proteger as compras futuras. Já o mercado de opções se valorizou com o avanço da liquidez, e no momento, não se mostra como a melhor ferramenta de proteção.