A produtividade média da pecuária tem aumentado, mas com diferenças importantes nas pontas mais e menos produtivas. É o que mostra dados do Rally da Pecuária 2018. Na média, a produtividade evoluiu 17,1% nos últimos cinco anos entre o perfil de público da expedição, porém, do lado menos produtivo (que engloba os 25% de produtores com os menores níveis) houve recuo de 16,8%, enquanto no mais eficiente a alta foi de 26%. “Essa última faixa está se adaptando às exigências do mercado moderno, fazendo intensificação da produção, enquanto as outras estão ficando para trás”, afirma Maurício Palma Nogueira, sócio-diretor da Athenagro, que organiza o Rally.

Para ele, com o processo de intensificação, a pecuária está caminhando para maiores níveis de produção e eficiência e os preços tendem a se adaptar a essa maior oferta, excluindo os pecuaristas menos produtivos da atividade. “A pecuária está se aproximando da realidade da agricultura e vai passar a ser intolerante com a baixa tecnologia”. De acordo com Nogueira, o ponto de equilíbrio (em que despesas e receitas se igualam) do grupo mais produtivo, considerando a projeção para o mercado até o fim de 2018, gira em torno de R$ 100, R$ 105/@, enquanto o dos menos produtivos fica perto de R$ 130. “A partir do momento em que o mercado aperta, os mais produtivos produzem mais, os preços se ajustam a eles e os outros estarão fora da curva”.

O desafio para os produtores, segundo Nogueira, é o de se adaptar a um nível de produtividade mais alto. “Não adianta tentar frear o processo tecnológico”, reforça. Em relação a políticas públicas, ele acredita que o que é possível fazer no momento é ampliar os mercados externos e internos para a carne bovina, facilitar a chegada dela ao consumidor e alcançar os produtores menos tecnológicos, o que Nogueira afirma ser bastante custoso. “Isso pode dar tempo para esses pecuaristas se ajustarem à alta tecnologia. Mas, se pegar o Censo, para cada ‘produtor médio’ do Rally, temos quatro que conseguiríamos trazer para o jogo, transformá-los em competitivos, mas precisaríamos de muitos recursos para me comunicar com ele, e mais ou menos de 8 a 12 que não vão conseguir acompanhar a atividade”.

Entre as razões para a baixa adoção de tecnologia, Nogueira cita a falta de conhecimento e problemas de gestão. “Muitos decidem que a tecnologia não é boa, porque fazem a conta do custo. Pensam ‘ah, se eu adubar, meu custo vai ser alto’. Mas não olham para a receita”. Fábio Dias, diretor de Relacionamento com o Pecuarista da JBS, concorda que a gestão é um gargalo importante. “Ao não ter gestão nenhuma, os pecuaristas muitas vezes não conseguem nem perceber onde estão. E você precisa de uma boa gestão para aplicar tecnologia”.

Para Carlos Aguiar, diretor de Agronegócios do Santander, está claro nas modelagens de rentabilidade do banco que “existe uma turma que não vai chegar lá”. “A tecnologia está atropelando muita gente. Não tem condição de manter o boi a pasto e só dar um pouquinho de sal para ele. Não existe rentabilidade nem para a sustentação da pessoa muito menos para pagar empréstimo nesse nível tecnológico. O que fazemos no Rally com palestras, orientações, é o melhor que podemos fazer para o pecuarista”.
Concentração
De acordo com dados do Rally, que recebeu respostas de 649 produtores, as propriedades com produtividade acima de 26@/ha/ano representam 11% do total (veja gráfico abaixo), mas vendem 60% das arrobas da amostra. Na outra ponta, as unidades com níveis abaixo de 6@/ha/ano correspondem a 39% do número de fazendas, porém comercializam apenas 9% das arrobas. “Em Aquidauana, MS, um produtor veio e disse: ‘eu não vejo esses pecuaristas mais tecnificados comprando fazendas’. E eu perguntei: mas você vê ele tendo um rebanho maior e vendendo mais? ‘Isso eu percebo’. E esse é o raciocínio. Esse grupo mais produtivo está concentrando vendas, mas logo vai concentrar terras também. A situação de mercado vai ficar mais favorável para ele do que para quem não tem tecnologia e ele vai encarar crédito, vai começar a agregar terras”, diz Nogueira.
Tecnologias
O Rally da Pecuária 2018 também compilou a taxa de adoção de tecnologias por nível de produtividade das propriedades. Nas fazendas com taxa acima de 60@/ha/ano, o uso de dietas sofisticadas, que resultam em maior ganho de peso, é de 100%. Já na faixa até 3@/ha/ano, o nível fica em 54%.

Já a porcentagem de pastagens com aplicação de fertilizantes em superfície e/ou integração lavoura-pecuária (ILP) nas propriedades com produtividade de mais de 60@/ha/ano é de 90%, enquanto na outra ponta o valor é de 13%. “O gargalo da pecuária é esse. Não tem como conduzir uma fazenda de alto desempenho tratando pasto como sempre tratamos na pecuária brasileira. Ou trata como agricultura ou não tem pecuária de alto desempenho”.

O uso de crédito também cresce conforme aumenta o pacote tecnológico, mas as maiores porcentagens se concentram nas faixas de 9 a 26@/ha/ano. “Sempre vem a pergunta de se a pecuária paga crédito. Se ela dá mais lucro no mesmo nível de tecnologia que a agricultura, claro que paga crédito. Inclusive tem fazenda com mais liquidez, porque na de alta tecnologia você pode fazer dinheiro a qualquer momento com o rebanho disponível. Na agricultura tem o ciclo de plantio-colheita. O risco da pecuária é menor”, afirma Nogueira. De acordo com ele, uma propriedade de ciclo completo com produtividade acima de 20@/ha/ano já começa a ser competitiva em termos financeiros com uma fazenda de soja e milho. (DBO)