Marco Guimarães é estagiário pela Agrifatto
Lygia Pimentel é consultora pela Agrifatto
Ao longo de setembro, a pequena oferta de animais terminados fez com que os frigoríficos encurtassem as escalas de abate e oferecessem preços maiores pela arroba.
O fortalecimento se deu, principalmente, por três fatores: bom ritmo das exportações, alta da carne no atacado e oferta restrita de bois, que causou encurtamento das escalas de abate.
Os valores negociados na B3 apresentaram pequena volatilidade ao longo da última semana, lentamente ajustando os valores dos contratos futuros para os meses curtos em relação ao que era efetivado como negócio no mercado físico.
Ao comparar as três primeiras semanas de agosto e setembro, é possível perceber que a média das escalas no Brasil pecuário caiu de 6,9 para 6,2 dias úteis, um ajuste de -10,1%. Entretanto, ao longo de setembro a duração das programações aumentou gradualmente, principalmente impulsionada pelas praças onde o período seco foi mais curto.
Considerando a média do Brasil pecuário, e ainda levando em conta que as escalas nas praças localizadas mais ao Norte estão alongadas pelo regime de chuvas, nota-se que na última sexta-feira (21/set), essa média subiu pontualmente para 7,9 dias, contribuindo para que a média semanal subisse para 6,2 dias.
É imprescindível considerar a grande variação entre as escalas nas diferentes praças, dado o cenário de forte estiagem que acomete o Brasil Central.
Em Minas Gerais há regiões que não veem chuvas desde fevereiro, enquanto no MS as chuvas cessaram em março, retornando apenas agora e ainda sem duração e volume necessários para melhorar as condições de suporte das pastagens, que atualmente é crítica nessas regiões. O mesmo ocorre em Goiás, por exemplo.
Fica claro, assim, que a oferta de animais está concentrada nas praças que se aproximam da região Norte ou estão inseridas nela.
Com o primeiro giro do confinamento fraco, resposta à alta do milho, a falta de oferta tem dado o tom ao mercado. Assim, o indicador Cepea do boi gordo avançou 3,60% em agosto, fechando o mês em R$ 146,80/@. Em setembro, até o momento (19/set) a arroba avançou 2,86%, encerrando a última sexta-feira cotada em R$ 151,00/@.
Já no mercado futuro, os contratos para outubro, novembro e dezembro, após terem negócios realizados a R$ 153,00/@ (ou mais), perderam força a partir do dia 13/set e vem sofrendo ajustes na maioria dos pregões, recuperando um pouco na última sexta-feira (21), quando o contrato futuro para outubro fechou a R$ 151,75/@.
As exportações brasileiras de carne in natura estão em bom ritmo, principalmente motivadas pelo câmbio valorizado, que chegou a R$ 4,20 em 13/set, maior patamar desde a criação do Plano Real, e vem se mantendo acima de R$ 4,00 ao longo desse mês.
Após agosto/18 superar o recorde histórico de volume exportado em 4,50% (144,4 ante 138,2 mil toneladas), as duas primeiras semanas de setembro se mostram animadoras e, se mantiverem o ritmo, os embarques poderão somar 153,7 mil toneladas, um novo recorde.
O preço da carne no atacado em setembro não seguiu a sazonalidade de queda na segunda metade do mês, e encerrou a terceira semana de setembro a R$ 10,10/kg, alta de 4,77% nesse mês.
O movimento pode ser justificado pela influência da campanha eleitoral no dinheiro circulante na economia.
Assim, o movimento atual pode ser considerado consistente e conduzido tanto por uma oferta escassa como por um consumo melhor, interno e externo. Mesmo assim, o mercado futuro resiste em romper resistências, mas há motivo para tal.
Dentro das perspectivas para os próximos três meses, podemos considerar os seguintes fatores:
- A longa duração do período seco no Brasil Central tem causado incêndios e derrubado fortemente a qualidade das pastagens, o que força o produtor a engordar o animal com a utilização de milho. Aliás, a relação de troca do boi gordo com o milho alcançou seu melhor patamar desde julho, o que ajuda a encorajar a suplementação neste momento crítico. Isso deve fortalecer o segundo turno e poderá aumentar a oferta em um momento frágil para a demanda;
- O momento seria mais frágil para a demanda interna pois a partir do fim das eleições o volume de dinheiro injetado na economia pelos gastos com campanhas eleitorais reduz, o que pode dificultar um pouco o escoamento a partir da segunda metade de outubro;
- Sazonalmente, as exportações costumam atingir seu ápice em outubro, o que deixaria espaço para que elas desacelerassem lentamente a partir de então, também desacelerando um pouco o ritmo das vendas internacionais.
Dada a curva sazonal, a conjuntura de mercado e a baixa volatilidade dos contratos futuros curtos, é possível afirmar que o momento é positivo para a negociação antecipada da produção.