Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto
Marco Guimarães é estagiário pela Agrifatto
Na primeira quinzena de agosto, a cotação do boi gordo avançou 1,42%, alavancado principalmente pela escassez de oferta de animais.
Sabe-se que a demanda interna de carne bovina é diretamente afetada pelo poder de compra da população, e em momentos de restrição orçamentária o comportamento de consumo tem alteração, elevando-se a procura por proteínas alternativas – especialmente a carne de frango.
Com o aprofundamento da crise econômica no Brasil, este foi o cenário observado nos últimos anos. Com a taxa de desemprego e informalidade gradualmente mais altos, o consumo de carne bovina caiu sucessivamente nos últimos 3 anos.
Entre 2013 e 2016, houve uma queda de 12,46% do volume per capita de carne bovina consumida no Brasil.
Felizmente, em 2017 houve um avanço da demanda, porém ainda se mantém 8,33% abaixo da média de 2013.
A reação do consumo também cumpre o papel de equilibrar as cotações pecuárias, dado o momento do ciclo pecuário de elevação da oferta de animais e maior participação de fêmeas nos abates.
No longo prazo, a oferta maior de bovinos terminados tende a pressionar negativamente o valor da arroba, especialmente quando o consumo vai mal. Já os preços atrativos do boi gordo podem influenciar os pecuaristas a fazer um giro mais rápido de animais, elevando a oferta.
O fato é que o consumo subindo entre 2011 e 2013 colaborou para preços mais firmes, e na esteira, ampliou o volume de abates. Entretanto, o fraco consumo pressionou o equilibro dos preços para patamares cada vez menores (gráfico 2).
O gráfico 2 compreende os dados preliminares de abates do IBGE, além de uma projeção da Agrifatto que considera uma estimativa dos abates para autoconsumo e daqueles sem fiscalização pelo SIF. Combinado ainda com os preços corrigidos pelo IGP-DI no mesmo período.
Deste modo, a estimativa da Agrifatto aponta para a mesma proporção de animais abatidos neste 1º semestre de 2018 em relação ao mesmo período do ano passado. Já os dados do IBGE elevaram os abates neste ano em 4% ante os seis primeiros meses de 2017.
O levantamento do IBGE alimenta uma perspectiva de tímida variação positiva do consumo neste ano, a ser confirmada quando os dados finais e mais completos forem divulgados.
A verdade é que a maior produção de carne bovina com o consumo interno desaquecido, causaram queda dos preços do boi gordo durante os primeiros meses do ano. Entretanto, destaca-se que as cotações estão 0,75% mais altas no primeiro semestre deste ano frente o mesmo período de 2017.
Este cenário também contagiou os preços futuros, e a dificuldade do mercado em se movimentar enxugou a liquidez em bolsa, e o contrato para outubro exibe dificuldades em se manter balizado acima de R$ 150,00/@.
E assim, a projeção para a arroba em outubro indica um avanço com menor intensidade do que a média histórica, imprimindo maior risco para a atividade de confinamento. Se na média dos últimos anos os preços subiram 4,00% entre agosto e setembro, a indicação em bolsa é de alta de 2,82%.
Gráfico 3.
Hipótese de preços para setembro e outubro/2018 (R$/@).
Com as eleições mantendo o cenário nebuloso, a aversão ao risco retira o apetite em investimentos, e a recuperação do mercado de trabalho segue sem fôlego.
Este deverá ser o cenário ao longo dos próximos meses, e assim, apenas uma restrição mais forte da oferta antes da chegada dos animais do 2º giro de confinamento podem aquecer as cotações de modo mais robusto nesta entressafra.