Trigo ofereceu uma das palestras mais esperadas da 27ª Conferência Anual do Consórcio Internacional de Pesquisa em Bioeconomia Aplicada (ICABR), que reuniu em Buenos Aires os mais importantes pesquisadores e cientistas do mundo no tema, durante quatro jornadas de trabalho e discussão

“Estou convencido de que o futuro da nossa região passa pela consolidação da bioeconomia como visão do desenvolvimento”, afirmou Eduardo Trigo, referência mundial em temas de desenvolvimento agropecuário e assessor do Programa de Inovação e Bioeconomia do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). Trigo ofereceu uma das palestras mais esperadas da 27ª Conferência Anual do Consórcio Internacional de Pesquisa em Bioeconomia Aplicada (ICABR), que reuniu em Buenos Aires os mais importantes pesquisadores e cientistas do mundo no tema, durante quatro jornadas de trabalho e discussão.

“Podemos definir a bioeconomia como o aproveitamento dos recursos biológicos para a produção de bens e serviços por toda a economia. Sem dúvida, ela representa uma enorme oportunidade de desenvolvimento para a América Latina e o Caribe, pois essa região é uma das mais importantes, senão a mais importante, plataforma fotossintética do planeta.  Com isso me refiro à possibilidade que temos para transformar a energia solar em energia aproveitável pelo homem. Em consequência, estamos em condições de gerar múltiplas opções à economia fóssil. Isso nos posiciona à frente dos desafios que se apresentam para as próximas décadas, por causa da mudança do clima e da necessidade de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o que ainda estamos muito longe”.

Trigo assim explicou no auditório do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MinCyT) da Argentina, cenário desse encontro científico de alto nível coorganizado pelo governo argentino, o ICABR e o IICA. Nos últimos seis anos, o organismo de desenvolvimento rural do continente tem apoiado os países em temas de conscientização, capacitação, fortalecimento de políticas e promoção de negócios em bioeconomia nas cadeias de valor do setor agrícola do continente.

A região é uma enorme produtora de biomassa, o que abre as portas para um grande desenvolvimento da bioeconomia na melhoria da qualidade de vida dos habitantes das zonas rurais do continente. Neste sentido, o destacado especialista considerou que “a biomassa sempre tem uma dimensão territorial. Eu sempre digo que a biomassa viaja mal, porque é antieconômico transportá-la a distâncias muito longas. Isso faz uma diferença muito grande com o petróleo, relacionando-se ao fato de as concentrações de energia serem muito diferentes. Assim, a biomassa, precisa ser processada e aproveitada localmente, o que significa mudar totalmente o modelo do desdobramento territorial e abre oportunidades muito significativas para as zonas rurais de nossa região”.

Trigo é Doutor em Economia Agrícola pela Universidade de Wisconsin, dos Estados Unidos, e tem uma vasta experiência como consultor de organismos nacionais e internacionais em temas de bioeconomia e na área de ciência e tecnologia aplicada à produção agropecuária. Por isso foi uma das vozes mais ouvidas por mais de 150 cientistas das Américas, Europa e África no encontro de Buenos Aires.

“O fato de essa conferência ser realizada na América Latina reflete a importância da região na bioeconomia global. Estamos diante de uma tremenda oportunidade para interagir com os países mais avançados e os cientistas de maior prestígio. Não estou enganado quando digo que é esse o evento de maior relevância global para a discussão sobre os rumos da bioeconomia”, explicou.
Desde o início dos tempos
Em sua palestra — intitulada “Rumo a uma agenda de pesquisa para a construção da bioeconomia como visão para o desenvolvimento sustentável” — Trigo disse que a bioeconomia, longe de ser uma novidade, é praticamente tão antiga quanto o homem.
“Desde o início dos tempos, a bioeconomia esteve conosco. Não importa como a definimos. Esteve presente em cada sociedade, em seu tempo, ajustada à época. Em cada momento, os conhecimentos para usar o biológico foram aproveitados. Com a agricultura, a fermentação e os biocombustíveis estávamos fazendo bioeconomia sem saber. Portanto, a bioeconomia é algo muito tradicional, mas também muito moderno”, explicou.
Nesse sentido, o especialista disse que, embora a bioeconomia sempre tenha estado baseada sempre no aproveitamento dos recursos naturais para a atividade industrial, há grandes diferenças na sua implementação entre as economias maduras, sob o ponto de vista tecnológico, e os países em desenvolvimento. No caso da região, considerou que o foco deve ser colocado em integrar os pequenos produtores à bioeconomia.
“A América Latina e o Caribe — afirmou — têm 21 milhões de unidades produtivas em agricultura, e dois terços delas são familiares. É um número muito alto para que a bioeconomia possa progredir sem uma proposta coerente sobre como integrar esse setor”.
“A nossa região inclui oito dos 15 países considerados megabiodiversos do mundo, e ninguém mais discute que a diversidade é um recurso estratégico. Devemos avançar em formas de aproveitá-la”, concluiu.
(IICA)