Um eventual avanço da gripe aviária para granjas comerciais e em grande escala no Brasil poderia gerar um impacto anual de R$ 21,7 bilhões para a economia do país, que é o maior exportador global de frango. A estimativa é do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro).
A instituição fez o levantamento sobre o prejuízo econômico nesse cenário hipotético a pedido do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical). O estudo considera os efeitos diretos e indiretos para a exportação, geração de renda, remunerações, impostos e empregos.
Talita Priscila Pinto, doutora em Economia Aplicada e pesquisadora da FGV Agro, afirma que o estudo tem como base a possibilidade de um surto não controlado e em produções industriais — algo que ainda não ocorreu no Brasil, visto que os focos detectados até o momento foram em aves silvestres e um em ave de criação doméstica. “Quando um determinado setor da economia sofre, há um impacto nos demais ligados a ele também (…) A gente não veria esse impacto imediatamente, mas ele vai reverberar ao longo do tempo”, ela avalia.
Apenas para o agronegócio, o prejuízo de forma direta está estimado em R$ 11,8 bilhões. O levantamento também projeta uma queda de R$ 1,3 bilhão na arrecadação de impostos, e redução de R$ 3,8 bilhões na renda para a economia do país. Segundo a especialista, o impacto na aquisição de insumos e transporte, por exemplo, está contabilizado na categoria renda.
Perdas no mercado de trabalho
O levantamento também estima uma perda potencial de 46 mil empregos formais em diversos setores, sendo 26 mil postos de trabalho no agronegócio. Com isso, haveria um impacto da ordem de R$ 1,25 bilhão em remunerações salariais.
Para o presidente do Anffa Sindical, Janus Pablo Macedo, o diagnóstico da FGV Agro tem um importante papel de trazer indicadores e projeções de como a gripe aviária pode afetar negativamente a economia. “O Brasil tem capacidade para agir diante de um eventual surto. Estamos trabalhando em conjunto com o Mapa [Ministério da Agricultura] e os auditores agropecuários estaduais para evitar tais efeitos”, disse ele em nota.
A análise da FGV Agro ainda mostra que para cada perda de R$ 100 no valor das exportações de carnes de aves, o setor de comércio poderia perder R$ 11, ou seja, o impacto indireto negativo para varejistas e atacadistas chegaria a 11% em prejuízos para a cadeia aviária.
Nessa linha, haveria também a redução de 8% na produção de rações animais, feitas a partir do milho e farelo de soja, de 4% no transporte terrestre de cargas, dentre outros segmentos. Procurada para comentar o estudo, a Associação Brasileira de Proteínas Animais (ABPA) preferiu não se manifestar.

 

Estado de emergência
Desde 22 de maio, o Brasil está em estado de emergência zoossanitária devido à chegada da influenza aviária em aves silvestres. Com o estado de emergência decretado pelo Ministério da Agricultura, as medidas para evitar a disseminação da doença no país foram reforçadas.
O Brasil permanece com o status de livre da doença perante a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), uma vez que não foram detectados focos de gripe aviária em granja comercial. No entanto, a enfermidade já foi detectada em aves silvestres nos três Estados do Sul, maior região produtora de frango do Brasil, o que acendeu o alerta no mercado brasileiro. Além disso, também houve um foco em pato de criação doméstica em Serra (ES). Até agora, são 61 focos no total no país.
A maior preocupação da cadeia produtiva é que os países compradores adotem embargos contra o frango brasileiro, algo que só é orientado pela OMSA quando a doença é detectada em produção industrial.
Porém, contrariando a autoridade sanitária internacional, o governo do Japão suspendeu temporariamente as compras de aves e seus subprodutos oriundos do Espírito Santo, devido ao foco na criação doméstica em Serra. O temor do governo brasileiro e da indústria é que outros importadores sigam a decisão do Japão, país considerado altamente rigoroso em vigilância sanitária.
De acordo com o Ministério da Agricultura, as autoridades do Brasil prestaram esclarecimentos ao Japão e aguardam uma resposta do país asiático.
(Globo Rural)