Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto

 

A partir de fevereiro/18 as cotações do milho ganharam forte pressão positiva e, apesar dos ajustes, os valores apenas cederam em maior intensidade com o início da colheita do cereal.

Nos primeiros meses do ano, o foco voltou-se para o escoamento da soja (em viés altista mesmo no pico da safra), o que levou ao encarecimento dos fretes e expressivo fortalecimento do preço do milho.

Além disso, a quebra da safra Argentina e especulações climáticas em torno da safrinha também pressionaram positivamente as cotações no início do ano.

Nos meses seguintes outros fatores entraram no radar. No início de março houve avanço da comercialização do cereal (ampliando-se 12% em 30 dias – IMEA), seguido pela disputa de preços entre as partes devido à capitalização dos agricultores e período de estiagem durante o enchimento dos grãos (causando nova alta dos valores em maio).

O fato é que a partir da colheita da safrinha, a maior oferta da matéria-prima puxou o equilíbrio de preços para patamares menores e o indicador do CEPEA recuou quase 20% entre o início de junho até a última referência do dia 13 de julho/18.

Entretanto, as comercializações do físico estão praticamente paradas a partir do tabelamento dos fretes, com foco na entrega da matéria-prima negociada anteriormente (auxiliando para sustentação dos valores).

Além disso, os preços menores do milho desestimularam a comercialização do cereal, com os produtores priorizando a comercialização da soja (com prêmios em alta), o que também colabora para suporte das cotações.

E ainda, historicamente, as exportações do milho ganham fôlego a partir de junho, avançando até a máxima em outubro (gráfico 2).

Logo, a ampliação dos embarques e as cotações nos portos serão importantes fatores a precificação interna neste 2º semestre.

A respeito dos valores nos portos, a referência do CEPEA em Paranaguá também contou com importante recuo no final de junho, atingindo a mínima recente de R$ 37,05/sc do dia 11 de julho. Voltando aos patamares registrados em 09 de março de 2018 (gráfico 3).

Entretanto, o último indicador já mostrou um reajuste positivo, já que a demanda mundial segue aquecida, impulsionada pela tensão comercial entre China e Estados Unidos no cenário internacional. Com a taxação de 25%, o Brasil se torna alvo de importações, além de os preços menores estimularem o embarque do produto.

Deste modo, os valores nos portos podem, a partir de agora, seguir tendência de alta e puxar positivamente os preços no interior do país.

E ainda, o último relatório do USDA também oferece viés altista aos preços, com queda dos estoques norte-americanos (-1,60%) e dos estoques mundiais (-1,76%).

De modo similar, os cálculos da CONAB também alimentam o viés altista para o cereal. Comparando o último levantamento da companhia em julho com o relatório de janeiro/18, houve queda para a expectativa de produção, ligeira alta para a projeção do consumo interno e importante recuo dos estoques finais.

Perspectivas

Em resumo, o efeito baixista aos preços pela colheita da safrinha parece ter perdido força, já que tanto o indicador do CEPEA quanto o mercado futuro registram recentes reajustes das cotações.

Além disso, os embarques com o cereal devem se ampliar nos próximos meses, e dada a conjuntura de menor oferta brasileira e forte demanda asiática, a perspectiva é de pressão positiva.

Com a tensão comercial no mercado internacional e as eleições presidenciais no Brasil mantendo o câmbio em alta, adiciona-se um fator positivo as exportações brasileiras.

E ainda, existem importantes fatores de risco no radar, como um possível atraso da entrega de fertilizantes, o que pode levar a uma semeadura tardia nesta próxima temporada. Com chances de o milho novamente ser plantando fora da janela ideal, imprimindo maior risco e pressão positiva aos preços.

Outro risco se dá pela possibilidade de menor investimento nas lavouras da próxima safra (em ano de El Niño), já que o tabelamento dos fretes travou a comercialização do mercado.

Neste ano os produtores também estão mais capitalizados, podendo reter a matéria-prima e promover sustentação ao mercado.

A estimativa de cotações gradualmente maiores a partir de agora também é indicada no mercado futuro, com ágio entre as cotações até o início do próximo ano.