(Reuters) – Após despencarem em maio, as importações de fertilizantes pelo Brasil tendem a se estabilizar nas próximas semanas, apontam dados da agência marítima Williams, mas especialistas ainda alertam que o transporte desses produtos até as indústrias e produtores permanece ameaçado pelas incertezas sobre os fretes.

Na semana encerrada em 25 de junho, a Williams indicava a chegada de navios carregados com 5,84 milhões de toneladas de fertilizantes e suas matérias-primas até a segunda quinzena de agosto. Há um ano, o line-up mostrava uma programação de 5,89 milhões de toneladas, sendo Paranaguá (PR) a principal porta de entrada.

A estabilidade contrasta com o desempenho do setor no mês passado, quando protestos de caminhoneiros afetaram diversos setores da economia brasileira. Conforme a Associação Nacional Para Difusão de Adubos (Anda), as importações caíram 8,5 por cento em maio, para quase 2 milhões de toneladas.

O diretor-executivo da Anda, David Roquetti Filho, ponderou, no entanto, que “a situação é preocupante, uma vez que os armazéns começam a ficar lotados decorrentes da insegurança jurídica” criada pela medida provisória (MP) que instaurou uma contestada tabela de fretes.

Criada após um acordo com os caminhoneiros, essa tabela está atualmente nas mãos do Supremo Tribunal Federal (STF), que busca um consenso entre as partes. Por ora, o transporte de commodities até os portos segue prejudicado, e, sem caminhões, o envio de fertilizantes dos terminais até as indústrias, o chamado “frete reverso”, também começa a ser afetado.

CUSTOS

Segundo o diretor-executivo da Associação dos Misturadores de Adubos do Brasil (Ama-Brasil), Carlos Eduardo Florence, “embora tenha navios, há problemas para sair dos portos, para levar (os fertilizantes) para as fábricas”.

“Já estão pagando demurrage”, disse Florence, referindo-se à multa pela demora na entrega do produto pelo navio.

O analista de mercado Fábio Rezende, da INTL FCStone, também comentou que os estoques portuários e de misturadoras nos terminais já estão perto do limite, de modo que isso deve dificultar “nas próximas semanas” o descarregamento de fertilizantes e até levar os navios a desviar as cargas para outros países.

“Estava tendo um atraso de uns dois dias (para desembarque) até a semana passada, o que não é significativo, é até normal. Mas é possível que comece a aumentar o tempo e elevar os custos com demurrage”, destacou Rezende.

“Hoje a gente estima que, na média, para cada tonelada de fertlizantes, paga-se cerca de 8 a 9 dólares de demurrage”, acrescentou o analista.

O fato é que, sem o desembarque, as indústrias tendem a ficar sem os produtos para posterior entrega aos agricultores, podendo prejudicar a programação de plantio da próxima safra de grãos.

Em maio, as entregas já foram 27,3 por cento menores na comparação anual, e segundo Roquetti Filho, da Anda, “o cenário pode piorar ainda mais, uma vez que os índices de sazonalidade de entregas do setor… começam a aumentar nesse período, atingindo seu pico em outubro e ainda fortes até novembro”.

“Estamos envidando todos os esforços para que se retorne a situação de livre concorrência… As plantações não podem esperar o tempo dos homens para receber seus nutrientes adequadamente e se este atendimento não for feito no tempo certo, poderemos ter impactos representativos no volume de produção agrícola e suas externalidades negativas decorrentes.”