Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto
O indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – CEPEA recuou quase 5,00% desde o início do ano, passando de R$ 145,90/@ do dia 02 de janeiro para a última referência em R$ 138,80/@ (21 de junho/18). O movimento pode ser considerado normal, afinal, estamos nos estertores do período de safra.
Já de olho no início da entressafra, os preços pecuários se mostram mais firmes. Além disso, 2018 é ano de eleição e de Copa do mundo.
As eleições possuem uma forte correlação positiva com a valorização da arroba no segundo semestre, mas fica a dúvida sobre qual costuma ser o impacto da Copa do Mundo sobre as cotações.
Para tanto, quando se considera a variação do indicador CEPEA nos meses em que se disputa a Copa do Mundo, nota-se que nos anos de competição, o valor praticado pelo boi gordo subiu em maior intensidade.
Na média, a cotação avançou 1,91% quando o torneio estava presente (em julho com relação ao mês anterior). Sem a Copa, os preços recuaram na média de 0,03% entre os dois meses (gráfico 1).
Nos dois cenários analisados, os preços sobem entre junho e agosto, período de sazonal transição da safra para entressafra. Mas a expectativa de melhor consumo pelo torneio, historicamente, oferece suporte para preços mais firmes.
No mesmo período, os preços do atacado têm tendências opostas em anos de Copa do Mundo frente aqueles sem a competição.
Sazonalmente os preços no atacado ganham fôlego conforme a entressafra exerce pressão positiva. Mas nos anos de Copa do Mundo (com expectativa de alta para o escoamento da carne), o movimento positivo se antecede e normalmente se ajusta depois, em agosto (gráfico 2).
Na média das últimas três copas, o fortalecimento da carcaça casada bovina foi em torno de 10% em julho.
Na esteira, os preços mais altos do atacado favorecem o spread carne com osso/arroba da indústria, ampliando o volume de animais abatidos em junho e julho durante os anos com a competição, com ajustes em agosto (seguindo a tendência do atacado).
Perspectivas para este ano
Muito possivelmente, o efeito da Copa do Mundo deve ser menor este ano. E a paralisação pesou expressivamente para o cenário atual.
Os valores do atacado, por exemplo, foram fortemente impactados pelo período de desabastecimento, com o boi casado subindo quase 10% entre o início da paralisação e a máxima de junho. E agora se ajustam a níveis menores que o observado antes da greve.
Além disso, as exportações também sofreram quedas expressivas pela dificuldade de embarque, com os dados parciais de junho apontando para queda de 40% ante os embarques de maio.
No radar também existem os fatores macro e microeconômicos, com o último boletim Focus do Banco Central ajustando negativamente a perspectiva de crescimento do PIB pela 8º semana consecutiva. Em 30 dias, o cálculo passou de 2,37 para 1,55%.
E ainda, a pesquisa da Associação Comercial de São Paulo revelou alta de 4 p.p. para os brasileiros que não pretendem alterar o hábito de consumo durante esta Copa em relação a última competição. Com a proporção atual em 87%.
Ou seja, em meio a um cenário de incertezas, aversão ao risco, medidas protecionistas internacionalmente e consumo interno fragilizado, a Copa do Mundo não deve conseguir alterar expressivamente a dinâmica de preços.
Mas o viés para os preços pecuários continua altista, pautado especialmente no ajuste da oferta de animais na entressafra, em uma possível queda do 1º giro de confinamento, e recuperação das exportações (que sazonalmente ganham fôlego no 2º semestre, e agora com incentivo do câmbio fortalecido).
E ainda em uma gradual melhora do consumo interno (especialmente com as eleições presidenciais que podem subir o ritmo de escoamento da carne no atacado), podendo oferecer suporte ao movimento de alta.