A economia brasileira tem operado bem abaixo da sua capacidade, com uma diferença de cerca de 4,5% entre o seu Produto Interno Bruto (PIB) efetivo e o seu PIB potencial (hiato do produto).

Porém, com expansão de investimentos produtivos e redução do nível do desemprego, por exemplo, seria possível anular esse hiato no médio prazo, por volta de 2023, a partir de um crescimento médio anual do PIB de 3%. Após atingir a sua capacidade, a economia do País passaria a expandir em um ritmo mais lento, caso reformas estruturais importantes não sejam implementadas.

A avaliação é do economista do Departamento de Pesquisa Econômica (DEPEC) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guilherme Tinoco. A análise foi feita com base no estudo “O crescimento da economia brasileira 2018-2023”, realizado em co-autoria com o economista-chefe da instituição, Fábio Giambiagi.

Tinoco esclarece que as projeções foram feitas em abril, antes dos choques internos e externos de maio reduzirem as projeções de crescimento do PIB de 2018. De acordo com o Boletim Focus do Banco Central (BC), por exemplo, as expectativas caíram de 2,50% no início de maio, para 1,76%, na última segunda-feira (18).

No estudo, os economistas do BNDES partiram da premissa de que a atividade avançaria 2,5% neste ano. “Hoje, nós já trabalhamos com uma expectativa de crescimento de cerca de 1,5%”, explica Tinoco.

“De qualquer maneira, as considerações sobre o hiato do produto continuam válidas. Nossa economia, está operando bem abaixo do seu potencial”, ressalta o economista. Ele conta que as estimativas para o hiato do produto variam bastante. Enquanto o Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (Ipea) trabalha com uma projeção de 4%, por exemplo, o Instituto Fiscal Independente (IFI) prevê que o grau de ociosidade da economia brasileira gira em torno de 7%, 8%.

“Nós adotamos um número mais próximo do cálculo do Ipea, que é mais conservadora”, considera Tinoco. “Apesar da grande variação, de 4% a 8%, todas as projeções indicam que estamos trabalhando abaixo do potencial” reforça o economista do BNDES.

Fatores de ociosidade

Tinoco esclarece que o grau elevado de ociosidade da economia do País pode ser explicado pela alta taxa de desemprego e pelos níveis historicamente baixos da utilização da capacidade instalada da indústria. A desocupação ainda atinge 13,7 milhões de brasileiros, de acordo com dados mais recentes divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Por outro lado, esses dois fatores permitem que a economia tenha um crescimento inicial mais rápido, a partir da ocupação gradual da capacidade já instalada das empresas e do emprego da mão de obra desocupada. Esse processo, por sua vez, permitiria que o Brasil fechasse o seu hiato do produto no médio prazo.

Tinoco pondera que o elevado grau de incerteza, tanto na política como na economia, tem provocado atrasos nesse processo. “De qualquer forma, depois que nós conseguirmos preencher todos os fatores [de produção], ficará mais difícil expandir no mesmo ritmo. […] Se a capacidade instalada da indústria já está preenchida, você precisa elevar investimentos para conseguir crescer a uma taxa mais elevada”, afirma o economista do BNDES.

A mesma coisa ocorreria com o mercado de trabalho. Com um aumento da ocupação e queda do desemprego, as possibilidades de expansão estariam mais no aumento de produtividade do trabalhador do que na elevação das contratações. É neste contexto que entra o papel das reformas estruturais, como o investimento na qualidade da educação e a simplificação tributária.

Além disso, o estudo aponta a necessidade de reduzir os gargalos em infraestrutura, a partir da elevação dos aportes no setor. Segundo dados do Banco Mundial, entre 1990 e 2000, o Brasil investia 2,3% do PIB em infraestrutura, porcentagem que, atualmente, alcança apenas 1,4% do produto.

A continuidade de reformas fiscais que consigam controlar o avanço das despesas públicas também é essencial para que o PIB avance de forma sustentável. Um dos pontos mais preocupantes é o aumento da expectativa de vida dos brasileiros. No ano de 2010, por exemplo, havia mais de oito pessoas em idade de trabalhar para cada idoso.

Já em 2060, esse número estará próximo a dois, fazendo com que haja muito menos trabalhadores contribuindo com as aposentadorias da população mais idosa. (DCI)