A reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que termina na tarde desta quarta-feira, pode provocar volatilidade nos ativos financeiros do Brasil e de outros emergentes caso os dirigentes sinalizem que os juros devem ser elevados quatro vezes este ano, e não três como anteriormente previsto. Embora esperada, esta sinalização ainda não está totalmente precificada, avaliam gestoras de recursos ouvidas pelo Broadcast. Mesmo que o Fed não mude sua projeção para os juros, os especialistas avaliam que um discurso mais firme do BC sobre o aperto monetário neste e nos próximos anos pode trazer certo nervosismo no mercado financeiro. Ontem, o dia já foi de cautela no mercado local por conta da expectativa com a reunião.

O consenso do mercado, de casas como Morgan Stanley, Bank of America Merrill Lynch, TD Bank, Deutsche Bank e Goldman Sachs, é de que o juro será elevado hoje nos EUA. Por isso, a grande expectativa é para o chamado gráfico de pontos, que mostra a previsão de todos os dirigentes do Fed para os juros este ano e em 2019 e 2020. No gráfico anterior, da reunião de março, a sinalização era de três altas, mas com vantagem de apenas um dirigente a mais do que na projeção de quatro altas.

“De fato, o mercado já está mais atento ao potencial de quatro altas pelo Fed, que não estão totalmente precificadas”, disse o sócio de uma grande gestora. “Se acontecer, pode haver novo aumento de volatilidade nos emergentes”, afirmou. O economista pondera que o cenário brasileiro “deteriorado e recheado de incertezas” potencializa essa eventual turbulência nos preços locais. “É preocupante a cena local, com o somatório de piora fiscal, incerteza eleitoral e incapacidade do governo de entender a complexidade da atual crise, haja vista a dimensão que tomou a greve dos caminhoneiros”, disse.

Dos três mercados (ações, juros e câmbio), José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos, ressalta que o dólar pode ter as oscilações amenizadas pelo volume expressivo de contratos de swap que o Banco Central está despejando todo dia para conter a volatilidade no câmbio. Só ontem foram US$ 3 bilhões e até sexta são mais US$ 14 bilhões em dinheiro “novo”. Mesmo assim, ele projeta que o real vai seguir pressionado no Brasil, pois além da tendência de a divisa seguir se fortalecendo ante as principais moedas do mundo, o ambiente doméstico é muito incerto, sobretudo para as eleições.

Mesmo que os dirigentes do Fed não sinalizem mais altas de juros do que as já esperadas, o economista-chefe da Mapfre Investimentos, Luis Afonso Lima, avalia que um discurso mais convicto dos dirigentes sobre o processo de normalização da política monetária, por conta da forte atividade econômica e perspectiva de inflação mais alta, pode manter o dólar pressionado no exterior e aqui. Com isso, ele prevê que a tendência é que o real continue se depreciado, pois o BC parece estar ficando sem muita munição no swap. O economista acredita que o Fed vai seguir indicando três altas, mas vê chance de um discurso sinalizando mais apertos pela frente.

Para o economista-chefe da corretora Nova Futura, Pedro Paulo Silveira, se os mercados globais resolverem realizar lucros hoje, após a nova alta dos juros nos EUA, é possível que o Ibovespa caia mais, perdendo os 70 mil pontos. Ele ressalta que os fluxos internacionais de capital para emergentes “estão sob observação”, sobretudo nos mercados percebidos como mais vulneráveis. “O Brasil, sem dúvida, é um deles”, ressalta em relatório.

Pesquisa do Bank of America Merrill Lynch com gestores e investidores internacionais mostra que os dois maiores riscos para o cenário da economia mundial são, nesta ordem, aumento de tensões comerciais e aceleração da alta de juros nos Estados Unidos e na zona do euro. (AE)