O período de plantio da safra 2022/23 de soja começa com chuvas ainda irregulares no Centro-Oeste, maior área produtora do País. No Sul, embora tenha chovido recentemente e sejam esperadas novas precipitações, a preocupação é com irregularidade mais adiante, a partir de novembro, na terceira safra sob influência do fenômeno climático La Niña. Dentre os principais produtores, os primeiros Estados a ter a semeadura autorizada são Paraná, a partir de 11 de setembro, e Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a partir de 15 de setembro, conforme portaria do Ministério da Agricultura que estabeleceu os calendários de semeadura da safra 2022/23.
De acordo com o head de agricultura da Climatempo, Willians Bini, Paraná e parte de Mato Grosso do Sul têm mantido boa condição de umidade do solo com chuvas recentes, enquanto a região Centro-Oeste está bem mais seca e quente, e o solo, com capacidade hídrica mais baixa. “Pensando na região mais central do País, em Mato Grosso, Goiás, parte do norte de Mato Grosso do Sul, a chuva deve começar a ter regularização a partir da segunda quinzena de outubro”, disse. Na primeira metade de outubro as chuvas já se intensificam no oeste de Mato Grosso, e ao longo do mês, isso começa a ser observado também no restante do Centro-Oeste. A preocupação neste ano não é tanto com estiagem, segundo Bini, mas com possíveis “invernadas” (dias seguidos de chuva, com menos radiação solar e solos encharcados) ao longo da safra 2022/23.
Para as áreas mais ao Sul do País, a preocupação é com chuvas irregulares a partir de novembro. “Os modelos estão indicando possíveis períodos com irregularidade, com alguns dias de muita chuva e períodos com alguma estiagem”, disse Bini.
O agrometeorologista Marco Antonio dos Santos, da Rural Clima, ressaltou que são esperadas chuvas para a segunda metade de setembro que permitirão o plantio em algumas áreas do Centro-Oeste e Sul, mas irregulares. “Somente mais lá para meados de outubro em diante que elas engrenam”, afirma. Existe a possibilidade de atrasos iniciais no plantio logo após o fim do vazio sanitário e início do calendário de plantio, mas não tão acentuados quanto em 2020. “Estamos achando que neste ano produtores vão plantar mais ou menos dentro da normalidade.”
A safra 2022/23 será a terceira seguida sob a influência do La Niña. “Essa condição, especialmente para o Sul do País, é desfavorável, além de trazer irregularidade (de chuvas), traz volumes em média menores. Isso de ser a terceira safra seguida não acontece desde o triênio 1999, 2000 e 2001. Não é comum ter três anos seguidos de uma La Niña”, diz Bini.
Santos acredita que produtores do Sul não terão clima excepcional, mas a região não deve ter veranicos (dias seguidos de estiagem, com muito sol e calor) similares aos do último ano. Períodos entre novembro e dezembro de chuva pouco abaixo da média, contudo, podem ser observados, segundo ele.
Conforme Bini, a intensidade prevista do La Niña para novembro, dezembro e janeiro é similar à que chegou a ser atingida no ano passado, mas a perspectiva é de arrefecimento entre o primeiro e o segundo trimestres. Os modelos meteorológicos indicam que o La Niña deve terminar até o segundo trimestre, segundo o representante.