Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto

 

Com o fim da greve, o mercado caminha gradualmente para a normalização, enquanto contabilizam-se perdas iniciais e diretas ao redor de R$ 6 bilhões. Somando-se às indiretas, os prejuízos aproximam-se de R$ 10 bilhões.

Para o mercado pecuário confirmou-se a expectativa de queda do valor da arroba, o que deve atrasar em certa medida a transferência da safra para a entressafra.

O movimento negativo das cotações já era esperado pela retenção dos animais durante o período de paralisação, causando agora uma pressão vendedora na medida em que os pastos perdem suporte com a seca e pelas temperaturas mais baixas.

O gráfico 1 ilustra a movimentação do indicador do CEPEA com destaque em amarelo para o período de greve destacado em amarelo.

Observa-se que após a forte queda do indicador de 4,55% entre os dias 04 e 11 de maio, em consequência da concentração de oferta, a referência parecia ter encontrado equilíbrio com valores mais firmes.

Mas a partir do final da greve, os preços em SP recuaram para patamares menores que o registrado no início da paralisação.

Já as programações de abates que foram preservadas com a atividade da indústria suspensa, ampliaram-se na última semana com a retomada do mercado pecuário.

Destaca-se ainda que em algumas regiões, como é o caso do MS, as escalas diminuíram no final da semana pelo menor volume de negócios, mas existe disponibilidade de matéria-prima no estado.

Ou seja, a queda dos preços com ampliação das programações de abate confirma o ambiente pressionado após o período de greve.

Os valores em queda foram causados tanto pela concentração da oferta, quanto pelo embarque dos animais anteriormente negociados, sem pressionar positivamente o preço da arroba.

Por fim, destaca-se ainda o expressivo fortalecimento do valor das proteínas no atacado, levando o spread carne com osso/arroba da indústria aos maiores patamares do ano, maiores que os registrados em abril e junho/17, período de deflagração da operação Carne Fraca pela PF.

A perda de mercadoria, o desabastecimento e os drásticos ajustes de produção pressionaram expressivamente os preços no atacado.

Em 6 de junho, o boi casado atingiu o maior patamar de toda a série histórica do CEPEA, no valor de R$ 10,59/kg. Nos dias seguintes os preços cederam, e agora equivalem aos níveis observados em jan/18 e set/16.

Possivelmente, o valor da carcaça casada bovina deve perder fôlego e buscar um novo equilíbrio no curto prazo, com possível redução do spread até o final de junho (a parcial atualmente está em 9,44%).

Já o frango resfriado e a carcaça especial suína devem continuar em curva positiva, e melhorar a competição da carne bovina frente as duas proteínas.

Portanto, a chegada do período de entressafra com fortalecimento das cotações ainda deve levar mais alguns dias, mas a nova dinâmica dos preços no atacado pode favorecer os preços pagos pelo bovino terminado.

O spread da indústria deve ceder com a normalização do valor do boi casado e pela alta para o preço da arroba, muito embora ainda pode continuar trabalhando em campo positivo no curto prazo.