O acordo entre Rússia e Ucrânia para permitir a retomada das exportações de grãos ucranianos está ajudando a baixar os preços globais, mas não vai se traduzir em um grande volume de novas exportações tão cedo.

Os preços do trigo caíram na sexta-feira, com a expectativa de que a retomada dos embarques alivie uma crise global de oferta de alimentos. Os futuros de trigo negociados na Bolsa de Chicago (CBOT)caíram quase 6%, a US$ 7,59 por bushel. Após terem atingido um recorde de US$ 12,94 por bushel com o início da guerra na Ucrânia, os preços voltaram nas últimas semanas aos níveis anteriores à invasão russa. Essa queda foi motivada por preocupações crescentes com a economia global e pela probabilidade cada vez maior de um acordo. Outros fatores pressionaram as cotações, como a perspectiva de safras abundantes em outros grandes produtores, como a Rússia.

O acordo promete liberar portos em Odessa e Mykolaiv, que ainda estão sob controle de Kiev e são os principais canais de exportação de grãos da Ucrânia. Embora a Rússia tenha como alvo a infraestrutura de exportação da Ucrânia, bombardeando armazéns e silos portuários, a área de Odessa não sofreu os mesmos danos, dizem autoridades.

Analistas acreditam que, mesmo com o acordo de sexta-feira, possa levar semanas até que os portos ucranianos sejam liberados para uma navegação segura e para que os embarques de grãos comecem a fluir novamente. Também não está claro o quão dispostas as empresas globais de transporte marítimo estarão para carregar grãos ucranianos em primeiro lugar, apesar das garantias de que ambos os lados estão comprometidos em manter os navios e tripulações seguros. Supondo que as exportações comecem a sair dos portos, os volumes provavelmente serão muito menores do que os verificados antes da guerra.

“Chegar a um acordo é um primeiro passo positivo, mas muitos obstáculos ainda precisam ser superados antes que as rotas comerciais ucranianas possam se abrir novamente”, disse Ulrik Uhrenfeldt Andersen, CEO da empresa de transporte marítimo Golden Ocean Group.

O acordo chega num momento oportuno para muitos agricultores ucranianos, que começaram a colheita das safras de inverno recentemente. Rotas alternativas através de países vizinhos, como Romênia e Polônia, têm capacidade muito menor do que os portos do Mar Negro.

Atualmente, os produtos agrícolas da Ucrânia são enviados por trem e caminhão para fora do país através de suas fronteiras com a União Europeia e por meio de barcaças pelo rio Danúbio até o porto de Constanta, na Romênia. A capacidade de exportação nessas rotas é de cerca de um terço dos volumes anteriores à guerra. O maior obstáculo: os trilhos da Ucrânia têm tamanho diferente do padrão da União Europeia, o que exige que os vagões dos trens sejam levantados nas fronteiras ou que caminhões sejam usados para descarregar os grãos e continuar a viagem.

(Dow Jones Newswires)