Autoridades da Rússia, da Ucrânia e das Nações Unidas planejam assinar hoje (22) um acordo para a retomada das exportações de grãos ucranianos pelo Mar Negro, disseram autoridades turcas e da ONU. O secretário-geral da ONU, António Guterres, planejava voar para Istambul na noite desta quinta-feira. Uma autoridade da ONU disse que as partes envolvidas chegaram a um acordo, mas alertou que problemas de última hora ainda podem surgir antes da assinatura.
Rússia e Ucrânia não se pronunciaram imediatamente sobre os planos para uma cerimônia de assinatura nesta sexta-feira. Os presidentes da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e da Rússia, Vladimir Putin, pareceram otimistas em relação às negociações nos últimos dias, assim como um alto funcionário ucraniano.
“Amanhã (hoje) em Istambul, daremos o primeiro passo para resolver a atual crise alimentar com o secretário-geral da ONU, delegações ucranianas e russas”, disse o ministro de Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, em publicação no Twitter nesta quinta-feira.
Um acordo poderia liberar cerca de 18 milhões de toneladas de trigo, milho e outros grãos que a Ucrânia deixou de exportar por causa da guerra. Isso contribuiu para um aumento dos preços globais de alimentos que, segundo autoridades dos Estados Unidos, provocou protestos em 17 países.
Nos últimos dias, ainda havia diferenças substanciais entre as partes em conflito, disseram autoridades ocidentais. Se os governos chegarem a um acordo, navios privados, seguradoras e tripulações marítimas podem hesitar em movimentar cargas de Odessa e outros portos da zona de guerra, dada a ameaça de novos ataques, segundo autoridades, tradings de grãos e outros especialistas do setor.
Tanto Rússia quanto Ucrânia colocaram minas marítimas no Mar Negro que representam perigo para o deslocamento de qualquer navio na área. Delegações militares da Rússia e da Ucrânia discordaram nas conversas das últimas semanas sobre como seria feita a remoção dessas minas, disse uma autoridade dos EUA. A Ucrânia também aumentou o número de minas perto de seus portos nas últimas semanas para se defender de possíveis ataques russos, disse a autoridade.
Uma passagem segura para navios que transportam alimentos e procedimentos para revistar embarcações particulares para garantir que não estejam transportando equipamentos militares estão entre as questões a serem resolvidas. Além disso, a Ucrânia exigiu garantias de segurança internacional para evitar um ataque russo quando as minas forem removidas.
Há temores de que a Rússia volte atrás na última hora, e Washington e Ancara estão tentando pressionar o Kremlin a chegar a um acordo e implementá-lo.
Putin, ao se encontrar com Erdogan na terça-feira, agradeceu-lhe por sua mediação e disse que as negociações avançaram. “Nem todos os problemas, no entanto, foram resolvidos. Mas o fato de termos avançado já é bom”, disse Putin, segundo comentários exibidos na TV russa.
Enquanto isso, autoridades americanas destacaram nesta semana os recentes ataques russos a portos ucranianos e instalações de armazenamento de grãos como parte de sua estratégia de guerra. “Esperamos o melhor, mas vimos como Putin transforma alimentos em armas”, disse na quarta-feira José Fernandez, subsecretário de Estado dos EUA para crescimento econômico, energia e meio ambiente.
Para impulsionar as negociações, EUA e União Europeia esclareceram nos últimos dias que as sanções financeiras contra a Rússia não se aplicam ao comércio de alimentos e agricultura.
Tradings de grãos que operam na região também expressaram dúvidas de que a Rússia permitiria a exportação de grãos enquanto sua campanha militar continua a destruir fazendas, estradas, instalações de armazenamento de grãos e outras estruturas da Ucrânia.
A Ucrânia exportou cerca de 2 milhões de toneladas de grãos em junho por via terrestre e por meio de navios menores saindo do rio Danúbio para o Mar Negro, segundo autoridades ucranianas.
Além dos grãos retidos atualmente na Ucrânia como resultado da invasão, há também o desafio de como armazenar ou exportar a próxima safra de verão do país, estimada em 65 milhões de toneladas. “Estamos acompanhando desesperadamente essas negociações”, disse Ivan Kriuchkov, diretor da empresa ucraniana do agronegócio IMC. “Se os portos não abrirem, onde vamos colocar todos os nossos grãos?”