Representantes da Associação Indiana das Usinas de Açúcar (Isma) e da Associação dos Fabricantes dos Automóveis Indianos (Siam) virão ao Brasil na próxima semana para conhecer o processo de produção do etanol e a tecnologia para o desenvolvimento de veículos híbrido-flex. A comitiva será acompanhada por integrantes da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

O intercâmbio faz parte de uma parceria entre as entidades para o fomento do uso de biocombustíveis e a redução das emissões de carbono na atmosfera. “O governo indiano e os produtores estão vindo ao Brasil na semana que vem para aprender como se faz a mistura do etanol com a gasolina. Ou seja, também vão direcionar uma boa parte da cana, que hoje vai para o açúcar, para o etanol”, comentou o diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, em entrevista ao Broadcast .

Embora seja o segundo maior produtor de açúcar do mundo, a Índia não consegue converter parte considerável da cana-de-açúcar em etanol por defasagens tecnológicas. Desde 2019, a parceria com a Unica visa facilitar a mistura do biocombustível na gasolina do país e expandi-la a 20% até 2025. Segundo o adido do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em Nova Délhi, em relatório divulgado há pouco, a taxa média de mistura de etanol com petróleo na Índia é estimada em 9,3%. O país começará no segundo semestre de 2022 a produzir carros com motores flex fuel, que permitem uso de 100% do etanol.

Liderança global – Na última semana, a Índia atualizou a previsão de produção de açúcar para a atual temporada 2021/22. Segundo a Isma, a safra terá um volume de 36 milhões de toneladas. Em comentário enviado a clientes, o banco alemão Commerzbank havia afirmado que a revisão poderia desafiar “o papel, antes incontestável, do Brasil como o maior produtor de açúcar do mundo”.

Na avaliação de Padua, não há motivo para se preocupar com essas “comparações”. Ele afirma que a Índia apresenta grande volatilidade de oferta, produção e exportação de adoçante, o que sugere que essa liderança seja pontual. “O Brasil vai recuperar a produtividade quando voltar a crescer a oferta de cana e vai continuar participando, como sempre participou, em torno de 45% do mercado mundial de açúcar”, assegurou o diretor da Unica.

Padua destaca que as situações de mercado entre os dois países são completamente diferentes: enquanto o Brasil exporta dois terços da sua produção interna, a Índia exporta de 5% a 20% de sua produção. “O único país do mundo que tem condições de suprir a oferta mundial de açúcar e participar desse mercado é o Brasil. Ele vai ser sempre líder”, afirmou.

O diretor da Unica lembra que, entre as reais preocupações do Brasil no que se refere ao mercado de açúcar indiano, está o regime de subsídios que o país asiático oferta aos produtores locais como forma de estimular as exportações. “Com a ação da OMC (Organização Mundial do Comércio), pode haver uma mudança muito grande e acabar com a exportação subsidiada”, avalia o diretor da Unica em referência à decisão do órgão que considera os subsídios à exportação de açúcar da Índia uma violação do Acordo sobre Agricultura.

(Broadcast Agro)