Após três pregões consecutivos de queda, em que acumulou baixa de 3,55%, o dólar encerrou a sessão desta terça-feira, 24, em leve alta, no patamar de R$ 4,81. O pregão foi marcado por muita instabilidade, com a divisa trocando de sinal ao longo do dia, em meio à oscilação da moeda norte-americana no exterior e a ajustes de posições no mercado futuro local.
Pela manhã, o dólar desceu até a mínima de R$ 4,7765 (-0,60%), com ambiente positivo para commodities e valorização de divisas emergentes pares do real. Houve também relatos de fechamento de câmbio por exportadores.
A alta de 0,59% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de maio, acima da mediana de Projeções Broadcast (0,45%), leva o mercado a projetar extensão do ciclo de aperto monetário e taxa Selic perto de 14% – o que, em tese, aumenta a atratividade das operações de carry trade (que exploram diferencial de juros entre países).
A onda vendedora perdeu força no fim da manhã e o dólar não só trocou de sinal como correu até a máxima de R$ 4,8553 (+1,00%), com investidores ajustando posições diante da piora do ambiente externo. As taxas dos Treasuries acentuaram a queda após dados fracos do mercado imobiliário americano reacenderem temores de recessão nos Estados Unidos.
Depois uma tarde de instabilidade, em que oscilou entre R$ 4,79 e R$ 4,82, o dólar encerrou o dia cotado a R$ 4,8123, em alta de 0,14%.
O analista de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão, ressalta que o dia foi marcado por muita volatilidade, o que mostra um mercado sem convicção e mais suscetível a operações especulativas intraday. “Não houve um fato que pudesse indicar uma tendência para o dólar. Nem mesmo o IPCA-15, que sugere provavelmente mais altas da taxa de juros, mexeu muito com o mercado”, afirma Gusmão.
Após o movimento recente de queda do dólar, a taxa de câmbio tenta encontrar um patamar de acomodação. Contam a favor do real a taxa de juros doméstica gorda e provável manutenção de preços das commodities em níveis elevados, com relaxamento de medidas sanitárias na China e disposição do governo chinês em estimular a atividade.
De outro lado, episódios de aversão ao risco, diante de temores de “estagflação”, e um dólar globalmente forte em razão da alta de juros nos EUA jogam contra a moeda brasileira. Por ora, a corrida presidencial ainda não tem papel relevante na formação da taxa de câmbio, mas analistas dizem que a volatilidade deve aumentar à medida que o pleito se aproximar.
O índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – operou em queda firme ao longo do dia, ao redor dos 101,700 pontos, em nova rodada de valorização do euro e busca pelo iene.
A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse nesta terça, no Fórum Econômico Mundial em Davos, que a instituição não tem pressa em subir os juros. Ela pontuou, contudo, que a política monetária da zona do euro está em “um ponto de inflexão”. As perspectiva são de uma primeira alta dos juros na região em julho, após o BCE encerrar seu programa de compra de ativos.
Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, a apreciação recente do real se deu sobretudo pelas notícias positivas vindas da China, com reabertura econômica e anúncio de estímulos monetários e fiscais. O ambiente externo, contudo, ainda é conturbado com a perspectiva de ajuste mais rápido da política monetária americana e seus possíveis impactos na atividade, ressalta.
As vendas de moradias novas nos Estados Unidos caíram 16,6% em abril na comparação com março, bem acima da previsão dos analistas (-1,7%). Já o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto dos EUA, que engloba os setores industrial e de serviços, caiu de 56 em abril para 53,8 em maio, atingindo o menor nível em quatro meses, embora ainda indique expansão.
“Vimos um movimento de fuga do risco hoje, com as taxas dos Treasuries caindo e as bolsas em Nova York sem força”, afirma Lima, acrescentando que a nova postura do BCE contribuiu para dar algum alento ao euro e abriu espaço para uma moderação do índice DXY, após uma forte rodada de fortalecimento.
Na visão de Lima, o patamar dos preços das commodities e a taxa de juros doméstica elevada justificam uma taxa de câmbio no patamar de R$ 4,80, mas não dão sustentação a apostas de que a divisa possa retornar a R$ 4,60. Além do ambiente externo conturbado, com dúvidas sobre a extensão do aperto monetário nos EUA e o fôlego da economia chinesa, há ainda a incerteza provocada pelas eleições. “Não me parece que o dólar vai passar imune pelo debate eleitoral. Devemos ver muita volatilidade”, diz.
(Estadão Conteúdo)