O conflito na Ucrânia vem elevando os preços das principais commodities agrícolas utilizadas na indústria de alimentos, como trigo e milho, e deve levar a aumentos dos preços pagos pelo consumidor, aponta levantamento mensal da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), obtido com exclusividade pelo Broadcast Agro. A entidade lembra que os dois cereais estão entre os principais itens exportados por Rússia e Ucrânia.
“O cenário aponta para um aumento dos custos da indústria de alimentos e, consequentemente, dos preços ao consumidor”, diz o presidente da Abia, João Dornellas. O executivo pondera que é preciso seguir acompanhando os desdobramentos do conflito para avaliar a intensidade da pressão nos custos de produção. “Mantida a alta dos preços das commodities (agrícolas e energia), reduz-se a expectativa de crescimento do consumo no mercado interno”, alerta.
Conforme o levantamento, os preços do trigo devem continuar subindo. Vendido em fevereiro por R$ 1.711 a tonelada, na média, o cereal teve aumento de 35,4% de fevereiro de 2021 a fevereiro de 2022 e de 1,5% entre janeiro e fevereiro deste ano. O milho se valorizou 15,4% desde fevereiro de 2021, alcançando R$ 1.615/tonelada. Desde fevereiro, pontua a entidade, os preços internacionais continuaram reagindo de forma expressiva.
A Abia não trabalha no momento com a possibilidade de desabastecimento de trigo, tendo em vista que 87,5% do cereal importado pelo Brasil vem da Argentina. Quanto ao milho, após o recuo dos preços na primeira quinzena de fevereiro, decorrente de uma retração de compradores que passaram a utilizar seus estoques, a entidade vê tendência de alta devido ao avanço do conflito no Leste Europeu e ao fato de os países envolvidos serem grandes exportadores da commodity. “Os preços internacionais (do milho) estão subindo rapidamente, motivados principalmente pela expectativa de queda na oferta mundial”, pontua a associação em nota.
A entidade também apontou que as cotações da soja, outra matéria-prima utilizada pela indústria de alimentos, devem seguir em alta, sustentadas pela demanda interna e externa e pela redução da oferta na safra atual. Em fevereiro, a oleaginosa foi vendida, em média, a R$ 3.194 a tonelada, alta de 8,7% ante janeiro e de 18,6% no ano.
“No mercado internacional, o cenário é de preços firmes no curto prazo. A Rússia é o segundo maior exportador de petróleo e o estrangulamento de oferta resultou em aumento do preço futuro do óleo de soja, principal matéria-prima para a produção de biodiesel”, explicou o dirigente da Abia.
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