A Iniciativa para o Comércio Sustentável (IDH), o Grupo Carrefour Brasil e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) apresentam nesta terça-feira o Protocolo de Produção Sustentável de Bezerro, que reúne diretrizes para rastrear bovinos desde o nascimento e garantir a conformidade socioambiental da cadeia produtiva.
O Carrefour quer assegurar que a carne que chega ao consumidor final não seja proveniente de animais criados em áreas desmatadas ilegalmente ou com uso de trabalho escravo, por exemplo. Vale lembrar que a varejista tem sede na França, um dos países mais incisivos nas críticas à sustentabilidade da agropecuária brasileira. 
As empresas validaram as diretrizes com produtores de Mato Grosso durante dois anos. Participam do projeto 450 pecuaristas, que têm um rebanho total de 15 mil animais. A meta é chegar a 1 milhão de bovinos rastreados até 2025.
“É um projeto único no mundo. E não só pelo produto final, mas pela forma como foi feito”, afirmou Daniela Mariuzzo, diretora executiva da IDH Brasil e do Programa de Paisagens Sustentável na América Latina, ao Valor. 
Mais controle, sem preço elevado 
Um cuidado extra da múlti francesa é não tornar a carne sustentável um produto de luxo. “Queremos romper barreiras em termos de acessibilidade. Não queremos que o alto nível de controle do sistema produtivo signifique preço mais alto ao consumidor”, disse o diretor de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade do Grupo Carrefour Brasil, Lucio Vicente. 
Regras na mesa, agora começa o desenvolvimento da tecnologia que automatizará o recebimento das informações à medida em que os animais trocam de dono — algumas vezes, os bovinos passam por três produtores antes do abate, além de frigoríficos, atacadistas e varejistas. 
A Wholechain, empresa americana especializada em blockchain, será uma das parceiras nesta próxima etapa. O trabalho deve durar dez meses, segundo os organizadores do projeto. 
O coordenador dos Protocolos de Rastreabilidade do Instituto CNA, Paulo Costa, afirma que a tecnologia blockchain garantirá a segurança dos dados dos pecuaristas que aderirem ao projeto. “Documentos como a Guia de Trânsito Animal (GTA) são a conta bancária do produtor, precisam ser preservados”, observa ele. 
Auditoria externa 
Os dados serão passíveis de auditoria externa pela alemã TÜV Rheinland, que tem uma sucursal em São Paulo. “Isso aumenta a credibilidade na hora de atender mercados da Europa”, diz Costa.
Juntos, o Grupo Carrefour Brasil, a Fundação Carrefour e a IDH investiram 3,5 milhões de euros no projeto. A empresa francesa não comenta aportes futuros, mas a IDH disponibilizará 10 milhões de euros até 2025 para várias frente do projeto.
O volume maior de recursos deve ser direcionado à assistência técnica, meio pelo qual as empresas se aproximaram dos pecuaristas. “Não chegamos falando em identificar animais. [O projeto] faz parte de uma agenda anterior, em que queríamos incentivar o melhor uso do solo, por meio do aumento da produtividade das pastagens”, conta Daniella. 
O objetivo para 2022 é orientar 557 produtores, totalizando mais de 190 mil cabeças de gado, 210 mil hectares de pastagens e cerca de 188 mil hectares de área conservada nos biomas Amazônia, Cerrado e Pantanal, em Mato Grosso. 
Em 2021, o Grupo Carrefour faturou R$ 81,2 bilhões no Brasil e 80,7 bilhões de euros globalmente. A operação brasileira é a segunda maior da companhia no mundo, atrás da França, e emprega aproximadamente 100 mil pessoas.
(Valor Econômico)