Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto

 

Com exceção do Irã, todas as moedas analisadas se fortaleceram frente ao real entre abril de 2017 e o mesmo mês em 2018.

O Irã que respondeu pelo terceiro maior faturamento das exportações de carne bovina em 2017 e ampliou em mais de 50% suas importações de carne bovina in natura, agora desacelera suas compras em 31% neste primeiro trimestre de 2018.

Além de problemas políticos, relaciona-se a também, em alguma medida, a desvalorização da moeda iraniana.

Já o Chile, a China e a União Europeia viram suas moedas se valorizar mais expressivamente perante a moeda brasileira no período, algo ao redor de 20% (gráfico 1).

Destaca-se a variação positiva da moeda chilena, que levou o país a ampliar em 174% as importações de carne in natura brasileira entre o 1º tri de 2017 e de 2018 (gráfico 2).

Já o avanço da moeda chinesa frente ao real (e também frente ao dólar) combinado à forte demanda do país asiático, subiram o volume das importações de carne bovina in natura em 60% neste primeiro trimestre.

A apreciação do euro (que subiu também frente ao dólar) reflete em menor proporção em uma possível alta para as importações europeias, já que existem outros fatores importantes como barreiras comerciais e sanitárias.

Ainda assim, a Itália e a Holanda figuram entre os 10 maiores importadores de carne bovina in natura e subiram em torno de 50% suas importações nos primeiros três meses do ano.

Além disso, o fato do Brasil ser prioritariamente exportador de carne para processamento, perde competividade de acesso a alguns mercados em relação a países reconhecidos pela carne premium – a exemplo temos a Argentina, Uruguai, Austrália e EUA.

Com relação ao dólar, a moeda de praticamente todos os maiores países consumidores da matéria-prima brasileira perderam valor na comparação mensal, já que neste mês, a saída dos EUA do acordo nuclear com o Irã pressionou ainda mais positivamente a moeda norte-americana, que atingiu os R$ 3,60.

O movimento cambial se deu pelo temor de uma pressão inflacionária ainda mais acentuada nos EUA caso se confirme uma escalada do preço do petróleo (já existe uma perspectiva de alta para a inflação pelo ritmo de desenvolvimento no país). E assim, os juros podem subir de forma mais expressiva e levar ao fortalecimento da moeda norte-americana.

Ou seja, o dólar deve continuar fortalecido ao longo de 2018, e os desdobramentos das eleições ainda devem gradualmente subir a volatilidade entre o dólar e o real.

Já na comparação anual, nota-se que as moedas utilizadas pela União Europeia, pela China e pelo Egito ficam mais fortes também com relação ao dólar (gráfico 3).

Sendo especialmente a moeda dos países emergentes que perderam valor neste período.

Adiciona-se ainda que a queda da taxa básica de juros no Brasil (SELIC) aumenta a disparidade entre as duas moedas e mantém o dólar ainda mais valorizado em relação a moeda brasileira.

 

Perspectivas

O dólar deve continuar fortalecido em 2018, em grande parte devido às tensões internacionais e aos novos aumentos de juros pelo FED (possivelmente 3 novas altas devem acontecer até final do ano).

Segundo o boletim FOCUS, a expectativa é de que o câmbio encerre o ano com média de R$ 3,40, mas a projeção deverá passar por reajustes ao longo de 2018.

No curto e médio prazo o dólar deve encontrar equilíbrio acima de R$ 3,40 e com sua volatilidade em alta.

Nesses patamares, o Dólar torna o Brasil mais competitivo no mercado internacional, e considerando a demanda asiática firme combinada à sua moeda também se fortalecendo, as perspectivas se tornam positivas para os embarques brasileiros em 2018.

Espera-se retomada das importações americanas pela carne brasileira até a metade do ano, o que pode oferecer ainda melhor sustentação às cotações no 2º semestre.

Com exceção do Irã, as moedas dos outros países árabes ficaram mais fortalecidas frente ao real, mas ainda assim, o bloco diminuiu as importações pela carne brasileira neste 1º tri de 2018. Fato é que a recente disputa entre Irã e EUA pode acender um sinal amarelo de como ficará o desempenho das exportações a estes destinos.