Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Laura Rezende é média veterinária e consultora pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto
Resumo da semana:
Com a retomada das exportações para a China, o clima de otimismo tomou conta do mercado do boi gordo. A expectativa de maior escoamento de carne bovina para as exportações fez com que o preço do animal pronto para o abate se valorizasse no mercado físico. No estado de São Paulo, o boi gordo ficou avaliado na média de R$ 323,84/@, valorização de 3,12% no comparativo semanal. Vale lembrar que na última terça-feira (21/12) a cotação chegou a um novo recorde nominal no Cepea, sendo cotado a R$ 327,75/@.
A reposição também passa por um momento de alta nos preços, invernistas estão mais confiantes na venda do animal pronto para o abate e as condições das pastagens já é boa em grande parte do Brasil. O bezerro se valorizou pela terceira semana consecutiva no Mato Grosso do Sul, fechando última semana a um preço médio de R$ 3.009,43/cab, valorização de 1,16% no período.
Preocupações com as perdas de safra no sul do Brasil causadas pela seca fez com que os preços do milho avançassem no mercado físico, no Rio Grande do Sul (tradicionalmente o principal estado produtor da primeira safra do cereal) estima-se que pelo menos 40% da produção estimada seja perdida. Em Campinas/SP o cereal ficou cotado a um preço médio de R$ 88,67/sc, valorização de 1,23% ante a semana retrasada.
Com o dólar se sustentando e o avanço dos futuros na bolsa de Chicago, influenciado pelo clima seco na América do Sul, a soja passou por uma semana de valorização. No Porto de Paranaguá/PR, a oleaginosa superou a máxima dos últimos 45 dias e finalizou a quinta-feira cotada a R$ 174,44/sc, com um preço médio na semana de R$ 173,07/sc, alta de 2,53% no comparativo semanal. O movimento altista também foi visto em um dos seus principais derivados, o farelo de soja, que avançou 3,77% e ficou avaliado em R$ 2.392,51/t.
1. O boi gordo na B3
Pouca mudança de cenário da semana passada para esta semana.
O único detalhe que vale destaque e que dá ainda mais sustentação para que o boi gordo permaneça em patamares elevados é a valorização da carcaça casada no atacado paulista, que saiu do patamar de R$ 19,00/kg ao fim da semana passada e ultrapassou os R$ 20,00/kg nesta semana. No entanto, cabe a ressalva de que isso não é motivado pela melhora de demanda interna e sim por escassez ainda maior da oferta, ocasionada pela volta chinesa ao mercado brasileiro.
Mesmo com a adição deste fator positivo para a sustentação dos preços, ainda ponderamos o que avaliamos na semana passada, a janela de comercialização de gado gordo está aberta na B3:
“Diante da atual precificação dos futuros e com o frigorífico ainda relativamente “confortável” em suas escalas, não visualizamos motivo para acelerar as vendas neste momento. A tendência é que a partir da próxima semana os frigoríficos venham a sofrer maiores apertos em suas programações de abate e consequentemente a B3 responda transpondo os R$ 342,00/@, e, esse seria o primeiro acionamento de comercialização para aqueles que fecharam 50% dos animais quando recomendados a R$ 330,00/@.
Fonte: Cepea;
E por que R$ 342,00/@? Pois negociar nesse patamar é negociar dentro de um preço competitivo com Uruguai e Argentina no valor de US$ 60,00/@, sendo assim, para os que já travaram 50% dos animais do 1º trimestre, a comercialização pode ser dividida em 10% a cada R$ 3,00/@ de valorização, começando no patamar de R$ 342,00/@ através da venda de futuros. Para os que não realizaram nenhum tipo de trava, o mercado ressaltamos que no patamar atual de R$ 338,50/@ o mercado já precifica a China, e garantir esse nível de preço acreditamos ser interessante para grande parte dos pecuaristas brasileiros. Ou seja, essa operação consistiria na venda de futuros de boi gordo para os vencimentos de jan/22, fev/22 e mar/22 de maneira particionada e buscando fazer um preço médio.
Para os mais conservadores e com fluxo de caixa mais apertado, as opções simples ainda continuam caras, mas que podem proteger valores interessantes que não eram cogitados há sete dias atrás. É possível comprar PUTs para o primeiro trimestre de 2022 com strike nos R$ 305,00/@ a um custo médio de R$ 3,51/@. No entanto, considerando tal precificação acreditamos que a operação de COLLAR é mais interessante no momento atual, visto que é possível adquirir PUTs com strike nos R$ 320,00/@ gastando cerca de R$ 0,10/@ em conjunto com a venda de CALLs com strike nos R$ 355,00/@, considerando que a possibilidade de rompermos e mantermos o patamar de R$ 355,00/@ é baixa, essa é uma boa operação para aqueles com um perfil mais conservador e que busquem realizar o travamento via opções.
Assim como listamos na semana passada, reiteramos nesta semana, no espectro especulativo acreditamos que a possibilidade de compra de futuros é o que faria mais sentido neste momento. A entrada no vencimento para fev/22 no patamar de R$ 337,00/@ ainda reservaria boa probabilidade de ganhos, principalmente caso o rompimento do patamar de R$ 340,00/@ seja executado.”
O mercado do boi gordo ainda continua aquecido, mas perde um pouco da sua potência de alta, já que ainda há dúvidas se a balança de oferta e demanda se equilibraria a um patamar acima dos R$ 335,00/@.
2. Enquanto isso, no atacado…
Com os frigoríficos habilitados China com apetite grande para atender o gigante asiático, o volume de carne bovina disponibilizada ao mercado interno se reduziu, desta forma, visualizamos mais uma vez a movimentação da carcaça casada no atacado paulista sustentada pela escassez de oferta, já que, quando olhamos pelo prisma da demanda interna, o consumo ainda continua fraco. Com esse cenário, a carcaça casada bovina encerrou a semana com alta de 2,88%, sendo negociada em média a R$ 19,66/kg na semana, e há espaço para que encerra o ano acima dos R$ 20,00/kg.
Já no mercado atacadista do frango em São Paulo, a desvalorização das cotações cessou e estabilizou no R$ 6,37/kg após caminhar quase 4 meses em queda. Comparada a suas concorrentes substitutas, as proteínas bovina e suína, a competitividade dos preços está fortemente a favor do frango, principalmente com o natal “batendo à porta”, época que naturalmente aumenta a procura por cortes de aves.
No setor suinícola, as cotações registradas permaneceram praticamente estáveis essa semana, apresentando apenas valorização de 1,18% no comparativo semanal, e encerrando a sua referência em média de R$ R$ 9,83/kg. O volume de vendas concretizadas fluiu bem no atacado e no varejo, foram consideradas boas, que é o esperado nesta época de final do ano de festividades que culturalmente a procura pela proteína suína também aquece.
De modo geral, com o mercado atacadista está aquecido pelo período sazonal de encerramento do ano de 2021, no entanto, a descapitalização do consumidor brasileiro ainda penaliza a precificação de todas as proteínas animais.
3. No mercado externo
No mercado externo o destaque dessa semana vai para os dados divulgados pelo GACC (Administração Geral de Alfândegas da China) referente a importação de carne bovina da China em nov/21.
Foram 180,85 mil toneladas de proteína bovina desembarcada em solo chinês no mês passado, uma queda de 13,08% no comparativo mensal e o menor resultado dos últimos cinco meses. O maior “culpado” dessa redução é o Brasil, que viu a entrada de sua proteína reduzir 43,86% no comparativo mensal, chegando a um total de “apenas” 41,66 mil toneladas, o pior desempenho dos últimos 21 meses. ´
E quem surfou nessa saída brasileira foi Argentina e Uruguai, que viram suas participações sobre o total importado crescerem 11 e 7 p.p. no comparativo entre set/21 e nov/21. Ou seja, dois meses após os chineses consolidarem o bloqueio a carne bovina brasileira, somente agora isso é demonstrado com dados do governo chinês. Com a retomada das compras dos chineses para a carne bovina brasileira a partir do dia 15/12/2021, a tendência é que os números de dez/21 e jan/22 ainda não fiquem abaixo da média do que fora registrado durante todo o ano de 2021.
Fonte: GACC;
4.O destaque da semana
Após a volta chinesa os frigoríficos que estavam confortáveis e com escalas alongadas, com foco em atender principalmente o mercado interno, na última semana já começaram a demonstrar interesse na compra de animais para exportar para a China, aumentando as ofertas pelos animais que atendiam aos padrões chineses. O pecuarista, por sua vez, diminuiu o interesse na venda dos animais com expectativa de que a arroba se valorize ainda mais e venha a comercializar a melhores preços. Assim, observamos uma semana com valorização da arroba no mercado físico, menor volume de negócios realizados e encurtamento das escalas nos frigoríficos.
Fonte: Cepea; Elagro; Agrifatto;
E esse desempenho forte nos últimas dias pode ser explicado pela boa competitividade que o boi gordo brasileiro alcançou frente aos seus principais concorrentes. O Brasil fecha o ano com seu animal custando em média US$ 3,79/kg, valorizando 7,93% no comparativo com jan/21. Essa movimentação tímida para cima destoa dos demais competidores, como Uruguai, Argentina e Austrália que viram seus bovinos valorizarem mais de 32% nos últimos doze meses.
Com o dólar no patamar de R$ 5,70 ainda sobra espaço para que o boi gordo brasileiro se valorize e continue competitivo frente aos seus principais competidores. A originação de proteína bovina por parte dos importadores deve ficar mais atenta a movimentação de preços do boi gordo no Brasil, que está sendo estimulado pelo dólar. A grande trava para que o boi gordo consiga avançar ainda mais em sua caminhada de valorização neste momento é o mercado interno que sofre para conseguir pagar mais de R$ 20,00/kg na carcaça casada.