Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Laura Rezende é média veterinária e consultora pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto
Resumo da semana:
Com os produtores mais confortáveis em negociar os seus animais e as escalas voltando a avançar pelo país, a pressão altista no mercado físico deixou de acontecer durante a semana e ao fim da quinta-feira, os valores ofertados pelos frigoríficos já eram menores que os de terça-feira. Ainda assim, o preço médio semanal do boi gordo no estado de São Paulo ficou em R$ 320,60/@, valorizando 1,11% no comparativo semanal e se estabelecendo como o maior valor nominal de toda a série histórica semanal.
Com as pastagens já recuperadas em grande parte dos estados e demanda por boi gordo aquecida, durante a última semana a reposição passou por valorização. No estado do Mato Grosso do Sul, o bezerro foi vendido a um preço médio de R$ 2.904,64/cab, acumulando uma alta de 2,84% no comparativo semanal. Este é o maior valor desde ago/21, ainda assim, nota-se que o ágio do bezerro frente ao boi gordo está se encaminhando para a média histórica.
Influenciado pela valorização no mercado internacional e pela seca no Rio Grande do Sul, principal estado produtor do milho primeira safra do Brasil, o preço do milho avançou no mercado físico brasileiro. Em Campinas/SP, o cereal foi negociado a um preço médio de R$ 84,78/sc, avançando 1,65% ante a semana retrasada e atingindo o maior valor dos últimos 30 dias.
O cenário de aversão ao risco, devido a preocupações com os possíveis impactos da variante Ômicron do coronavírus na economia global, fez com que o dólar fechasse a última sexta-feira em seu maior valor desde abril deste ano. A moeda americana encerrou a semana cotada a R$ 5,68, alta de 1,72% ante a sexta-feira retrasada.
1. O boi gordo na B3
Foguete tem ré?
Brincadeira a parte, após semanas consecutivas de valorização com o boi gordo imprimindo alta de mais de R$ 60,00/@ no mercado físico paulista, o freio de mão foi puxado intensamente no mercado futuro e o indicador Cepea fechou a sexta-feira de maneira surpreendente, já que após bater recorde na quinta-feira (R$ 324,35/@), encerrou a semana recuando 1,62% no comparativo semanal, ficando cotado a R$ 312,95/@ na sexta-feira.
Na B3, o vencimento com maior liquidez (dez/21) encerrou a semana cotado a R$ 315,45/@ recuando 4,63% no comparativo semanal. A movimentação intensa continua a impressionar, na mesma intensidade em que foi observado a alta, a queda se mostrou. O contrato para jan/22 que apresenta o maior valor para o primeiro semestre de 2022, chegou a ser negociado a R$ 337,50/@ na terça-feira e na sexta-feira bateu o valor de R$ 318,00/@ (mínima do dia), variação de mais de 5% em menos de três dias.
Fonte: B3;
E a resposta para isso está em dois fatores: alongamento das escalas e atacado emperrado. Com o pagamento nos R$ 330,00/@ durante a segunda e terça-feira, as escalas nos frigoríficos paulistas alongaram ainda mais (de 7 para 11 dias), fazendo com que as indústrias recuassem das compras e oferecessem valores menores no animal. A oferta atual em São Paulo ronda os R$ 315,00/@. E, o segundo fator se encaixa aqui, com escalas bem compostas, só um fator poderia acelerar os frigoríficos a comprar mais, o desempenho das vendas de carne bovina no atacado. E, como já vínhamos observando desde o início da segunda quinzena de nov/21, os relatos não são animadores, devoluções de cargas, tentativa de imprimir quedas sobre a carcaça e estoques crescentes nos fazem crer em uma grande dificuldade de que a arroba volte aos R$ 330,00/@ sustentada apenas no mercado interno.
O único fato que poderia nos levar de volta aos R$ 330,00/@ novamente seria a volta da China nesta semana, apesar do burburinho e comentários recentes, ainda não há nada oficial sobre quando eles retornaram as compras de carne bovina brasileira.
Sobre a recomendação de hedge: para aqueles que seguiram a recomendação da semana passada e fecharam 50% dos animais a serem abatidos no 1º trimestre de 2022 próximo aos R$ 330,00/@, vemos que o momento é de aguardar para realizar novos negócios. Com o mercado volátil e estressado é comum que a precificação futura exagere e como a porcentagem protegida já garantiria uma boa rentabilidade, o ideal neste momento é voltar aos negócios somente se a arroba no mercado futuro voltar a ser negociada acima dos R$ 330,00/@.
Para aqueles que estão descobertos, ou seja, que não negociaram nada dos seus bovinos para o 1º trimestre de 2022, ainda visualizamos que a precificação a R$ 320,00/@ é interessante, principalmente quando se compara as precificações dos últimos meses, seria negociar próximo as máximas nominais de 2021.
E por que isso pode ser um bom negócio para o primeiro trimestre de 2022? Estamos nos aproximando de uma virada de ciclo pecuário (que poderia resultar em uma oferta levemente melhor), além disso, o consumo de proteína bovina tende a ser pior neste período do ano do que agora (nov-dez/21) e ainda assim, a B3 oferece preços em linha com os atuais. Desta forma, para aqueles que não fizeram nenhuma proteção na semana passada, os volumes (50% dos animais a serem abatidos) e as formas de negociação podem ser consideradas as mesmas.
“Diante de todas as formas de negociações via B3 que encontramos atualmente para garantir um bom patamar de preço, a venda de futuros continua sendo a mais interessante. Desta forma, acreditamos que comercializar via venda de contratos futuros de boi gordo para jan/22, fev/22 e mar/22 seja uma das opções mais interessantes para aqueles que planejam abater seus animais nesses meses. A referência para negócio nos R$ 320,00/@, se apresenta como uma boa opção de trava para 50% dos animais. Para o restante do rebanho, deixamos em aberto, aguardando possíveis novidades vindas da China referente a uma reabertura das compras.
O mercado de opções simples está praticamente inviável, diante da volatilidade nas máximas históricas (24%-26%). No entanto, para aqueles que querem gastar pouco e ainda assim estar protegido contra catástrofes, é possível adquirir PUTs de R$ 280,00/@ gastando menos de R$ 1,00/@.
A montagem de uma operação estruturada é o movimento que nos parece mais interessante diante do que é oferecido atualmente no mercado de opções.
Desta forma, acreditamos que a operação de COLLAR (compra de PUT – venda de CALL), seja uma forma interessante de operar com opções a um custo baixo e ainda sim ficar exposto a uma alta leve do boi gordo. Para exemplificar essa operação ela seria feita da seguinte forma (considerando a operação para os meses de jan/22, fev/22 e mar/22):
Compra de PUT com strike nos R$ 302,00/@, custo médio de R$ 7,79/@
Venda de CALL com strike médio nos R$ 336,00/@, custo médio de R$ 7,84/@
Custo total: R$ 0,05/@.
Essa operação garantiria receber o mínimo de R$ 302,00/@ pelo seu animal e abriria a possibilidade de surfar em uma possível alta até os R$ 336,00/@, ou seja, fica exposto a uma queda de 3,77% frente o futuro atual (R$ 317,98/@) e a uma alta de 5,7%. Cabe a ressalva de que essa posição pode exigir depósito de margem e que se caso o animal ultrapasse os R$ 336,00/@, o detentor deixa de surfar na alta. ”
No espectro especulativo, optamos por permanecer fora de recomendações nesta semana diante da falta de atratividade de risco-retorno dado pelo mercado atual. Ainda assim, estamos de olho em exageros que possam acontecer na desvalorização do boi gordo na B3, e qualquer preço abaixo de R$ 305,00/@ (que venha a acontecer durante a semana) pode representar uma oportunidade de compra especulativa.
O termômetro do boi gordo esfria diante das atuais condições, e, só poderá ser reaquecido com uma volta contundente chinesa as compras da carne bovina brasileira
2. Enquanto isso, no atacado…
Na semana que se passou, o mercado atacadista paulista de carne bovina não apresentou o desempenho esperado para a primeira semana do mês nas vendas, mesmo com o pagamento dos salários reforçados pela primeira parcela do 13º. Consequentemente, observou-se uma oferta de mercadorias superior a demanda dos varejistas, o que levou a sobras e devoluções. O resultado desta morosidade, foi um mercado estagnado, com a carcaça casada bovina encerrando a semana cotada na média de R$ 19,71/kg, recuando 0,30% no comparativo semanal, considerando que estamos na primeira semana do mês, este é um resultado que levanta preocupações sobre a liquidez da proteína bovina neste patamar.
As cotações da carne de frango em São Paulo seguiram recuando, devido a lentidão das vendas. Como a oferta se apresentou de forma abundante, os agentes de mercado reduziram ainda mais os preços, no intuito de aumentar o escoamento nas prateleiras, ainda mais com a proximidade das festas de final de ano, momento em que a procura por proteínas tende a aumentar. Neste cenário, o frango resfriado encerrou a sexta-feira cotado em média de R$ 6,62/kg, desvalorizando -6,38% no comparativo semanal e atingindo o menor nível desde a primeira semana de jun/21.
Diferentemente das semanas anteriores, o mercado da proteína suína operou com as vendas mais tímidas esta semana. Com isso, houve leve retração na procura dos cortes suínos, levando a um enfraquecimento das cotações devido as ofertas mais folgadas e a concorrência acirrada com o frango. Com isso, a carcaça especial suína encerrou a semana cotada em média de R$ 10,59/kg, recuando 0,51% no comparativo semanal.
De modo geral, o mercado atacadista não mostrou ter a força de consumo que se esperava nesta primeira semana do mês, não só para a proteína bovina, mas para as concorrentes também. A capitalização da massa assalariada com a parcela do decimo terceiro em mãos, não foi suficiente para concretizar a melhora das vendas e consequentemente escoamento das mercadorias nas prateleiras do varejo, levando agora a uma visão mais pessimista para os próximos dias.
3. No mercado externo
As exportações de carne bovina in natura iniciaram dez/21 acelerando o ritmo. Durante os 3 primeiros dias úteis do mês corrente, uma média de 5,29 mil toneladas da proteína bovina foram embarcadas diariamente, volume 23,76% superior ao que foi visto na média diária de nov/21. Até o momento, 15,86 mil toneladas da proteína vermelha foram exportadas, 18,38% menos que o mesmo período no ano passado.
O preço pago pela tonelada ficou na casa dos US$ 4,81 mil, desvalorizando 2,23% no comparativo com o mês de nov/21. Com isso as vendas externas do produto geraram uma receita de US$ 76,34 milhões, montante equivalente a 11,89% de todo dez/20, quando a carne bovina in natura era comercializada a um preço 6,37% inferior.
As exportações de milho fecharam os três primeiros dias úteis de dez/21 em 412,6 mil toneladas, uma média de 137,53 mil ton/dia, ritmo 8,73% superior à média do mês passado. A um preço médio de US$ 228,3 mil/ton, as vendas externas do cereal consolidaram um montante de US$ 94,19 milhões, volume correspondente a 10,16% de todo o dez/20, quando a tonelada era avaliada em US$ 190,90.
Já as importações do cereal começaram o mês perdendo forças. Com uma média diária de 15,47 mil toneladas, as compras internacionais do cereal somaram em 46,40 mil toneladas neste início de dezembro, queda de 52,70% ante a média diária de nov/21. O preço pago pelo milho no mercado internacional ficou em US$ 237,70/ton, com isso, foi realizado um investimento de US$ 11,03 milhões para as compras internacionais do período, montante equivalente a 28,58% de todo o dez/20, quando a tonelada valia US$ 156,60.
Com uma média de 104,63 mil toneladas exportadas diariamente, os embarques de soja iniciaram dez/21 reduzindo o ritmo comparado ao mês anterior. Durante os três primeiros dias úteis do mês, o volume de 313,91 mil toneladas da oleaginosa deixaram o Brasil, queda de 23,15% ante a média diária de nov/21, mas o volume exportado no período já supera em 14,53% todo dez/20.
A soja foi comercializada no mercado internacional a US$ 483,7/ton, recuo de 5,31% ante a média de nov/21. Até o momento, um montante de US$ 151,82 milhões foi arrecadado com as vendas externas da oleaginosa, valor 1,5 vezes maior do que todo dez/20, quando a tonelada era avaliada em US$ 378,30.
4. O destaque da semana
Na última semana, o Indea-MT divulgou os dados de bovinos abatidos no estado no mês de nov/21 e após dois meses consecutivos com os abates totais flertando com as mínimas dos últimos dez anos, o total de bovinos abatidos em Mato Grosso cresceu de forma consistente e fechou nov/21 com um total de 448,19 mil cabeças encaminhadas a linha de abate, crescendo 16,00% no comparativo mensal. Além disso, é a primeira vez em 2021 que um mês fecha com crescimento no comparativo anual, ou seja, nov/21 teve um resultado 13,93% maior que nov/20.
Fonte: Indea-MT; Agrifatto;
Visualizamos que este crescimento pode ter sido fruto da decisão dos pecuaristas em postergarem ao máximo a decisão de abate durante os meses de set/21 e out/21, e, com a melhora do preço do boi gordo sustentado pela movimentação da carcaça bovina no atacado, a decisão de abater finalmente aconteceu em nov/21.
Cabe a ressalva de que o incremento no abate veio puxado pelos machos, que aumentaram em 15,74% no comparativo mensal, chegando a um total de 328,98 mil, o maior montante dos últimos 13 meses. Enquanto isso as fêmeas atingiram um volume de 119,21 mil cabeças, com uma participação de 26,60% no mês de nov/21, a menor participação para um mês de novembro da história.
Fonte: Indea-MT; Agrifatto;